Esta semana, António Rolo Duarte, um puto de 23 anos, foi ao programa "Prós e Contras", da RTP, e teve o desplante de dizer que as universidades portuguesas são uma "anedota" e uma "tragédia". A sua intervenção foi feita no âmbito do tema "o que mudou em Portugal com o 25 de Abril", onde vários convidados discutiam para que direção caminhávamos política e socialmente.
Graças a Deus que existe uma coisa chamada redes sociais. Em poucos minutos, os gladiadores de teclado apressaram-se a traçar um perfil deste menino. Para começar, é filho do jornalista Pedro Rolo Duarte — portanto, é óbvio que é rico e não sabe o que é trabalhar. Está a estudar na Universidade de Cambridge. É preciso dizer mais alguma coisa? É óbvio que está "cheio de papel", alguma vez lá chegava por mérito?
Ainda não acabámos — isto piora. Está a tirar que curso? Filosofia. Tudo explicado, o curso dos inúteis. Se fosse Engenharia Mecânica ou Medicina ainda se percebia, agora Filosofia? Estamos obviamente perante um desprezível membro da elite que acha que vai virar pensador a debitar postas de pescada como esta.
Estou obviamente a ser irónica — pelo menos ao insinuar que concordo com alguma destas coisas, porque infelizmente nas redes sociais foi mesmo este o perfil que se traçou.
Esta semana António Rolo Duarte foi ao programa "Prós e Contras", da RTP, e aquilo que eu vi foi um miúdo inteligente, determinado e com ideias, que consegue debater um tema sério com tanto afinco como muitos jovens de hoje em dia discutem a vida de Cristina Ferreira ou a Casa dos Segredos. Se tem razão em tudo o que disse? Não. Se é de louvar a coragem de falar sem medos num Portugal (ainda) avesso à mudança? Sem dúvida.
As universidades portuguesas não são todas uma anedota. António Rolo Duarte tem um fervor próprio da idade, que tende a ver o mundo a preto e branco. É bonito que assim seja, tenho saudades desse entusiasmo de quem divide o mundo em apenas duas faces, mas está errado. O mundo é preto, branco, azul e amarelo, que é o mesmo que dizer que não, nem todas as universidades são uma anedota. E mesmo quando a universidade no geral pode ser considerada uma anedota, há ótimos profissionais que escapam no meio do caos. E é preciso não esquecê-lo.
E esta é a única coisa que eu não concordo com António Rolo Duarte. De resto, têm a certeza de que ele está enganado? Os críticos disseram que ele não andou nas universidades portuguesas, logo não pode falar sobre elas. Pois bem, eu andei numa universidade portuguesa, e há muitos anos que recebo estudantes que andaram nas mais variadas universidades portuguesas. Sabem que mais? Há cursos muito mauzinhos neste País.
Em muitos sentidos, a minha universidade foi uma anedota: 90% das minhas cadeiras eram pura e simplesmente teóricas, o pensamento crítico era aniquilado e a base da aprendizagem consistia em decorar e chapar. Tive professores que me obrigaram a comprar livros, algumas vezes escritos por eles — sempre engraçado —, outros punham as turmas a recolher dados para usarem nos seus artigos científicos.
Aprendi o que é o Modelo de Lasswell, a Teoria Hipodérmica, que Charles Sanders Peirce foi pioneiro na ciência da semiótica e que existe uma enorme variedade de correntes sociológicas. Hoje já não me lembro de nada disto, mas também não há problema — no meu dia a dia, saber isso não me serve para nada. Também fui uma estrela a fazer biografias durante três anos. Acham que foi fácil? Cada professor tinha a sua mania, e bastava uma vírgula fora do sítio para cair o Carmo e a Trindade. Hoje não seria capaz de fazer uma biografia nem que a minha vida dependesse disso, mas também não faz mal — mais uma vez, foi absolutamente inútil.
Também tive professores extraordinários e aulas cujo programa estava claramente adaptado ao século XXI, e em que nos incentivaram a pensar e a refletir num mundo onde nem sempre há uma resposta certa. Mas eles foram a exceção e não a regra.
E estas mesmas histórias que vos conto aqui, foram repetidas por dezenas e dezenas de estagiários ao longo dos meus anos de carreira. Não vamos ser nacionalistas, fechar os olhos e dizer que está tudo bem. Temos profissionais maravilhosos? Temos. Temos faculdades incríveis? Sem dúvida. Mas podemos melhorar muito mais ainda.
O pensamento formatado faz parte da grande maioria dos sistemas de ensino, português e não só. Mas a universidade tem a obrigação de ser diferente, de impulsionar o pensamento crítico, de estimular a criatividade, de desafiar as normas. Tem a obrigação de oferecer uma oferta mais vasta aos estudantes, de lhes dar mais oportunidades de aprendizagem. Em três anos, aquilo que eu vi foi, em muitos sentidos, uma máquina de fazer dinheiro — onde todos lucravam menos os pais dos alunos, que estavam a investir tudo o que tinham e não tinham na formação dos filhos.
Não deveria ser assim. É que, infelizmente, esta anedota não tem piada nenhuma.
Esta semana, Ana Luísa Bernardino sentou-se à conversa com o ex-ministro da Economia, António Bagão Felix. Da botânica a uma sociedade cada vez mais individualista, sem esquecer a evolução tecnológica ou o futuro incerto das próximas gerações, foram muitos os tópicos de conversa. Vale a pena ler. Já Inês Ribeiro conta-nos a história de três homens que têm profissões mais associadas às mulheres. Há quem se queixe de descriminação — e diga que ainda lhe dão menos confiança por ser homem.
"A Guerra dos Tronos" regressou com mais um episódio, e foi a vez do deputado do Bloco de Esquerda analisá-lo. José Manuel Pureza garante que estamos perante a iminência do fim, onde os jogos de poder valem pouco. É esperar para ver o que acontece. Na televisão portuguesa uma jovem foi criticada por Manuel Moura dos Santos, e a MAGG foi falar com uma psicóloga para perceber se este género de exposição deixa marcas.
Mas há mais. No mundo do Social explicamos porque é que William e Harry podem mesmo estar de costas voltadas, na secção de Moda temos 20 sugestões de peças com laços para a primavera (estão na moda) e na Política contamos-lhe quem são as mulheres dos candidatos às eleições espanholas. A psicóloga da MAGG respondeu a mais uma pergunta de um leitor e a nossa Maggie mostra-nos uma marca portuguesa que tem a cerâmica com mais estilo de sempre.
Até para a semana.
*Contrariamente ao que foi avançado, António Rolo Duarte não está a tirar um curso de Filosofia mas sim de Relações Internacionais e Política.