Não há nada que me assuste mais numa redação de lifestyle do que um estagiário sedento por ir a apresentações. Salvo as devidas exceções dos inocentes — isto é, daqueles que nem sabem bem o que é uma apresentação —, quando alguém começa a demonstrar um entusiasmo excessivo para ir a tudo e mais alguma coisa, as minhas sirenes interiores começam a apitar. Não é difícil perceber porquê: aquele estagiário (ou jornalista, infelizmente também os há) já sabe que 30 minutos de sorrisos e conversa de elevador terminam com um saquinho.
O saquinho é algo apetitoso: tanto pode vir cheio de perfumes como de cremes, com sapatos ou um telemóvel de última geração. Melhor ainda: um vale para gastar uma quantia simpática no que eles quiserem. Maravilhoso.
Vamos pôr os pontos nos i’s: neste jogo não há inocentes. Já recebi muitas ofertas de marcas, da mesma forma que já fui atrás delas. A diferença prende-se no objetivo por detrás dessa corrida — e a maratona fica seriamente comprometida quando na reta final estão as nossas ambições pessoais ao invés do leitor.
Não é tudo preto e branco. Não é por irmos a uma apresentação que temos obrigação de escrever alguma coisa — isso queriam as marcas, mas felizmente o nosso trabalho é ir ao encontro dos interesses dos leitores. Já mudei ângulos em cima do joelho porque a situação assim o exigiu, da mesma forma que já deixei cair trabalhos porque não havia sumo. Faz parte.
Um jornalista da área de lifestyle escreve sobre restaurantes, hotéis e produtos. Não só, felizmente, mas é uma parte importante do seu trabalho. Somos nós que aconselhamos, de forma isenta de interesses e de pressões, os restaurantes, hotéis e produtos que valem a pena. As marcas mostram-nos esses produtos e serviços, sejam eles uma viagem até às Maurícias, uma mala Chanel ou um novo menu num restaurante de 10€. Ao jornalista cabe escrutinar tudo ao pormenor. Tem que o fazer para saber se o vai aconselhar mais tarde ao leitor.
Ou não. Esta parte dói, e a mim pessoalmente valeu-me muitas discussões ao longo da minha carreira. Mas se não é esse o objetivo do trabalho, sobretudo quando falamos de consumo, qual é?
Volto a repetir que nem sempre é fácil. É necessário experimentar para conhecer o mercado, mas é preciso equilibrar entre aquilo que tem interesse editorial, no momento ou no futuro, com o fascínio da vida boa. É que os jornalistas ganham mal mas conseguem ter uma vida supimpa se não tiverem escrúpulos. E eu não quero ter nenhum jornalista na minha alçada que seja assim, da mesma forma que me debato eticamente todos os dias com este assunto.
Já me alonguei mais do que queria, mas é de facto um tema complexo — tanto que sinto que não disse metade do que queria. Mas este editorial tem um objetivo, e não é apenas falar sobre apresentações e jornalistas.
Depois de muitas horas ao telefone, esta semana a jornalista Ana Luísa Bernardino traçou um perfil de Alexandre Alves Ferreira, um homem que alegadamente enganou celebridades, agências e jornalistas durante anos.
Segundo o que as fontes revelaram à Ana, Alexandre inventava cargos importantes para receber produtos à borla — e às vezes até dinheiro. Chegou a fingir ser assessor de Marcelo Rebelo de Sousa e agente de Júlia Pinheiro, Catarina Furtado, Maria João Bastos, até de Anna Wintour, editora-chefe da edição americana da “Vogue”, a revista de moda mais conceituada do mundo.
Estamos perante uma situação que, a comprovarem-se as acusações, é indubitavelmente de burla. Mas a verdade é que esta burla durou três anos, talvez mais. Toda a gente sabia quem ele era, tornou-se uma "anedota entre as pessoas do meio". Foi preciso escalar para tentativas de extorsão de dinheiro para "ajudar" pessoas necessitadas, e ser usado o nome de Marcelo Rebelo de Sousa, para o caso chegar ao Ministério Público.
Percebo que isto possa ter acontecido. Mas gostava que esta história nos deixasse a todos mais alerta, com a garantia de que tudo faremos para que não se volte a repetir. A burla não pode ser leve nem sustentável, seja ela praticada por alguém dentro ou de fora do meio. Burla é burla, e burla é crime.
Que tenhamos todos mais consciência e ética sobre o assunto. Que discutamos mais vezes sobre o facto de isto existir e do que podemos fazer juntos para o combater.
Como já apelei aqui tantas vezes, que falemos. Mas que nunca deixemos passar impune. Repito: burla é burla. E burla é crime.
Esta semana, Marta Cerqueira esteve à conversa com Mário Zambujal. Aos 83 anos, o autor da eterna “Crónica dos Bons Malandros” tem um novo livro, que foi o mote para uma entrevista sobre a escrita, a noite, as mulheres e a vida. A vida que não quer que acabe. Vale a pena ler. Já Luísa Pinto Vale foi ouvir histórias de quem viu os pais divorciarem-se e garante que não foi um trauma. Margarida, Isabel e Sónia dizem até que foi a melhor coisa que lhes aconteceu. Mais difícil do que a separação foi só mesmo lidar com os olhares de pena das pessoas à volta.
Filipa Novais falou com Rui Marques, o jovem que se tornou viral depois de falhar uma pergunta básica no programa "Mental Samurai". O rapaz de 21 anos garante que repetia tudo de novo, até porque já cumpriu o sonho de ir ao "Você na TV!" e é reconhecido na rua.
Há mais. Depois de uma corrida por Lisboa, Rafaela Simões descobriu o Top 10 dos melhores bagels da cidade. Mariana Leão Costa passou uma semana a fazer o percurso casa-redação-casa de pijama e o resultado é um vídeo hilariante.
E ficam estes exemplos, só para dar um sneak peek do que foi a semana — mais abaixo pode descobrir outros temas que marcaram a atualidade da nossa revista. Qualquer dúvida, questão ou comentário, estou por aqui.
Até para a semana.