Tinha 29 anos quando tive o meu primeiro ataque de pânico. Aconteceu dentro do metro, a caminho do trabalho, e foi um dos momentos mais assustadores da minha vida. Quando saí da carruagem tinha o corpo a tremer, a respiração alterada, o coração a bater descompassado e a certeza absoluta de que ia morrer.

Foi o primeiro de muitos, infelizmente, e demorou algum tempo até a situação ficar controlada. Quase um ano depois, não tenho qualquer dúvida de que foi um dos períodos mais negros de sempre. Mas também me ensinou muita coisa, conforme expliquei num artigo publicado em março.

Foi na semana passada que comecei à procura de testemunhos de pais que tinham crianças com uma depressão. A quantidade de notícias sobre suicídio infantil, em particular nos Estados Unidos, tinha-me deixado com a sensação de que era preciso perceber se isto também era um problema em Portugal. Quando consegui finalmente os primeiros contactos, a depressão não existia — mas a ansiedade e ataques de pânico eram um problema real.

Alexandre teve um ataque de pânico aos 8 anos. Duarte (nome fictício) tinha apenas 6. Depois de publicar este artigo, recebi um email de uma leitora que me contou a história da sua filha — a pequena Inês (nome fictício) tinha 4 anos quando foi diagnosticada com o transtorno de ansiedade.

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Fiquei em choque. Quando achava que era impossível descermos da faixa etária dos 6 anos, já por si extremamente assustadora, percebo que afinal ainda há pior.

4 anos.

Aprender a lidar com a ansiedade e ataques de pânico é terrível. No meu caso, nos primeiros dias não conseguia ouvir ninguém a falar alto, tinha de tapar os ouvidos quando passava uma ambulância, deixei de andar de metro ou de frequentar espaços com muitas pessoas. Tudo me metia confusão, até ver uma série ou ouvir música.

Mas eu estou prestes a fazer 30 anos. Tenho maturidade suficiente para saber interpretar o que se passa, para analisar o que posso mudar e incorporar estratégias de resolução do problema. Eles não deviam ter de lidar com isso. Tiveram que o fazer, infelizmente: Duarte anda sempre com um saco de papel para o ajudar a respirar em períodos mais ansiosos, Alexandre teve de tomar medicação.

Não vamos poder mudar isso, infelizmente. No entanto, todos podemos ajudar se continuarmos a falar sobre o assunto. O que salvou estas crianças de passarem por um período ainda mais conturbado foi a rapidez com que os pais agiram. Todos eles souberam reconhecer os sinais e procurar a ajuda necessária. Rejeitaram as acusações de que os miúdos eram apenas mimados — sim, houve acusações dessas —, conseguiram explicar aos filhos que eles não iam morrer e agiram.

Continuemos a falar. Continuemos a explicar ao mundo o que é ansiedade, o que é um ataque de pânico e que vai ficar tudo bem. Que é difícil, que é complicado, mas que é um sinal de alerta de que precisamos de mudar alguma coisa. E, quando aprendermos a olhar para nós, e por nós, o mundo fica um bocadinho melhor.

Ainda na área da saúde, esta semana a jornalista Catarina Ballestero sentou-se à conversa com Miguel Arriaga, chefe da divisão de estilos de vida saudáveis da Direção-Geral da Saúde. Das urgências cheias à vacinação, falaram ainda sobre o problema das informações duvidosas e dos principais grupos de risco.

Há mais. Esta semana contamos-lhe a história que está a deixar Espanha emocionada: morreu Antonio Javier Cepillo Boluda, o pediatra que fazia as crianças com cancro sorrir. Conhecido como o "Capitão Otimista", foi vítima da doença que ajudava a tratar. Tinha apenas 36 anos.

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Nos Estados Unidos, o grande tema em destaque é o envolvimento de Allison Mack na seita sexual que escravizava mulheres. A atriz de "Smallville" recrutou as vítimas e teve a ideia de as mutilar e marcar como gado. A pena de prisão pode chegar aos 40 anos.

No dia em que o mundo viu pela primeira vez um buraco negro, revelamos-lhe também o que aconteceria se caísse num. Spoiler alert: não vai avançar anos sem nunca envelhecer, tal como aconteceu a Matthew McConaughey (“True Detective”) em “Interstellar”.

Para quem quer saber as últimas da socialite portuguesa, explicamos-lhe o que se está a passar entre Luciana Abreu e a SIC, e ainda abordamos a capa da revista de Cristina Ferreira, que causou polémica nas redes sociais. Será que mostrar as mamas não é sinal de liberdade ou nós é que ainda somos muito conservadores? Duas especialistas explicam.

Mais abaixo, deixo outras sugestões de artigos para ler este fim de semana, com ideias de programas, coisas para fazer, ver, comer, experimentar. Qualquer coisa, dúvida, um só um olá, estou aqui: martamiranda@magg.pt Até sexta e bom fim de semana.