Se Pedro Boucherie Mendes fosse um dos Sete Anões da Branca de Neve, ninguém tem dúvidas qual seria. O eterno jurado de "Ídolos", atual diretor de conteúdos digitais de entretenimento da SIC e comentador dos programas "Irritações" e "Pop Up" (podcast de cultura pop do Observador) esteve esta semana no olho do furacão (leia-se, nas tendências do Twitter) por ter, digamos assim, miguelmilhãozado. Eu explico: à semelhança do que o fundador da Prozis fez há uns meses, Boucherie escolheu a rede social menos adequada para rants - o Linkedin - para escrever umas cenas. As cenas são uma espécie de 10 mandamentos para a Geração Z, uma espécie de pano encharcado nas trombas de um Deus Neoliberal à juventude mandriona que só quer beber kombuchas e ganhar mais do que o ordenado mínimo. O alinhamento normal do concerto de um artista que está há demasiado tempo a fazer a mesma coisa e se sente demasiado confortável na vida, podendo assim ser condescendente e paternalista com "a malta nova".
Eu gosto de Pedro Boucherie Mendes. Gosto de o ouvir no "Pop Up" (já o "Irritações" é um formato insuportável, uma "Noite da Má Língua" da Wish, onde se continua a achar, ao pior estilo anos 90, que opinião é igual a arrogância, snobeira e prepotência a roçar a má educação), gosto de me rir com a sua por vezes irritante, por vezes hilariante, sobranceria, e gosto de me irritar quando discordo profundamente das suas opiniões. Independentemente de achar que o post do Linkedin (entretanto apagado) foi uma miguelmilhãozice, Boucherie Mendes é uma das pessoas em Portugal que mais percebe de televisão (da linear ao streaming), embora às vezes se calhar lhe faça falta beber uma kombucha para relaxar. E é por isso que, em honra de Pedro Boucherie Mendes, do Twitter, e das polémicas de verão, elaborei a minha lista de 10 conselhos. E sim, voltamos descaradamente a violar a temática desta crónica, os 4 parágrafos... mas não será isso também amazing?
10 conselhos mais ou menos amazing de quem anda há muitos anos a virar frangos
- amazing é achar que a palavra amazing é trendy quando, na realidade, é apenas usada por empreendedores de meia idade recém-divorciados com a mania de que são modernos, daqueles que vão para o Urban de calças de ganga El Charro e camisa branca a ver-se o fio com crucifixo de prata e ficam de copo de gin a escorrer água para as mãos e a olhar de forma creepy para miúdas com idade para serem filhas deles;
- amazing é sempre terem existido velhos do Restelo (às vezes literalmente do Restelo) que dizem que as gerações mais novas estão perdidas / são malandras / não dão valor ao dinheiro / etc;
- amazing é por um bocado de bicarbonato de sódio na água de cozer legumes para ficarem com a cor bem viçosa;
- amazing é não trabalhar 14 horas por dia, ir para as redes sociais escrever merdas azeiteiras como "work hard / play hard" e depois chegar aos 40 anos com um esgotamento emocional e físico, colesterol nos píncaros, vida emocional de merda mas, de facto, uma conta bancária choruda, uma segunda casa de férias onde a mulher (que odiamos) exigiu que comprássemos e filhos que mal vemos e secretamente nos odeiam (mas não o dizem porque precisam de nós para comprar o último modelo do iPhone);
- amazing é realmente ser bem sucedido e não ter de estar sempre a puxar dos galões e ir para as redes sociais tipo Linkedin dizer que se é bem sucedido, enumerando os 550 projetos onde exercermos um cargo em inglês mas onde, na realidade, deixámos o heavy lifting para os mais novos;
- amazing é saber que colocar papel mata borrão em cima de uma nódoa de cera e, depois, passar com o ferro de engomar por cima funciona mesmo (mas depois convém lavar logo senão fica mancha);
- amazing é perceber que vivemos em 2023 e não em 1992, em que havia emprego para toda a gente, financiamento para toda a gente, casas para toda a gente (independentemente de, tal como hoje em dia, o "toda a gente" fosse circunscrito aos grandes centros urbanos e, no resto do País, se passassem realidades absolutamente hediondas como o trabalho infantil antes e, agora, o trabalho escravo feito por imigrantes);
- amazing é estrelar um ovo, botar por cima do arroz de polvo, quebrar a gema e misturar tudo. É mesmo bom;
- amazing é dividir a casa com mais 5 pessoas, ter quase 30 anos, não ter privacidade nem perspectivas de tal e, ainda assim, aparecer a horas e sorridente num trabalho em que se é explorado, não se é reconhecido e se tem, regra geral, mais talento e aptidão do que qualquer superior hierárquico que, por ter nascido no tempo das vacas gordas, ter comprado carro e casa aos 25 anos, acha que é o enviado de Deus à terra (embora nem editar um vídeo no CapCut saiba);
- amazing é a pizza com ananás da Lupita Pizzaria.