A partir de amanhã, 1 de janeiro, começa um dos anos mais complexos da democracia portuguesa. Há eleições regionais nos Açores a 4 de fevereiro, eleições legislativas antecipadas a 10 de março e eleições europeias a 9 de junho. As únicas que estavam agendadas serão as últimas a acontecer, provavelmente com um xadrez político completamente diferente do atual. Ou não.
Sou uma otimista cautelosa, mas estou extremamente pessimista com o que aí vem. Não só pelo panorama económico (a possibilidade de uma recessão europeia é real), não só pelos dois principais conflitos internacionais que não dão sinais de abrandamento (guerra na Ucrânia e conflito Israel-Hamas), não só pela real possibilidade de Donald Trump voltar à Casa Branca, mas também pela incerteza política que nos espera.
Estas são as primeiras eleições da minha vida em que os líderes políticos não são pessoas que têm idade para serem meus pais, tios ou até avós. Estas são as primeiras eleições em que as pessoas que vou ajudar a eleger têm a minha idade. E se eu passei 40 anos da minha vida a admirar alguns dos políticos que lideraram o País, olho para os que estão à frente dos partidos e nenhum me inspira. Nenhum me faz ter esperança. Nenhum tem aquele je ne sais quoi que nos faz acreditar que, com aquela pessoa, as coisas podem melhorar.
André Ventura é exatamente da minha idade. Nasceu em 1983 e fará, tal como eu, 41 anos em 2024. É nas mãos dele, líder de um partido de extrema-direita, que poderá estar o poder de viabilizar uma nova legislatura, e se isso não são razões para uma pessoa ficar apreensiva quanto ao futuro, não sei quais poderão ser.
Nos partidos mais moderados, o cenário não é muito mais inspirador. Pedro Nuno Santos, que já é apontado como putativo futuro ocupante de São Bento, tem carisma de sobra, mas falta-lhe preparação. Falta-lhe postura de estadista. Falta-lhe serenidade. Luís Montenegro, por oposição, nunca conseguiu chegar a afirmar-se e parece estar sempre com um pé fora da liderança do PSD, permanentemente assombrado pelo fantasma de Pedro Passos Coelho. A Iniciativa Liberal é uma sombra do que já foi, sem a figura competente e carismática de João Cotrim de Figueiredo. Mariana Mortágua não conseguiu trazer de volta o espírito combativo do Bloco de Esquerda, Paulo Raimundo não existe, sequer. Rui Tavares e Inês Sousa Real são os seus próprios partidos e não se vislumbra, nem no Livre nem no PAN, outras figuras que pudessem eventualmente suceder-lhes.
Governos minoritários, coligações frágeis, uma possível nova dissolução da Assembleia da República. Tudo cenários plausíveis e que irão fragilizar ainda mais um País que, devido à inflação e à crise no setor da habitação, tem uma fatia preocupante da população remediada a correr o perigo de empobrecimento sem precedentes desde o final do Estado Novo.
No ano em que celebramos cinco décadas de democracia, o meu único desejo é que todos os que podem exerçam o mais precioso direito que Abril nos trouxe: o de sermos nós a decidirmos o nosso futuro. A 10 de março, temos de votar. Por nós, pelos outros, por todos.