Sempre fui uma pessoa impulsiva, que fazia e dizia muita coisa sem pensar duas vezes. À medida que fui crescendo aprendi a ponderar melhor sobre as minhas ações mas, a maior de todas, ainda é um verdadeiro problema para mim: ir às compras.

Sempre fui a menina que adora roupa, apelidada de vaidosa pela maior parte da minha família. E gostava de usar o título com orgulho. A partir dos 13 anos comecei a comprar alguma da minha roupa sozinha, mas sempre às escondidas da minha mãe para que não percebesse que tinha gasto o dinheiro que os tios me tinham dado no aniversário. Quando fiz 16 anos ela desistiu e lá ia eu, com amigas, até ao Vasco da Gama gastar o dinheiro que tinha guardado. Lembro-me de o usar sempre até ao último cêntimo: fazia as contas meticulosamente e gastava tudo, nem que fosse em alguma coisa que custava 2€ (e de que eu não precisava), só para ter a sensação de dever cumprido.

Na maior parte das vezes comprava, não porque precisava, mas porque tinha achado a peça bonita no manequim. E, quando experimentava, mesmo que não me ficasse bem, pensava que quando chegasse a casa e usasse com outra camisola, outros sapatos ou um cinto, me ia ficar mesmo bem. Escusado será dizer que era raro usar a roupa nova mais do que duas ou três vezes.

Quando cresci e comecei a perceber realmente o valor do dinheiro, e que afinal não podia ir às compras todos os meses, pensava duas vezes antes de comprar alguma coisa. Vou usar isto mais do que duas vezes? Fica-me bem? Vale a pena o dinheiro que custa?

E, para que isto possa acontecer, é preciso ter alguns truques na hora de acalmar o "eu impulsivo" que grita "tens de comprar" cada vez que vê uma peça de roupa, uma mala ou uns sapatos lindos de morrer.

Regra número um: se não tem dinheiro para gastar, não entre na loja

É a regra de ouro que todos os viciados em compras devem seguir para deixar de o ser: se não quer gastar dinheiro não entre na loja, nem para ver a última coleção nem para olhar só mais uma vez para os sapatos que anda a namorar há dois meses nem só para ver o que há de novo. O mais certo é sair de lá com alguma coisa: há sempre uns brincos que convenientemente estava mesmo a precisar e só custam 5,99€, (que na verdade são 6€ mas que em geral arredondamos antes para baixo dizendo sempre "oh, são só 5€") ou uma t-shirt branca, igual a todas as outras já penduradas no armário de casa, com uma frase tão gira que não dá para resistir.

Compras online: um perigo silencioso

Já me aconteceu (mais do que uma vez) estar apenas a navegar por lojas de roupa online, a adicionar coisas, quase que em transe e inconsciente, ao carrinho. Quando dou por mim já estou a clicar no botão que diz confirmar, no PayPal. À conta desta brincadeira já ultrapassei duas vezes o plafond do cartão de crédito sem me aperceber (e acreditem que não é nada divertido a quantidade de taxas que os bancos cobram quando isto acontece).

É tão fácil fazer compras online que se torna perigoso: nem se vê o dinheiro que se gasta, especialmente quando se paga com cartão de crédito. Por isso, arranjei mais um truque: para além de não visitar lojas online quando não tenho dinheiro para gastar, deixei de pagar com cartão de crédito. Parecendo que não, ele gasta muito mais dinheiro do aquele que queremos.

Comprar com dinheiro é mais fácil e ajuda a gastar menos dinheiro

Tal como o cartão de crédito, o cartão de multibanco pode ser um inimigo na hora de gastar dinheiro: é mais fácil passar o cartão, carregar OK, introduzir o código, pegar no saco e sair. Nem se vê o dinheiro a ir embora. Quantas vezes já não me aconteceu gastar muito mais do que estava à espera por não ter noção dos números: são 20€ aqui mais 30 ali e penso que só gastei 50€ mas, afinal, eram 26€ e 34€, e já gastei 60€. Se pagar com dinheiro fica mais fácil manter-me dentro do orçamento: levanto a quantia exata de quanto quero gastar e, quando acabar, não posso comprar mais nada.

Saldos: os desastres que acontecem quando pensamos que está tudo baratíssimo

Sim, os saldos, a altura mais bonita do ano. É impossível resistir a um bom dia de compras quando a maior parte das lojas tem descontos entre os 30% e os 70%. Para quem adora uma boa pechincha (eu), ver preços a vermelho é a melhor sensação do mundo. Só há um problema: a compulsividade tende a crescer nestas alturas. Está tudo tão barato que não dá para decidir.

Todos os anos, por causa dos saldos, fico com roupa que nunca usei e que continua com etiquetas. Portanto, e porque cada cêntimo conta quando queremos poupar, aprendi algumas coisas: não posso comprar só porque está barato; é preciso experimentar por mais longa que seja a fila porque, se comprar, vou acabar por não trocar mesmo que fique mal; tenho de perceber se o preço é justo (se custava 50€, mesmo que esteja a 40€ pode ser caro para a peça que é) e quantas vezes tenho de a usar para valer a pena comprá-la (se pagar 20€ tenho de a usar, no mínimo, 20 vezes).

Não esteja com pressa quando fizer compras

O ditado popular diz que a pressa é inimiga da perfeição e eu acrescento: é inimiga da carteira. Quando se está apressado e com outras coisas na cabeça, comprar por impulso torna-se muito fácil. Além disso, quando não há tempo para visitar mais do que uma ou duas lojas à procura da melhor peça e do melhor preço, comprar o que está à mão pode ser um erro: pode acabar por não usar mais do que uma ou duas vezes, ou mesmo aperceber-se, no dia a seguir, que afinal não gosta assim tanto dela.

Não vai ao supermercado quando está com fome? Também não vá às compras quando não gosta do que traz vestido

Toda a gente sabe que não se deve ir ao supermercado com fome: vai acabar por comprar mais comida do que aquela que precisa, e provavelmente mais guloseimas. A mesma regra aplica-se à roupa: comprar roupa num dia em que não gosta do que traz vestido tem mais ou menos o mesmo efeito. Vai-lhe apetecer comprar tudo novo: uma camisola, umas calças, botas e até as meias.

Consegui aperceber-me disto porque, sempre que vou às compras com uma roupa mais velha ou usada, penso "já tenho isto há algum tempo, precisa de uma reforma, vou comprar qualquer coisa parecida", e acabo por ficar com peças de roupa quase duplicadas no armário, como é o caso das calças brancas: tenho mais de cinco pares, e são quase todas iguais.