
Um grande amigo que celebrou o seu aniversário há poucos dias, recebeu de outro a seguinte mensagem. “Estimado…Reúnes imensos amigos à tua volta o que revela bem a bonomia da tua natureza”. Uma mensagem simples mas tão bonita e reveladora do que podemos ser uns para os outros.
Na multiplicidade de pessoas e personagens que passam pela nossa vida, há os que preferem a bonomia e outros que preferem a agressividade como conceito de atração, muitas vezes artificialmente ligado ao risco, ao prazer mais profundo e à luta e motivação que todos precisamos para que os nossos dias não resvalem para a monotonia.
Parece que quando escolhemos os instáveis, os que não respeitam ou que têm atitudes menos afáveis, nos colocam numa situação de prazer um pouco estranha, do desafio e do permanente estímulo de correr atrás. É quase sempre um erro que acabamos por pagar mais tarde, por perdermos pessoas que são importantes para nós e que nos tratavam bem ou porque passamos por situações difíceis e delicadas com quem não merecia o melhor que tínhamos para oferecer.
Para sermos lideres e transportarmos uma aura de respeito à nossa volta, não precisamos de ser implacáveis nem autoritários, da mesma forma que sermos fortes e exigentes não significa termos que nos impor através da força ou descarregar energias em quem não tem a culpa das nossas frustrações ou angustias. Entregarmos estabilidade, confiança e equilíbrio não é nem tem que ser um caminho para a monotonia e uma relação saudável não implica que não seja também desafiante, apaixonante, criativa e arrebatadora.
A magia das relações humanas, acredito eu, vem através das boas práticas e dos valores certos, do altruísmo e da empatia. Não vem seguramente do que nos deixa tristes, desequilibrados ou ansiosos embora aparentemente a nossa forma de ser possa intuir isso mesmo. A tranquilidade, a boa disposição e a capacidade de querermos partilhar a nossa historia com alguém, vem ou (devia vir) da vontade que temos de fazer bem, de facilitarmos a vida dos outros e de lhes provocarmos sentimentos bons e sensações ainda melhores.
Quando nós ferimos ou atacamos outra pessoa, sem querer estamo-nos a atacar a nós próprios e permitir que nos ataquem ou nos firam sem fazermos as malas e irmos embora no minuto seguinte é também demonstração de que não estamos bem e precisamos de ajuda.
Na semana que passou recebemos a triste notícia da partida prematura da Teresa Caeiro, que nunca conheci pessoalmente mas que por onde passava destilava simpatia e delicadeza. Segundo alguns relatos, a situação pode ter sido resultado de maus tratos provenientes de uma relação tóxica que como acontece com tantas outras mulheres lhe tirou a chama, a vontade e a alegria de viver. Se assim foi é só mais um dos muitos casos a que assistimos impávidos e serenos, à nossa volta, de pessoas que permanecem impunes mesmo quando perpetuam atitudes desprezíveis, se fazem valer da tal força ou do mistério da atração pela agressividade.
Normalmente entram de mansinho, sedutores e galantes para aos poucos, quando a “presa” se encontra indefesa lhes começarem a roubar a alma através de pequenos momentos de ofensa e de indiferença, primeiro psicológica, depois física. E a pessoa ali fica, com vergonha dela própria, sem capacidade para reagir, para gritar ou fugir.
Vai continuar a ser assim, quem escolha a agressividade como aparente atração. Eu acredito que é na bonomia que está a verdadeira razão dos que se gostam, dos que se atraem e querem viver coisas juntos. Porque a felicidade vem dos momentos bons, das pequenas surpresas no dia a dia, do cuidado e da atenção mas também da forma como conseguimos acrescentar e sermos melhores através de quem nos acompanha.
O tempo acaba por nos mostrar sempre isso. De uma forma mágica, outras vezes trágica.