Os leitores perguntam, a psicóloga Sara Ferreira responde. É assim todas as semanas. Saúde, amor, sexo, carreira, filhos — seja qual for o tema, a nossa especialista sabe como ajudar. Para enviar as suas perguntas, procure-nos nos Stories do Instagram da MAGG.
Querida leitora,
A sua questão não é bem uma questão. Interpreto-a mais como um pedido latente de ajuda. Face ao quê? Não sei, não explicita, mas talvez pelo facto de sentir e perceber que o “não estar a saber lidar com a vida adulta” está de alguma forma a fazê-la estagnar, quem sabe estacionar, enfim, talvez até mesmo um retroceder na vida que se poderia supor anódino mas que – à medida que o tempo avança (e se já chegou aos 30, parabéns!) – começa a revelar mais os contornos de uma cismaria que a faz engolir os dias em "suave" desespero nas golfadas agridoces da costumeira sopa da pedra servida à boca pela mão de determinada situação.
Não sei qual é a sua “situação”, ou, em particular, aquela que mais lhe trará desconforto em relação ao que me diz, mas de acordo com os “parâmetros” mais típicos, na nossa cultura, para definir alguém que não “entrou na idade adulta”, algo me sugere que a leitora permanecerá ainda na casa dos seus pais? Não é financeira nem emocionalmente independente deles? Não casou ou tem filhos? Enfim, estes eram até há umas (poucas) décadas atrás aquilo que a sociedade esperava de um ser “adulto”.
Agora, olhe para estas imagens aqui e diga-me se hoje as coisas são ou não (bem) diferentes:
Ambos os senhores presentes nestas imagens estavam na casa dos seus 20 anos à data dos respetivos retratos. Mas note que, se aos 20 anos, uma pessoa já fosse pai, tivesse um rancho de filhos, possuísse um negócio próspero, tivesse 3 diplomas, versasse em assuntos de política, fosse mecenas de arte, despoletasse revoluções industriais e não fosse um hipster, um phubber ou um geek, não haveria pressa em protestar. Leve em consideração que tudo tem as suas exceções e que as escolhas são deles, de acordo com a conceção de ciclo de vida familiar, do contexto socio-cultural mais amplo em que viveram/vivem, etc., e de mais ninguém.
Você já deve ter ouvido falar em termos como baby boomers, geração X, millenials e geração Z. É assim que os especialistas classificam as gerações, de acordo com o seu comportamento em relação a temas como família, consumo, mercado de trabalho, entre outros.
Vale a pena pincelar aqui apenas um pouco de história. De acordo com os dados, até ao início do século XX não havia o período chamado adolescência. Até os 17 anos de idade, as pessoas eram consideradas crianças e, na noite do seu aniversário de 18 anos, recebiam um pesado presente: a responsabilidade de formar uma família e os desejos de uma independência financeira imediata.
Foi apenas em 1904, graças ao trabalho científico de um psicólogo (o alemão G. Stanley Hall intitulado “A adolescência”) que a comunidade mundial começou a pensar, pela primeira vez, nesse fenómeno. Foi Hall quem descreveu a adolescência como um período de “tempestade e tensão”, acrescentando ao estudo diagramas ilustrados sobre as mudanças dos graus de tristeza e a rebeldia típica da idade. Só então os adolescentes começaram a ser vistos não como crianças ou seres preguiçosos e rebeldes, mas como pessoas “que estão a passar pelo espinhoso processo do amadurecimento”. Na verdade, “adolescer” significa “adoecer”. É uma idade em que se “adoece” no corpo, na mente e no espírito (quem foi que disse que “cheirava a espírito adolescente”?). Exato, crescer dói. Mas faz tão bem.
A verdade é que cada vez mais pessoas aparentemente crescidas teimam em continuar a viver como adolescentes e já não existem referências claras e precisas sobre o que é hoje ser adulto e comportar-se como tal.
Elas fazem parte de um grupo que anda com uma certa dificuldade – para não dizer aversão – de encarar a vida adulta como ela é “conhecida”. Aquela vida “chata”, mas inevitável, cheia de responsabilidades e as suas consequências. Como, por exemplo, fazer a própria cama, por a descongelar comida de véspera para poder cozinhá-la no dia seguinte, trocar a lâmpada do candeeiro da sala, lembrar-se de pagar o seguro do carro e de entregar o IRS a horas, por um fato e gravata quando é necessário, concordar e acordar em estabelecer vínculos verdadeiros e de mão dupla com os outros, etc. Ou seja, aceitar com alguma naturalidade uma certa maturidade que a vida por si só lhe possa dar e assumir (sem se acobardar com isso) o controlo pelo seu destino e responder pelas escolhas que faz ou deixa de fazer.
Mas debaixo do teto e “proteção” dos pais, é bem mais difícil saber onde fica o contador do gás, não é verdade?...
Não, não tenho 50 anos, ainda estou nos meus 30. E se isto lhe parece um discurso de “gente careta”, cuidado! Você também pode ser aquilo que hoje já tem um nome: adultescente (o “famoso” síndrome de Peter Pan).
Porém, vejamos. Se a adolescência tem idade certa para começar, ou a entrada na puberdade, por volta dos 11/12 anos, a questão é que ela não tem idade para terminar. Por isso é que nas culturas primitivas, existiam rituais de passagem, justamente para marcar a diferença entre jovens e adultos. Nestas culturas, a expressão “crescer dói” era levada mesmo à letra! Muitos desses rituais dolorosos (para nós, ocidentais, um autêntico show de horrores, para eles uma extasiática celebração…) ainda hoje são promovidos em diversas etnias pelo globo, mas são considerados indispensáveis para a entrada no convívio com os mais velhos.
Por diversas razões que agora não elencarei (ficaria aqui a escrever até 2020), o ponto é que as sociedades mais complexas acabaram por criar, em muitos casos, uma cultura de proteção excessiva às crianças e adolescentes, que acaba por não os preparar para a “vida adulta”. Cada vez mais, é comum na nossa cultura os pais assumirem toda a responsabilidade pelos filhos durante muito tempo, tornando-os adultos infantilizados. Portanto, é muito mais confortável continuar debaixo das asas de quem resolve tudo sem que tenhamos que mexer um palito, concorda? No entanto, ser adulto é não apenas correr riscos como também assumir o preço desses riscos... e saber saborear, no fim do dia, o travo meloso, com um bom vinho velho, de se saber robusto o suficiente e protagonista da própria vida.
Não faz assim tanto tempo (há coisa de 30 ou 40 anos atrás) que as opções de estilo de vida eram um tanto ou quanto restritas. As mulheres eram educadas para se casarem e terem filhos. Os homens, para serem chefes de família e manterem um emprego e serem os provedores do lar. Quando atingiam esse ponto, voilá, tornavam-se “automaticamente” adultos aos olhos de todos. Aqueles que fugissem desse padrão causavam certa estranheza ou mesmo indignação.
A questão é que nos dias de hoje – e ainda bem! – a sociedade permite-nos outras escolhas que não são mais marginalizadas. É perfeitamente possível não casar, trocar de emprego a qualquer momento, não ter filhos, deixar a faculdade para mais tarde, ou mesmo nem ingressar nela, morar fora do país, em vários países. Enfim, o leque de opções é infinito. Isso é bom, por um lado, uma vez que a vida passou a ser menos restritiva, Mas, por outro, parece ter agudizado o “paradoxo da escolha” (que é o que acontece quando “paralisamos” face a inúmeras opções, ao invés de isso nos estimular a avançar por alguma) e acentuado uma cultura do transitório, do descartável, algo mais típico do comportamento adolescente, não tão preocupado (ou mesmo preparado) para grandes responsabilizações.
Hoje em dia é comum uma apetência pelos “grab’s & go’s” da vida nos seus mais diversos aspetos. A ideia de compromisso não é sexy e as perspectivas de longo prazo são muitas vezes rejeitadas, uma vez que isso implica renúncias, concessões, tolerância, paciência e, principalmente, maturidade emocional.
Mas então, de que falamos quando falamos em “entrar na vida adulta”? Ou melhor, se me permite (e esta é talvez “a” sua questão), afinal de contas (e coa breca!) o que é isso de se ser adulto?!
Bem, regra geral, temos uma falsa ilusão de que ao completar 18 anos se inicia a vida adulta, já que somos responsáveis legais pelos nossos atos. Muitos acham-se semi-prontos e ao completarem 30 anos o ciclo de suposição fecha-se e nada mais precisa ser feito para avançar, já que os estudos e a vida profissional, para a maioria, estão traçados. (I mean, LOL).
Grande engano. O processo, na verdade, é bem mais gradual, variando bastante para cada um de nós. Psicologicamente, a maior parte das pessoas não está formada com os pré-requisitos básicos que uma vida emocional adulta exige.
No meu trabalho clínico, recebo pessoas que trazem problemas pessoais, profissionais, familiares e amorosos. Ouço sempre com atenção a descrição dos problemas para tentar perceber até que ponto aquele problema é realmente um impasse real ou uma cortina de fumo para uma questão mais séria e profunda. Se não, entenda.
Ouvi uma vez...
Jovem de 25 anos: "Não perco mordomias, só saio da casa da minha mãe quando eu me casar."
Eu: "Sim, deixar a casa de uma mãe para se hospedar na casa de outra".
Numa outra situação…
Eu: “Como é a relação com os seus pais?”
Mulher solteira com 37 anos: “Boa, maravilhosa, eles dão-me tudo e mais alguma coisa, são óptimos.”
Eu: “E isso é bom?”
Numa outra situação ainda…
Homem: “A minha ex-psicóloga disse-me que o facto de eu não conseguir ter nenhum relacionamento amoroso tinha ligação com os meus pais, não gostei do que ouvi e vim pedir uma segunda opinião.”
Eu: “Mora com eles aos 42 anos?”
Ele: “Sim.”
Eu: “Talvez tenha que buscar uma terceira opinião.”
A leitora consegue perceber o que é que estas 3 situações têm em comum?
Trata-se de pessoas adultas que têm uma relação infantilizada, com dependência emocional, financeira e existencial dos pais. E com uma agravante: nem se davam conta de que as suas vidas estavam empancadas por conta disso.
Se a leitora tem 30 anos e ainda não se sente preparada para “lidar com a vida adulta”, deixe-me dizer-lhe que é assim que o mundo dos crescidos a vê quando você bate o pé e diz que tem toda a razão.
Antes de se enfurecer comigo, deixe-me explicar. O relacionamento com os pais é quase como um funcionalismo público (aquela visão estereotipada), isto é, pode deixar a pessoa emocionalmente acomodada por ser um tipo de atividade vitalícia e sem avaliação de desempenho, quase incondicional em que tudo vale.
O ser humano é um animal que prolonga a sua infância ao máximo. No reino animal, é aquele, aliás, que precisa de cuidados continuados e por mais tempo, desde que nasce até que se autonomiza efetivamente. Muitos juvenis (os jovens animais) como os lobos, os elefantes, os golfinhos ou os leões, por exemplo, ao entrarem na “idade certa”, afastam-se do grupo de origem para finalmente se tornarem adultos e construírem a sua nova família por outras bandas. Já a espécie humana é a única que mantém vínculos familiares “tecnicamente” para sempre – muitos, inclusive, não chegam a sair nunca das suas primeiras casas. Na natureza, se o animal estiver num contexto ameaçador, ele também não busca autonomia, não se destaca do grupo, prolonga a sua dependência ao lado dos progenitores. Entre nós, podemos dizer o mesmo: se teoricamente não há empregos, não há perspetivas de um relacionamento mais sério (compromisso), ou se o relacionamento fracassou, se nos sentimos excessivamente dependentes emocionalmente dos pais (a meu ver, esta é a razão principal), se de alguma forma interiorizamos a ideia de que sem eles não conseguiremos sobreviver ou solucionar os nossos problemas, se a situação do mercado está difícil lá fora ou se ____(inserir qualquer outro motivo)____, continuamos na casa de nossos pais até que tudo “melhore”.
Pense na relação de um pai ou mãe com um filho/filha já adulto. Certamente não é uma relação de adulto-adulto, no sentido de “equiparados”. Isto é, é algo que simula isso, mas vem da ordem de adulto-criança. Mesmo que os dois lados relutem e se debatam nessa ideia, o ponto é que por mais adultos que até sejam, para os pais os filhos sempre serão crianças frágeis ou indefesas. Afinal, os pais são os pais e os filhos são os seus filhos…
Este tipo de estrutura relacional pode criar debilidades subtis na maneira de atuar no mundo, de uma forma geral. É como se fosse um hábito psicológico condicionado (um vício, em muitos casos) de subconscientemente já esperarem que as pessoas lhe ofereçam sempre algo de especial e privilegiado a elas pelo simples facto de existirem.
Acostumados a que a mãe simplesmente adivinhasse quando ele ou ela fez cocó e a fralda está suja, os adultos-criança ou adultescentes pensam que todos (sejam pessoas, ou instituições) são assim. Costumam achar que pelo simples facto de terem pensado ou desejado algo, a outra pessoa tem a obrigação de adivinhar e fazer. Mas se alguém consegue esse prodígio, nunca é o suficiente, pois não foi exactamente do jeitinho que o bebé queria (nem ele sabe bem o que quer).
Os adultos conseguem perguntar-se a si mesmos o que querem da vida. E como consequência, aprendem a pedir educadamente, desprendidos do resultado, afinal ninguém é seu escravo. Em última análise, sabem negociar condições para que todos saiam a ganhar.
No mundo dos adultos, um relacionamento amoroso é de outra ordem, parece-se mais com um empreendimento onde não há garantias, é preciso algum investimento inicial, dedicação contínua, análise de resultados, trocas de experiências, feedbacks e quase não tiramos férias, afinal não podemos deitar-nos à sombra da bananeira num cenário onde não há certezas e a variação de mercado é uma constante.
Uma pessoa excessivamente habituada aos “mimos” da sua relação com os pais, dificilmente consegue adaptar-se a uma relação amorosa, em que à partida é esperado que haja um dar e um receber, numa relação de mão dupla, de co-responsabilidade e parceria. Se vai para uma relação e espera as mesmas coisas ou oferece o mesmo desempenho que tem com os genitores, é difícil (para não dizer impossível) criar as bases saudáveis de um relacionamento com reciprocidade, ou seja, adulto.
Então, quando a leitora me diz que “cheguei aos 30 anos e não estou a saber lidar com a vida adulta”, na verdade o que me está a dizer é que provavelmente se sente inadequada em viver num mundo feito a partir das regras, parcerias e acordos (implícitos ou explícitos) de uma lógica adulta e que obedeça a dinâmicas correspondentes a isso.
Porém, deixe-me contar-lhe um segredo.
Amadurecer, tornar-se gente grande, não precisa ser algo obrigatoriamente chato, como os adultescentes adoram pensar. É óbvio que os adultos se podem divertir à grande, soltar uma ou outra risada histérica, vestir as cuecas na cabeça, saltar ao pé cochinho e rebolar pelo chão (especial e deliciosamente se tiverem filhos, que são uma óptima forma de (re)acordarmos a criança interna, dentro de nós).
Mas existe uma diferença do ponto de vista emocional – e é isso que conta.
Noutras palavras, uma pessoa que efetivamente passou da fase da adolescência para a fase adulta é aquela que adquiriu a capacidade de tomar conta da própria vida, de responsabilizar-se por si mesma e por aqueles que precisam dela.
Não, ninguém é obrigado a deixar de “curtir a vida”, ser carrancudo, cultivar a barriga de cerveja ou começar a ouvir Cliff Richards para entrar no “enfadonho” mundo dos adultos. Também não precisa casar, ter filhos, um emprego estável com contrato sem termo, aturar as bisbilhotices da sogra ou ir ao domingo ao Jardim Zoológico dar comida aos macacos.
Nada disso define uma pessoa madura. Essas são apenas escolhas de um determinado estilo de vida, que ficou impregnado na nossa mente como o estereótipo de adulto.
“Então, ser adulto é ser um sujeito que trabalha honestamente pelo país, é chefe de família e tem filhos?”. Também não, porque como saber se ele, nos bastidores, não tem atitudes infantis (como, por exemplo, manter amantes, humilhar a esposa, fugir ao fisco ou puxar o tapete dos colegas de trabalho)? Diga-me a leitora: na sua opinião, esse indivíduo continuaria a ser “adulto” mesmo assim?
O que importa realmente não é a aparência, muito menos a escolha do estilo de vida. Então, quer saber o que é que vale mesmo nisto de se ser (ou não) adulto?
O que importa é a maturidade emocional. E isso um surfista ou um bartender tatuado podem ter muito mais do que um empresário bem-sucedido ou um político engravatado.
Então, para ter as alegrias da vida adulta é preciso usar dos mecanismos apropriados que só os adultos possuem. E estes mecanismos passam essencialmente pelos seguintes eixos:
- Autonomia x Dependência
- Saber lidar com níveis de complexidade crescentes na vida
- Direcionamento pessoal
- Egoísmo x Altruísmo
- Moral diferenciada
- Personalidade individuada
- Suster paradoxos difíceis da vida
- Rotas de solução
- Gerir eficazmente a sua própria vida
- Negociação interna x externa
- Problemas (enfrentamento x fuga)
- Responsabilidades
Se quiser que aprofunde cada um destes eixos, envie-me um e-mail a dizer Olá.
Sobre o último eixo a que me referi (o da “responsabilidade”), acrescentar apenas que, por incrível que pareça aos olhos de alguns, as pessoas adultas não têm medo de perder a liberdade por causa das responsabilidades ou da disciplina. Sabem que a disciplina lhes confere liberdade. Os compromissos não os assustam: casar, comprar uma casa, estabelecer vínculos não são problemas, pois sabem movimentar-se em qualquer cenário.
Algumas pessoas fogem das leis, das regras instituídas e fogem inclusive do bom senso, negligenciando engrenagens como datas, prazos de entrega e gentilezas de bom convívio. Esta subversão aparentemente ingénua é tão nociva para a vida coletiva que numa escala maior causa muita perturbação ao funcionamento de um país. Já parou para pensar no que é que pode derivar uma dezena de milhões de engrenagens a funcionar mal? Criam uma máquina inapta e ineficiente para gerar felicidade e bem-estar coletivos.
Noutras palavras, cara leitora, o seu descaso com a “vida adulta” descompassa o mundo.
Decida-se a parar de (se) adiar e alavanque para si e para a sociedade de que faz parte as bases de um maior equilíbrio emocional com a consequente geração de elos sociais mais maduros e harmoniosos. Isso significa que nos tornarmos bons parceiros afectivos, bons amigos, sócios, colegas de trabalho, etc…
Sermos emocionalmente mais maduros torna-nos também mais competentes para lidar com as dificuldades da vida e, por isso mesmo, com maior disponibilidade para usufruir dos seus aspetos lúdicos e agradáveis.
A maturidade emocional e psicológica sintetiza as experiências acumuladas no decorrer da vida de uma pessoa (seja ela curta ou longa), na qual algumas aprendizagens significativas se vão podendo extrair.
Aprendizagens essas que para além de beneficiar a sabedoria da própria pessoal, são essenciais para a sociedade em geral. Por isso, viver, crescer, errar, acertar é, acima de tudo, aprender. E ao aprendermos edificamos a própria vida, como a dos outros. E essa é a argamassa da evolução.
É claro que o processo de evolução é interminável e é insano alguém considerar-se como um “produto acabado”. Estar sempre a progredir tende a determinar um estado emocional positivo, um justo e otimizado mapa mental em relação ao futuro – sim, porque quem está a crescer sabe (consciente ou inconscientemente) que pode sempre esperar mais coisas boas para si lá na frente.
A criança não tem autonomia para decidir e responder pelo que faz porque naturalmente não tem recursos físicos e psicossociais para gerir o impacto da realidade sobre si.
Os adultescentes também fingem que são incapacitados e querem sempre permanecer com algum nível de dependência dos outros mesmo tendo a possibilidade de agirem por si mesmos. Procuram sempre os pais como a sua muralha de segurança financeira, emocional, psicológica e social. Como consequência, sentem-se muito "independentes" quando na realidade são inconsequentes que assumem com dificuldade as reacções dos outros às suas atitudes.
Por mais amorosos e cúmplices que os pais sejam, não apaga o facto que não é de amor que estou a falar, mas sim de autonomia, fibra, crescimento natural (é a lei da vida) e responsabilidade pelas ações que tomam e as suas consequências.
Demasiado? Talvez, mas num país como Portugal que tem uma geração de grandes adolescentes de 40 anos a “mamar” no bolso (e no colinho) dos pais não é de se espantar que tenhamos políticos que tratam o dinheiro público como uma grande teta emocional (e financeira) ou que explorem o leito (ou será inconscientemente o “leite”?) da Grande Mãe Amazónia, só para dar um exemplo, porque tudo lhes é devido ou deve ser dado e arregaçado (e não importam os meios para atingir os fins)...?
No fundo, tudo é um problema de inadaptação, de desajuste, que propicia desarranjos e desordens de variada natureza.
Uma última dica? Aprenda a desenvolver a sua maturidade emocional (e com isso a sua inteligência emocional, que conforme expliquei aqui neste artigo, hoje em dia é o que garante, mais do que qualquer outra coisa, o êxito na vida de uma pessoa).
Por isso é que um processo de auto-conhecimento é essencial para o desenvolvimento da maturidade psicológica e emocional. É através dele que conseguiremos observar as nossas dificuldades com outros olhos, de forma clara, objectiva e assertiva, possibilitando enfrentar os problemas, aceitar a realidade sem sofrer ou fazer sofrer desnecessariamente e, mais do que isso, transformá-la positivamente, de acordo com o que pretendermos alcançar nesse sentido.
As pessoas imaturas permanecem na dúvida, na ansiedade, na angústia. A imaturidade acumula problemas, preocupações, agressões. A história humana é feita de decisões. E todos temos de saber viver com o fruto das nossas escolhas. Mesmo quando optamos por não decidir: isso em si é já uma escolha. Que, evidentemente, terá as suas consequências.
Para decidir é preciso saber renunciar, saber perder vantagem e valores para ganhar outros. Que estejam mais atualizados e que façam mais sentido na nossa vida, num determinado momento.
Será que conseguimos? Esperamos que sim, pelo menos, vale a pena tentar!
Até para a semana.