Escrevi recentemente sobre pessoas que decidem deixar de andar de avião por causa do ambiente. Jorge Paiva, o mais radical dos meus entrevistados, diz mesmo que viajar de avião por tudo e por nada é um ato de egoísmo. Fala das despedidas de solteiro em Paris, dos que vão a Londres por 9,99€ e dos que têm um mapa para riscar os sítios que já visitaram. “As pessoas perderam a noção”.

A minha sorte é que a conversa foi por telefone, caso contrário acho que não teria poker face suficiente para disfarçar a culpa que tinha estampada na testa.

Nunca fui a uma despedida de solteiro em Paris, mas já fui a um casamento à Madeira. Nunca fui a Londres por 9,99€, mas já fui ao Porto por 7,99€ e à Bratislava por 2€.

E sim, também já tive um mapa no qual raspava os países visitados, e agora exponho orgulhosamente na parede a minha coleção de porta-chaves, comprados nos 29 países que já visitei.

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Sei que cada vez que o avião levanta voo morrem três pinguins na Antártida e que cada vez que digo sim àquele tabuleiro de comida de plástico, seis árvores caem de desilusão na Amazónia. Mas na minha última viagem, com atrasos e cancelamentos, estive mais de 30 horas em aeroportos e aviões. Perdoem-me mas tive que aceitar aquela embalagem de inox com um puré instantâneo qualquer e o pão barrado com compota de cor fluorescente.

Mas já ninguém me apanha no engodo do "café, água ou chá". Aí o meu braço lança-se na direção do assistente de bordo e de garrafa reutilizável na mão peço: "Pode pôr aqui, se faz favor?". Alguns olham de lado, outros já me disseram que não era suposto. Mas na maioria das vezes sorriem e já não estranham o pedido, sinal de que não serei a única a preferir ter o meu termo cheio de água fresca a ter um copo de plástico cuja esperança média de vida na minha mão é de cinco minutos, mas de séculos num qualquer aterro deste mundo.

Não deixarei de viajar, que me perdoe a Nossa Senhora da Sustentabilidade. Agora, quando o faço, tento que seja com o menor impacto possível. Mas, tudo dentro das minhas capacidades, que não sou uma ninja do zero waste e não me culpo por isso.

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Deixo aqui 5 das minhas dicas para uma viagem mais amiga do ambiente.

1. Levar a sempre a minha amada garrafa de água reutilizável

"Ah Marta, mas a água não passa no controlo de bagagem desde que o Bin Laden deitou abaixo as Torres Gémeas". Simples, levam a garrafa vazia, passam no controlo e voltam a encher na casa de banho ou no bebedouro já do lado das portas de embarque. E sim, confiem na água que vos sai das torneiras. Não estamos na Índia.

2. Levar um saco de pano para qualquer eventualidade

Uma ida às compras de roupa ou a um mercado, de onde vem carregado de frutas e legumes locais. Já agora, aproveite para comer todo o abacate que puder na América do Sul e toda a pitaia que encontrar em Bali. Se demoramos quase um dia inteiro a chegar a estes destinos, imagine o impacto de fazer chegar cá estes produtos para o seu pequeno-almoço de Instagram.

3. Levar um kit de talheres

Os meus são de madeira e contam com faca, garfo, colher, guardanapo e palhinha. Confesso que ainda só usei guardanapo e a colher, porque, vá lá, tudo sabe melhor comido à colher. E palhinha, sinceramente, acho que vou oferecer a alguém. Não sou de mojitos e de caipirinha e a minha mini gelada prefiro até bebê-la da garrafa.

4. Pagar a taxa de compensação

Eu sei que todos procuramos os voos mais baratos, mas uma taxa extra pode, pelo menos, deixar-nos de consciência mais tranquila. Em maio, deparei-me pela primeira vez com a opção de compensar monetariamente a pegada ecológica da minha viagem. Assim, fiquei a saber que de Lisboa ao Funchal pela TAP emito 0,182 toneladas de CO2 e que se doar os 65 cêntimos que a companhia aérea sugere, estarei a contribuir para um projeto de conservação de cerca de 90 mil hectares da floresta da Amazónia.

5. Doar roupa

Este é um truque que uso há anos. A Marie Kondo que vive em mim diz-me que se não sinto amor ao olhar para uma peça hoje, não irei senti-lo na estação seguinte. No meu caminho pelo consumo pouco desenfreado, tento ter o essencial e quase tudo comprado em segunda mão. O que já não quero ponho de lado e ou vai para os contentores de doação de roupa em Lisboa, ou para as viagens.

Neste último caso, o que faço é levar essa roupa que já não quero, usá-la durante a viagem e deixá-la em sítios onde podem ser usados por alguém. Em Nova Iorque deixei um saco num espaço de doações, na Polónia à porta de uma igreja e no Peru dei a uma funcionários de um dos hostels em que fiquei. É a minha forma de me livrar do que já não quero, saber que será reutilizado e trazer a mala mais vazia para todos os abacates e pitaias que lá couberem.