Ora portanto, gravidez. Vamos falar sobre isto, mas como pessoas crescidas que somos. Sem barrigas de gesso, fotografias tiradas em robes de seda e mensagens escritas a baton na barriga.

A gravidez são nove meses passados em estad… ‘Pera, não são nove meses. Primeira surpresa: a partir do momento que vês aqueles dois tracinhos azuis, a tua vida muda e és obrigada a voltar às aulas de métodos quantitativos. O tempo passa em semanas e os tamanhos em percentis. Ora, neste momento, estou há 26 semanas grávida de um ser no percentil 40, o que, para quem vive fora deste mundo, significa que está mais para o pequenito. O meu namorado mede 1,98 metros e eu 1,70 metros. Mas juro que o filho é dele.

Esta é só uma das últimas bizarrias das quais o meu corpo foi capaz de fazer nos últimos meses. Comecemos pelo primeiro: engravidar.

Andava eu a curtir a única coisa boa de uma amenorreia prolongada quando, de repente, as mamas viram pedras. Mas pedras daqueles quentes, das massagens, onde ninguém pode tocar com medo de se queimar. Neste caso, com medo de ser mordido, que o meu instinto era atacar quem ousasse aproximar-se. Mando mensagem à Patrícia Lemos, do Círculo Perfeito, que já me acompanhava, à procura de uma explicação, porque período era coisa já não vista por estes lados há muito tempo. “Há possibilidade de estares grávida?”, pergunta ela. E eu, depois de dois segundos de retrospetiva, respondo que, em termos técnicos, sim, já que, imaginando os meus ovários mirrados, os preservativos estavam esquecidos bem lá no fundo da gaveta das meias.

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Aliás, a própria Patrícia já me tinha dito que “com aqueles valores de ferritina, tão cedo nem menstruar seria ser possível, quanto mais engravidar”. Só que, claramente, não sabia com quem se estava a meter. O meu subconsciente deve ter levado aquilo como uma provocação daquelas que te fazem em criança. Só que em vez de responder com um infantil “Ai é? Então vais ver!”, não, decidiu gerar um embrião. E pronto, contra todas as expetativas, também eu era uma grávida covid. Yey.

Choque, consultas, ecografias, análises. Depois de confirmado que tudo era real, ‘bora lá ficar feliz com a ideia. Pois, não aconteceu.

Mas é suposto?

Crescemos a ver as avós com dez filhos, as mães a prender fraldas de pano com alfinetes e nós a comer açordas feitas com mioleira, “porque o teu pediatra dizia que fazia bem”. Parecia tudo fácil.

Alguma vez imaginaram a vossa avó com enjoos matinais antes de ir para o campo semear batatas ou a vossa mãe com hemorroidas depois de uma semana sem fazer cocó? Exato, eu também não. Mas adorava que me tivessem contado isso, em vez de só se terem focado no “tudo se cria”.

E é por isso que prefiro deitar já tudo cá para fora e esperar que a minha criança cresça numa era em que este espólio da MAGG já se tenha perdido na deepweb, não vá a criança ficar traumatizada.

É que Zé, meu filho, houve muito intestino envolvido nesta história.

Começámos com um mês e meio de enjoos de manhã à noite, porque “não vou tomar medicação estando grávida”. Ahahahahahah! Marta, o que eu gostava de te ter enfiado um Nausef na goela ao primeiro vómito.

Às náuseas, junta-se uma digestão inexistente, ou que só funciona a gases mortíferos, daqueles que nem dá para disfarçar e dizer que é namorado. Pudera, eu, rainha do prato cheio de legumes, bebidas vegetais sem açúcar e papas de aveia, de repente vi-me movida a pão com queijo e bolachas de água e sal, as únicas duas coisas que passavam neste organismo.

Os enjoos passaram, finalmente, quando decidi lembrar-me que eu era mais importante e que a medicina evoluiu para estes casos.

O corpo volta a si e tu até estranhas. De repente, voltas a acordar com energia, consegues fazer desporto, o café volta a saber bem e voltamos a fazer cocó todos os dias. Vitória! Mas calma, sem grandes euforias. É cada dia é uma surpresa.

De repente percebes que é normal que te cresçam pelos na barriga, que tenhas uma dor tipo ciática que te prende a perna, que tenhas arritmias, anemia, insónias e hemorroidas. “E tens sorte que ainda não te deu azia!”, já me disseram, ou que não tenha ainda ficado com manchas no buço, das que ficam para sempre. Como assim? Ai agora, de repente, vamos todas ser sinceras sobre isto e parar de uma vez por chamar a isto “estado de graça”?

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Uma amiga, grávida, diz-me esta semana que foi ao médico com uma tendinite no pulso. Resposta profissional: “isso é muito típico na gravidez”. Ten-di-ni-te-no-pul-so! I rest my case.

Desisto de tentar perceber estes nove meses. É aceitar, rir do assunto, chorar quando as hormonas pedem e acreditar que vai nascer perfeitinho e a dormir noites seguidas. É que se este é um estado de graça, temos mesmo que falar sobre os limites do humor.

(e Zé, a mãe vai gostar muito de ti, ou pelo menos acha que sim. Deixa só que a oxitocina comece a bater, ok?)