Há coisas em que não há consensos possíveis. No frango assado, por exemplo, jamais se irá convencer um amante do frango da Valenciana, em Campolide, Lisboa, que o do Pingo de Mel, em Alvalade, é melhor. Não vale a pena a discussão. Cada um fica com a sua, e amigos como dantes. Com as praias é mais ou menos a mesma coisa. Uns gostam de ondas, outros de areais grandes, há quem goste de praias desertas, outros preferem um bom restaurante de praia, há os que têm recordações que valem para a vida, outros que conhecem aquele mar desde sempre e nunca o irão trocar. Por tudo isto, a MAGG criou o desafio Guerra de Praias, que durará ao longo dos meses de julho e agosto. A ideia é que os vários colaboradores da MAGG defendam, com unhas, dentes e facas afiadas, todas as segundas e sextas-feiras, aquela que é, para cada um, a melhor praia do mundo, a praia da sua vida. Os argumentos vinculam cada um dos autores. Depois da Praia do Castelejo, passamos para a praia da jornalista Marta Gonçalves Miranda. Aqui vai:
Acreditem nas minhas palavras, porque sei bem do que falo: a Praia da Comporta é a melhor do mundo. Peço-vos que tenham calma e que prossigam na leitura deste texto sem perderem o controlo. Tenho consciência do quão sensível é este tópico — uma praia nunca é apenas uma praia, e mexe genuinamente com o nosso coração.
Vou mais longe: juntamente com política, religião e futebol, este é um daqueles temas em que não é fácil assumir publicamente uma preferência. Só que alguém tem de o fazer e dar o corpo às balas, a.k.a., comentários de ódio, porque, lamento, a Praia da Comporta é mesmo a melhor do mundo.
O verão é a minha estação favorita. Não ligo ao Natal, detesto a Passagem de Ano, entro em depressão no inverno (chego quase a verter uma lágrima quando anoitece às 17 horas) e aborreço-me com o outono. Quando chegam os dias de calor abrasador, porém, o meu coração dispara e a minha dopamina fica ao rubro. Os dias de semana são passados a fazer contagem decrescente para o fim de semana. Está quase. Está quase. Só mais um dia. Só mais um dia.
Quando os primeiros raios de sol surgem no horizonte num sábado de manhã, já estou eu a fechar a porta do carro. Eu e a minha irmã temos o esquema perfeito para aproveitar todos os minutos possíveis no areal, que inclui uma bagageira sempre equipada com toalhas de praia, corta-ventos e chapéus de sol (assim mesmo, no plural) e a capacidade de sair de casa em menos de 20 minutos. Ainda dizem que as mulheres demoram muito tempo a arranjar-se. Haviam de ver a rapidez com que nós conseguimos sair de casa quando temos uma praia à nossa espera.
O meu verão — ou o nosso verão, para ser mais justa — é feito de muitas praias. Conhecemos todos os segredos da Costa da Caparica, não dispensamos um salto até à Arrábida e somos capazes de ir até ao Algarve só porque nos apetece experimentar algo diferente naquele dia. A distância nunca é um problema, é tudo uma questão de saber aproveitar inteligentemente o tempo — e ver a conta bancária, verdade seja dita esse é o único (real) contratempo. Portanto, como veem as praias são como as sobremesas. Às vezes estamos em dia de cheesecake, outras vezes em dia de mousse de chocolate.
Mas por mais que a variedade seja importante, todos nós temos o nosso grande amor — no caso das sobremesas a minha preferência vai mesmo para a baba de camelo, no caso das praias para a Praia da Comporta. E está na altura de explicar porquê.
Porque é que a Praia da Comporta ganha à Praia de Galapinhos (e de Benagil, do Ribeiro do Cavalo e outras tantas)
Praia de Galapinhos. Linda de morrer: está enquadrada num local deslumbrante no meio da serra e tem águas límpidas que parecem tiradas de uma qualquer República Dominicana. É mais bonita do que a Praia da Comporta? É. Mas também está sempre cheia de gente, de tal forma que há em dias em que as toalhas estão de tal forma coladas umas às outras que o areal parece ter sido invadido por um único grupo de amigos. Além disso é um martírio chegar lá, e ou vai bem equipado, com comida e bebida, ou nem vale a pena ir — sair da praia para almoçar é impensável.
Praia da Rocha, Portimão. Muito fora de mão para os lisboetas, mas tem uma praia incrível. Sem dúvida. Só é pena que está sempre a abarrotar. Praia de Benagil, Lagoa. Uma autêntica Oitava Maravilha do Mundo. Infelizmente as imagens que vê na internet não correspondem de todo à realidade quando tem que partilhar a Oitava Maravilha do Mundo com 14.452 pessoas. Praia do Ribeiro do Cavalo. Outra linda de morrer. Dificílimo chegar lá. Fonte da Telha. A minha preferida na Costa da Caparica. Prepare o leque para o tempo que vai assar dentro do carro em hora de ponta. E boa sorte a estacionar se chegar mais tarde do que devia.
Na Praia da Comporta não é assim. Nada assim. Para começar, o caminho é fácil, fugir das portagens implica apenas mais dez minutos de viagem, e apesar de ainda ser 1h30 de caminho, vos garanto que dez minutos de metro a caminho do trabalho são bem mais demorados. As estradas são ótimas, a paisagem é bonita, os quilómetros fazem-se num instante. Repito: a distância não é mesmo um problema. Além de que nunca há trânsito, portanto é sempre a andar.
Se o acesso é fácil, estacionar também raramente é um problema. Já cheguei à praia a todas as horas do dia e nunca demorei muito tempo a colocar o carro no parque de estacionamento. Mesmo quando o parque estava cheio. Só houve uma vez em que isso aconteceu. Segui em direção a Tróia, parei o carro a meio do caminho, meti-me pelo meio do campo e de repente estava numa praia vazia. Não avistei uma única pessoa a tarde inteira. Dia de praia incrível.
Mas isto foi a exceção: regra geral consigo sempre estacionar o carro. O que é particularmente importante para mim, que não sou pessoa de ficar o dia inteiro na praia. Preciso de uma pausa para ir almoçar a qualquer lado. Mais uma vez, a Praia da Comporta derrota muitas outras que andam por aí. A vila da Comporta fica a um tirinho da praia, e está cheia de sítios ótimos para almoçar. Digo o mesmo do Carvalhal. O restaurante Dona Bia é espetacular, mas o meu favorito é A Cegonha. Barato, descontraído e com comida boa que se farta. Choco frito e uma garrafa do vinho O Feliz e está garantido o almoço perfeito.
Então mas e a praia, Marta? Não é disso que estamos a falar? É. E a praia é fantástica. O areal é perfeito, a paisagem maravilhosa e a água, bem, há quem se queixe que às vezes está um pouco fria. Para mim está sempre na temperatura ideal. O mar é calmo, há peixinhos na água e um dia até apareceram golfinhos. A sério, preciso de dar mais razões para esta ser a minha praia favorita?
Muito importante também, nunca tive dificuldade em estender a toalha. Basta andar uns passinhos para a direita ou uns passinhos para a esquerda e pronto, já está. Juro que às vezes me pergunto para onde é que foram as pessoas: a fila de carros estacionados à beira da estrada chega a ter quilómetros, o parque de estacionamento às vezes está completo. Ainda assim, nunca tive ninguém em cima de mim. Ou tão perto que me deixasse desconfortável.
Tenho de ser sincera numa coisa: estamos numa praia com um público específico. Por isso, e se for como eu, é normal que repare que todas as pessoas têm nomes pomposos como Constança, Frederica, Salvador ou Bernardo. Também há muitas famílias que se tratam por você. É verdade, estamos numa praia com um público, bem, específico. Mas isso não significa que me tenha sentido alguma vez desconfortável porque a etiqueta do meu biquíni diz Primark em vez de Cantê.
Se ainda não ficaram rendidos a tanta perfeição, bem, não sei o que vos posso dizer mais. Exceto que as bolas de Berlim são maravilhosas. Ao final do dia, o regresso para casa inclui sempre uma paragem no porto de pesca palafita da Carrasqueira.
Fica a quatro quilómetros da Comporta e é um dos sítios mais incríveis de Portugal. Utilizado para produções fotográficas internacionais, em 2013 recebeu o famoso designer de sapatos Christian Louboutin. Eu faço questão de ir sempre lá tirar uma foto para o Instagram e simplesmente apreciar a paisagem.
Gostos não se discutem. Mas vá lá, tenham juízo: não há praia mais bonita do que a minha.