A História dirá se é um herói. A História dirá se o seu nome ficará para a eternidade com glória ou com infâmia. Talvez caia no esquecimento, na voracidade daquele que parece ser o início da Era da Sobrevivência. Ou o ocaso do tempo como o conhecemos.
Espanta-nos a coragem. Espantam-nos as palavras. Espanta-nos o homem que não foge, que recusa a ajuda, que se entrega às mãos da morte. Espanta-nos que, nestes tempos tão cínicos, tão assépticos de ideais, esteja disposto a morrer por uma ideia. Uma ideia de liberdade. E o nosso cinismo, justamente conquistado por tantas décadas de paz, a nossa descrença no seu voluntarismo, faz-nos buscar outras razões.
Os seus interesses. Motivações mais obscuras. A busca de algo para si. Egomania. Talvez loucura. Talvez apenas um bom ator. O homem, sozinho, contra o mundo. O homem, sozinho, contra a máquina. O homem, sozinho, com um povo, D. Quixote das margens do Inhulets.
A nossa descrença nos que servem a causa pública e que se servem do povo para seu próprio proveito, metidos nos seus fatos feitos à medida e com os seus Patek Philippe a brilhar enquanto fazem solidariedade de bater palmas, faz-nos descrer.
Quem é este louco que não dorme, que não foge e que continua a sorrir? O que é que ele quer? A nossa falta de fé na verdade, na possibilidade remota de um servo do povo, enche-nos de dúvidas.
Felizmente, não temos de lutar. Felizmente, não temos de fugir. Felizmente, a ideia de um lugar está garantida. Porque um país é muito mais do que uma terra, um pedaço de chão, cores numa bandeira, impostos, votos, feriados, eleições. Um país é uma ideia. Ele é essa ideia. Talvez, talvez seja por isso que nos custe a crer. Talvez o admiremos. Talvez tenhamos (secretamente) uma certa inveja. Talvez tenhamos medo. Talvez queiramos muito acreditar.