Esperamos o ano todo ansiosamente pelas férias, principalmente as de verão. Esta é a altura do ano em que estamos mais descontraídos e tentamos viver sem preocupações. Para os casais, é sempre uma boa altura para se reconectarem e terem algum tempo a sós, longe das preocupações diárias. Mas e se não for bem assim? E se este tempo a sós do casal realçar todos os problemas que antes já existiam, mas que, de alguma forma, foram ignorados até então?
“Normalmente os casais, ao longo do ano, deixam questões por resolver na relação e dão prioridade à família e ao trabalho e empurram os problemas para os resolverem no período de férias. Pensam que o facto de terem mais tempo juntos facilitará a resolução. No entanto, as questões e quezílias acabam por se intensificar ainda mais e um dos parceiros acaba mesmo por terminar a relação”, explica Fernando Mesquita, psicólogo clínico e terapeuta sexual.
No fundo, as férias, que deveriam ser o momento de descontração do casal, acabam por levantar o véu sobre alguns problemas que antes já existiam. Com a correria da rotina diária com filhos, família, amigos, trabalho e outras atividades, o casal acaba por andar mais desencontrado e a comunicação é diretamente afetada por esta ausência.
O casal pode até conversar, mas será que comunica?
“Por norma, os casais chegam às consultas e dizem que falam muito um com o outro, mas o problema é que falam muito sobre o trabalho, sobre os amigos, etc., e falam muito pouco sobre eles mesmos e sobre a relação em si”, revela Fernando Mesquita.
O psicólogo aconselha “fazer uma reunião mensal onde os parceiros falam sobre o que gostaram mais e o que gostaram menos ao longo do mês”, de forma a fazer um balanço mensal e ajustar o que for necessário na relação.
O mais importante para as relações vingarem, principalmente depois de umas férias que podem não ter corrido como era o expectável, é a comunicação e o afeto.
“O casal tem de adquirir uma perspectiva de comunicação com espaço para o afeto. A comunicação é um aspeto muito importante, mas afeto e o carinho também. Vários estudos mostram que abraçar o parceiro durante alguns minutos estimula a ‘hormona do amor’, através do toque. A qualidade de atividades em casal é também extremamente importante, assim como respeitar a individualidade do outro”, garante Isa Silvestre, psicóloga clínica e diretora da Clínica de Psicologia Isa Silvestre.
Os casais com filhos tendem a ser mais propícios a desenvolver tensões na relação, nomeadamente durante e após as férias de verão. “No caso dos casais com filhos, estes ficam mais por casa, o que também afeta mais a dinâmica do casal. As novas rotinas acabam por não funcionar, a organização deixa de existir e acumulam-se as tais tensões. Seja porque não se divide as tarefas de forma igualitária ou porque todos nós temos necessidades diferentes ao longo da vida. Podem surgir, por exemplo, dificuldades físicas, mentais ou até mesmo questões relacionadas com o trabalho que fazem com precisemos de delegar mais tarefas”, revela Isa Silvestre.
É muito importante, por isso, que o casal desenvolva um espaço de autoconhecimento que lhe permita saber quais são as necessidades do momento, tanto do casal como individuais, de forma a que se consigam ir adaptando às mudanças que vão ocorrendo ao longo do tempo.
Mas, atenção: não está tudo perdido
Apesar das dificuldades que podem surgir, as férias não são uma sentença para os casais. Os especialistas explicam que é possível dar a volta e salvar a relação. Aqui o mais importante é que ambos os parceiros estejam dedicados à relação e, acima de tudo, a resolver todos os problemas. Estar atento às nossas necessidades e às do outro, resolver os problemas logo quando estes surgem e não adiar a situação e proporcionar momentos de afeto são algumas das sugestões dos especialistas para dar a volta por cima.
“Em vez de se acumular os problemas, o casal deve ir tentando resolver-se ao longo do ano. Se formos acumulando muitas questões, a tensão acaba por se tornar muito maior. Assim que há problemas na relação, o melhor é mesmo dedicar algum tempo para falar sobre o que está a acontecer”, conclui Fernando Mesquita.
"No pós-férias, temos sempre aquele desejo de recomeçar, seja com novos objetivos ou atividades. Queremos uma mudança rápida na nossa vida. Mas as pessoas têm de refletir sobre a tomada de decisão e sobre as consequências para si e para a família. Tem de se comunicar para resolver os problemas. Ambos têm de comunicar, têm de dar a sua perspectiva relativamente aos problemas. Quando queremos resolver algum problema, a comunicação é mesmo o mais importante”, acrescenta Isa Silvestre.