Quando Carolina (nome fictício) decidiu terminar a relação de cinco anos, a melhor amiga tinha sido deixada pelo namorado há cinco ou seis meses. Depois da fase de negação, sofrimento e lágrimas constantes, ela estava melhor do que nunca. Sentia-se confiante, plena, equilibrada. Até estava mais bonita. Para Carolina não havia dúvidas: aquele break-up tinha sido a melhor coisa que tinha acontecido à amiga.
"Quando terminei a minha relação meses depois, não pensei que pudesse ter havido uma situação de 'contágio'", conta Carolina à MAGG. "Achei que tinha sido uma coincidência, talvez até uma boa coincidência. Apesar de ela estar numa fase diferente, apoiámo-nos uma na outra."
Quase um ano depois, Carolina já consegue ter a frieza de perceber que talvez tenha havido de facto um contágio. A amiga estava muito diferente após o final daquela relação. Apesar de o fim não ter sido desejado, a relação estava saturada, aborrecida, estagnada. E isso fê-la pensar que a sua também. Não poderia haver algo melhor? Seria aquilo o máximo que podia esperar no campo do amor? No caso da amiga não parecia ser assim. Não podia ela ambicionar mais também?
Todas as nossas relações, todas as nossas escolhas, têm ganhos e custos. Portanto, há uma noção de influência"
"Todas as nossas relações, todas as nossas escolhas, têm ganhos e custos. Portanto, há uma noção de influência", explica Nuno Mendes Duarte, diretor clínico da Oficina de Psicologia. "A nossa rede social pode funcionar como promotor da nossa própria ponderação destes ganhos e custos."
E como é que isto funciona exatamente? Segundo o psicólogo, se um indivíduo vê outro a separar-se e percebe que houve de facto um ganho, isto é, que a rutura trouxe mais aspetos positivos à sua vida do que negativos, ele começa a ponderar. Talvez não fosse má ideia ele também sair da relação em que está se os ganhos não são assim tão bons e o custo não é assim tão elevado.
Portanto, a resposta é sim: as breakups podem ser contagiantes. Mas há mais — o que a nossa família e amigos pensam do relacionamento também.
O que dizem os estudos
Em 2010, foi publicada uma investigação realizada pelas universidades de Brown, Califórnia e Harvard. Durante 32 anos, os especialistas analisaram 12 mil pessoas do estado de Massachusetts. Entre 1971 e 2007, aquilo que começou por ser um estudo sobre o risco cardiovascular transformou-se num verdadeiro trabalho social — que concluiu que assistir ao divórcio de amigos, familiares ou vizinhos aumenta em 75% a probabilidade de um casal se separar.
Cada indivíduo do estudo estava ligado a outras 11 pessoas — é a chamada rede social, não do Facebook ou Instagram, mas a verdadeira que se traduz na nossa rede de amigos e conhecidos na vida real. No caso em que a separação foi entre amigos de amigos, também se verificou um efeito de contágio — mas bastante mais baixo, de 33%.
"Durante muito tempo acreditou-se no factor geográfico como preditor do divórcio. Este estudo concluiu que essa não é a variável mais relevante — é sim a proximidade social", considera Nuno Mendes Duarte.
Em março do ano passado, foi publicado um outro estudo sobre os factores que podem ser determinantes para o fim de uma relação nos jovens adultos (18 aos 24 anos). A conclusão aponta para a ausência de compromisso; amor e interdependência; não incluir o outro na nossa própria identidade; e falta de apoio da rede social alargada.
"Isto acontece sobretudo em jovens adultos — é mais difícil falar nesta vulnerabilidade em pessoas com 50 anos. Mas diria nos 20, 30 e 40 anos, quando a família ainda pode ser crítica ativa no relacionamento."
Assim sendo, comentários como "eu acho que ele não é suficientemente bom para ti" podem influenciar a forma como encaramos a nossa relação — e até deixar-nos de tal forma com dúvidas que decidimos que talvez o melhor seja terminar. "Este tipo de comentários são, no fundo, uma forma de suporte não ativo. Eles estão ativamente a não apoiar e a desaprovar a relação."
Outra forma de não "suportar" a relação pode ser o desprezo. Quando a rede social não transmite qualquer interesse na vida amorosa de um indivíduo, este sente de igual forma a falta de apoio. "Isso sabemos então que é um preditor do fim da relação."