Chocolates, flores e um jantar à luz das velas. Será assim que a maioria dos adeptos do Dia dos Namorados irá passar o dia. Outros planos podem incluir escapadinhas, presentes mais elaborados, ou até originais, mas uma coisa é certa: para quem gosta, é impossível fugir ao tema amor neste dia.
Se é assim para os adultos que passam o dia de São Valentim apaixonados, como será no campo dos mais novos? Será que percebem o que é um namorado, um namoro? Ou será que têm consciência do que é o amor?
“A noção do que é o amor para uma criança depende um bocadinho da idade e sobretudo do estado de desenvolvimento em que ela está”, começa por explicar Hugo Castro Faria, pediatra no centro da criança e do adolescente do Hospital CUF Descobertas.
Esta noção depende essencialmente daquilo que a criança vê e depreende com aqueles que lhe são mais próximos. “Sabemos que a ideia que a criança tem sobre o que é o amor é aquela que aprende ao ver aqueles que estão mais perto dela, pais e avós, e a sua forma de expressar o amor e os momentos que partilham”, continua.
“Obviamente o amor para eles é um bocadinho isso, aquilo que eles vêem no dia a dia como uma expressão de carinho, uma expressão de partilha e idealmente serão esses os valores que queremos mostrar às nossas crianças sobre o amor como o carinho, a a partilha, em conjunto, a compreensão e a forma como conseguimos manifestar estes valores”, explica o especialista.
Hugo Castro Faria explica também que à medida que a criança vai amadurecendo até à adolescência o significado de amor também vai mudando. Por isso, a ideia do que é uma relação a dois para alguém que está no início da adolescência será de uma compreensão “pouco complexa, muito romantizada e muito baseada no que vê em casa, mas também nas redes sociais e na televisão”.
A importância ganha outra dimensão quando chegado o final da adolescência. “Talvez mais perto dos 16 anos ganhe outra dimensão. O amor ganha uma importância maior em várias componentes, na componente emocional, que é gostar de alguém, ser amado por alguém, do que é partilhar a vida do dia a dia com outra pessoa. E também, muitas vezes, nessas idades o nível de intimidade que as relações ganham já podem ser um bocadinho mais profundo”.
Já percebemos que o amor depende daquilo a que a criança é exposta. Mas será que conseguem depreender o que é um namoro? O especialista explica que, mais uma vez, depende da forma como os pais vivem a relação a dois e sobretudo como os pais vivem essa relação em frente aos filhos.
“Há pais que não tem qualquer problema em mostrar momentos de carinho e de amor em frente aos filhos: como dar a mão, dar um beijinho, dizer ao outro que se gosta muito. Há pais que reservam mais essa parte mais romântica para si, para os momentos em que os filhos não estão presentes. E isso vai influenciar a forma como os filhos conhecem e descobrem o que é o amor e o que são as relações a dois”, explica. “Acho que é algo que faz parte das referências das crianças”.
E por fazer parte das referências da criança é importante ter em mente a forma como se mostra esse amor e carinho – uma vez que influência a maneira como as crianças apreendem o amor.
“Devemos evitar, por exemplo, discussões em frente dos filhos. Ora discussões existem sempre, mas discussões com alguma intensidade. Devemos tentar mostrar que no amor há carinho, há empatia, há compreensão do outro. E que esta é a forma como se constroem relações”, continua o especialista, acrescentando ainda que os problemas na relação podem influenciar de forma negativa a forma como as crianças podem aprender o que é uma relação a dois.
Posto isto, é importante falar com as crianças sobre este tempo – e não existe idade mínima para se começar. “Acho que em qualquer idade a criança deve ouvir da parte dos pais, sempre de forma adequada à capacidade de desenvolvimento, o que é uma relação a dois”, diz Hugo Castro Faria. Caso isto não aconteça, a criança vai começar a criara conceitos a partir das coisas que conhece, nomeadamente do que os amigos dizem, das redes sociais e da televisão.
“Quanto mais essa interpretação for ajudada pelos pais, mais segurança existe em que os conceitos que se querem passar, passem efetivamente para a criança”, refere. Mas isto sempre com o pensamento adequado à capacidade que a criança tem, à curiosidade que a criança mostra e à receptividade que a criança mostrar para esses assuntos.