A ideia de criação de uma pílula masculina não é propriamente nova. No entanto, à falta de bons resultados que comprovem a sua eficácia e segurança, este fármaco ainda não existe no mercado – mas poderá estar cada vez mais perto de ir lá parar. É que um estudo recente, divulgado na revista "Nature", esta terça-feira, 14 de fevereiro, mostrou alguns avanços, uma vez que os ratos nos quais o produto foi testado ficaram "temporariamente inférteis".
O primeiro teste, que pôs o fármaco à prova em 15 ratos, registou uma eficácia de 100% ao fim de duas horas do ato sexual, diminuindo para 91% em três horas. Nos humanos, isto equivale a um período mais longo, tendo em conta que "o metabolismo dos ratinhos é muito, muito rápido", avança Melanie Balbach, investigadora da Faculdade de Medicina Weill, em Nova Iorque, Estados Unidos e uma das responsáveis pelo estudo, citada pelo "Público". "É possível que o inibidor tenha uma janela de tempo maior nos humanos, já que temos um metabolismo mais lento”, acrescenta.
Os testes mostraram que a pílula em investigação suspendeu brevemente a fertilidade dos roedores graças à inbição de uma enzima, o adenilato ciclase solúvel (SAC), que é "essencial para a mobilidade e maturação do esperma", aspetos fulcrais no processo de fecundação. Trocado por miúdos, isto significa que a circulação dos espermatezóides foi interrompida o tempo suficiente, fazendo com que não conseguissem chegar ao óvulo e, portanto, fecundá-lo.
Os efeitos da SAC nos espermatozóides já são conhecidos há bastante tempo, mas a sua neutralização, aquando dos testes, foi a pista que faltava para estes poderem avançar. Isto porque, há cinco anos, houve um estudo que incidiu sobre dois homens perfeitamente saudáveis, mas inférteis. Foi assim que se descobriu que, por terem uma mutação na enzima SAC, a sua inibição poderia ser o mote para o desenvolvimento de uma pílula masculina.
"A maioria dos esforços atuais para desenvolver novos contracetivos para homens afeta o desenvolvimento do esperma, o que significa que a contraceção requer meses de pré-tratamento contínuo", lê-se no estudo. Mas esta estratégia afigura-se inovadora, sendo que, ao contrário das mulheres, que tomam a pílula todos os dias, esta seria "tomada um pouco antes do sexo, apenas quando necessário", acrescenta o estudo. "Quando usamos o inibidor [para parar a SAC], o efeito acontece muito rapidamente. Os espermatozóides ficam inibidos em meia hora e passadas 24 horas é reversível", afirma a especialista norte-americana.
Esta pílula poderia, assim, aumentar a lista dos métodos contracetivos masculinos que existem atualmente, como os preservativos ou a vasectomia. Este último pressupõe uma intervenção cirúrgica, através do corte de um canal que impede a chegada dos espermatozóides à uretra, tornando o homem estéril. E não tem quaisquer implicações na produção de hormonas masculinas ou no desempenho sexual do homem.
“Ainda não estamos na fase em que outros estudos falharam. Ainda não testámos o inibidor em homens. Portanto, ainda não sabemos exatamente como irão reagir”, explica Melanie Balbach. Há ainda mais testes a fazer, que visam melhorias no inibidor, pelo que não se sabe ao certo quando é que poderemos ter esta pílula no mercado.