Não precisa de passadeiras, aulas de abdominais, treinos HIIT ou WODs de CrossFit para ser saudável. Basta reparar nos países das zonas azuis do globo, isto é, aquelas onde a vida é quantitativa e qualitativamente melhor naquilo que toca à saúde da população. Nestes sítios, as pessoas não puxam ferro ou vão para aulas de zumba. Mas não é que não façam nada. As circunstâncias em que vivem fazem com que elas se mexam, sem darem por isso. Nestes sítios, elas cultivam jardins, usam as pernas para se mexerem de um lado para o outro e as mãos para o máximo de atividades possíveis.

– Sardenha, Itália
– Ilhas de Okinawa, Japão
– Loma Linda, Califórnia
– Península de Nicoya, Costa Rica
– Icária, Grécia

Investigadores já vieram afirmar isto mesmo: as rotinas do quotidiano associadas a estes ambientes têm um enorme impacto na longevidade e qualidade de vida dos seus habitantes.

Mas as circunstâncias da generalidade das vidas deixam-nos adotar estes hábitos? Bem, é certo que os dificultam — basta pensar na quantidade de trabalhos que obrigam a um dia inteiro sentado numa secretária, criando um contexto de vida diametralmente oposto a este que predomina nos países da zona azul do mundo.

Mas que as nossas profissões não sejam motivo para deitarmos a toalha ao chão. Há, na realidade, apenas uma decisão que deve fazer na sua vida: andar muito mais, andar o máximo possível. Caminhe até ao supermercado, caminhe até ao trabalho, caminhe nos tempos livres e faça uma utilização muito menor do seu carro.

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As vantagens foram já apontadas pela American Cancer Society, em 2017, que revelou que caminhar seis horas por semana resulta num risco menor de desenvolver doenças cardiovasculares, doenças respiratórias e cancro. Seis horas é muito, nós sabemos. Mas calma: é que uma investigação, publicada no European Heart Journal, em 2015, também mostrou que caminhar duas horas por semana é bom, ajudando-o a reduzir o risco de aparecimento de doenças e aumentando a longevidade.

Também para a mente o ato de caminhar é vantajoso. Este é, aliás, um dos benefícios apontados pelo neurocientista Shane 0'Mara, que acredita que esta atividade, além de excelente par ao corpo, é capaz de desbloquear uma série de "poderes cognitivos", como nada mais consegue.

É sobre isto que fala em "In Praise of Walking Shame" e numa extensa entrevista que deu ao "The Guardian" em junho, a propósito do lançamento do livro.

"Uma dos grandes super poderes negligênciados que temos é que, quando nos levantamos e andamos, os nossos sentidos são aguçados. Ritmos que antes eram silenciosos ganham, de repente, vida e a maneira como o nosso cérebro interage com o nosso corpo muda", disse.