Embora o álcool seja o principal ingrediente ativo de muitos desinfetantes e gel, e mate germes quando é aplicado adequadamente nas mãos ou nas superfícies, beber bebidas alcoólicas não produz o mesmo efeito no organismo, ao contrário de várias teorias que circulam sobretudo nas redes sociais, mais ainda em tempos de pandemia.

As teorias, sem qualquer base científica, mas espatafúrdias diziam mesmo que bebidas com alto teor alcoólico seriam eficazes no combate ao COVID-19. Na base de algumas dessas teses estará a história de que no século passado quando a gripe espanhola atingiu a região do Douro, os bombeiros locais terão recorrido ao vinho do Porto como medida preventiva contra a doença, e o método terá funcionado, porque nenhum deles foi contagiado.

Mas porque é que beber álcool não mata os germes ou vírus?

É verdade que o álcool, em concentrações suficientemente altas, consegue destruir os vírus ao desnaturar as proteínas que compõem o vírus, o que faz com que percam a sua estrutura e fiquem inativos e ineficazes. Mas, de acordo com o CDC (Center of Disease Control and Prevention) citado pelo "Insider", uma pessoa precisa de uma concentração entre 60% a 90% de álcool para fazer com que essa desnaturação mate os germes. É por isso que maioria dos desinfetantes para as mãos têm um nível de álcool etílico de 70%.

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O teor alcoólico da maioria das bebidas alcoólicas é inferior a 60% e, por isso, abaixo das concentrações necessárias para matar a maioria dos vírus e bactérias, de acordo com o Stephan Fihn, professor de Medicina Interna Geral e Serviços de Saúde e chefe de Medicina Interna Geral na Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, em entrevista ao "Insider".

Uma porção normal de bebidas como o vodka, gin, whisky e tequila tem em média 40% de teor alcoólico.

"Quando consumida, a quantidade de álcool que entra na corrente sanguínea é muito menor. Níveis de álcool no sangue acima de 0,08% são considerados como intoxicação, (que é cerca de) um milésimo da concentração de álcool num desinfetante", explica Dr. Stephan Fihn. Dito isso, embora existam certos tipos de álcool que possuem mais de 60% de teor alcoólico, eles não matam os germes no corpo, nem ajudam a combater infeções. O nível de álcool no sangue nunca será alto o suficiente para destruir o vírus.

"(Níveis de álcool no sangue) de 0,35% a 0,40% geralmente representam envenenamento potencialmente fatal por álcool. Assim, na corrente sanguínea, o etanol mata a pessoa antes de matar o vírus", diz Stephan.

Para o novo coronavírus não há nada que se possa consumir para reduzir o nosso risco de infeção. "Ainda não há estudos que mostrem que nada além do distanciamento social e cuidados de higiene são eficazes para reduzir o contágio do vírus."

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Porque é que consumir álcool pode até ser perigoso?

O consumo excessivo de álcool pode tornar uma pessoa mais propensa a infeções, porque enfraquece o sistema imunitário. Segundo Stephan Fihn, o consumo excessivo de álcool danifica a microflora no intestino e pode danificar o fígado, que é importante no apoio ao sistema imunitário.

Um sistema imunitário enfraquecido torna-se mais propício a contrair infecções.

O CDC define como beber em excesso oito ou mais bebidas por semana para uma mulher e 15 ou mais bebidas para um homem. Se a sua ingestão de álcool estiver por aí, poderá corre o risco do seu sistema imunitário ficar enfraquecido.

No entanto, beber moderadamente é bom, de acordo com Stephan, e provavelmente não terá um efeito negativo no sistema imunitário.