Vivemos há mais de um ano atormentados por um vírus que já infetou quase um milhão de pessoas em Portugal. Apesar de vários doentes terem conseguido recuperar sem qualquer sequela, a verdade é que, para entre 10 a 30% dos infetados, os sintomas da COVID-19 continuam a fazer-se sentir ao longo de semanas e até meses após a alta hospitalar.

Luís Lebre, especialista em medicina interna e diretor clínico da Joaquim Chaves Saúde, explica que o grande problema da infeção, muitas vezes desvalorizado, está na quantidade de sequelas que surgem como consequência e que meses depois da alta se podem manifestar de várias maneiras.

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"No universo dos cerca de um milhão de doentes, há um número significativo que, após ter alta, continua a ter sintomas e, muitas vezes, esse tipo de sintomatologia nem sequer é interpretada como consequência da COVID-19 visto que já passou muito tempo (às vezes meses)", diz Luís Lebre em entrevista à MAGG, realçando a importância da campanha lançada pela Joaquim Chaves Saúde que alerta para a necessidade das consultas pós-Covid.

Segundo o diretor clínico desta instituição, os sintomas mais perigosos, e também os que duram mais tempo, são os cardiovasculares, mas a estes juntam-se os fenómenos tromboembólicos, os problemas psiquiátricos, perda do olfato e paladar, falta de memória, concentração, aumento da fadiga, entre outros.

Luís Lebre
Luís Lebre é especialista em medicina interna e Diretor Clínico da Joaquim Chaves Saúde créditos: Divulgação

Deste modo, Luís Lebre defende que "todos os doentes devem ter uma consulta pós-Covid no mês após a alta". "Esta é a minha opinião, mas há estudos que apontam para o mesmo. Devem ser vistos pelo médico generalista, nomeadamente o médico de família, e, conforme apurada a historia clínica e a sintomatologia do doente, e depois de se fazer vários exames complementares de diagnóstico (como análises, RX ao tórax, avaliação cardíaca, etc.), devem ser direcionados para um especialista", explica à MAGG.

Pessoas assintomáticas devem também fazer uma consulta pós-Covid

Apesar de as sequelas permanecerem maioritariamente nos doentes que passaram por COVID-19 grave, o especialista alerta que "algumas sequelas moderadas podem também acontecer nas pessoas assintomáticas" — e por isso a consulta pós-Covid é essencial para todos. "Há sequelas silenciosas que, muitas vezes, não são detetadas à primeira vista e só um profissional de saúde está habilitado para este tipo de situações."

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Luís Lebre acredita que muitas pessoas estão já familiarizadas com os cuidados que o vírus exige, mas há ainda quem não associe certos sintomas à COVID-19. "Muitos doentes provavelmente têm alta e, como teoricamente ficam assintomáticos, não procuram mais um médico ou então têm sintomas que pensam que não é uma sequela da COVID-19. Cansaço, por exemplo, é uma coisa que pode aparecer e que muitas vezes as pessoas não assumem como sendo sequela pós-Covid".

De acordo com o especialista, os médicos de família são os profissionais a quem os doentes devem recorrer para esta primeira consulta e são também eles os responsáveis por passar todos os exames indicados. Ainda assim, dada a dificuldade em marcar consultas no Serviço Nacional de Saúde, o médico internista refere que os consultórios Joaquim Chaves têm todos estes serviços à disposição. Nesta clínica, o preço das consultas pós-Covid varia consoante o seguro de saúde do doente, mas a título particular têm o valor de 95€.

"Nesta fase, laçámos esta campanha nas nossas quatro clínicas principais (Sintra, Cascais, Miraflores e Clínica Europa) que têm os meios complementares de diagnóstico à disposição, onde temos recursos para fazer frente a qualquer tipo de situação pós-Covid", salienta, referindo que o grande problema de não se consultar um médico no tempo indicado é o de que há sintomas que se podem vir a tornar crónicos.

"Isto ainda é uma situação recente e, por isso, ainda não sabemos exatamente quais são as consequências a médio e longo prazo do vírus", remata Luís Lebre.