O Reino Unido anunciou esta sexta-feira, 17 de abril, a criação de um grupo de trabalho que vai apoiar os vários projectos de desenvolvimento de vacinas para a COVID-19. Até ao momento há 115 vacinas candidatas ao combate do vírus, cinco das quais estão em ensaios clínicos, de acordo com as informações divulgadas esta quinta-feira, 16, pela revista científica britânica "Nature". Mas algo de diferente se passa com este novo projeto.
O detalhe mais relevante é o tempo da disponibilização da vacina, cujas perspectivas até agora apontavam apenas para o próximo ano, uma vez que o período normal para o desenvolvimento de uma vacina varia entre um ano a 18 meses. Já os investigadores da Universidade de Oxford, acreditam que a sua vacina poderá estar disponível até setembro.
Isto "se tudo correr perfeitamente”, de acordo com Sarah Gilbert, professora da Universidade de Oxford, que se mostrou “80% confiante” de que a vacina que a sua equipa está a desenvolver será eficaz, conforme disse ao jornal "The Times". No entanto alerta que "ninguém pode prometer que vai resultar".
Mas não é apenas a Universidade de Oxford que vai estar envolvida nos novos projetos. Há no total 21 investigações que receberão um financiamento de 14 milhões de libras (cerca de 16 milhões de euros). As equipas vão então trabalhar com dois objetivos: encontrar uma vacina para combater a COVID-19 e fazê-lo rapidamente.
O grupo de trabalho criado para apoiar os projetos inclui membros da empresa farmacêutica AstraZeneca e da organização britânica Wellcome Trust e será liderado pelo principal conselheiro científico do governo britânico, Patrick Vallance, e pelo especialista Jonathan van Tam.
Já entre aos projetos que vão beneficiar dos apoios está a vacina do Imperial College de Londres, um medicamento à base de anticorpos, e um ensaio da Universidade de Oxford que pretende averiguar a eficácia de um medicamento antimalárico contra a COVID-19, revela a Reuters, de acordo com o jornal "Público".
Mas o que é que é necessário até ter a vacina disponível?
Para a vacina chegar até à população é necessário assegurar as regulações e a capacidade de rápida produção da indústria e ainda comprovar a sua eficácia e disponibilização ao público.
No caso das vacinas desenvolvidas em circunstâncias normais, é então necessário que os ensaios clínicos passem por três fases que vão desde a administração num pequeno grupo de indivíduos saudáveis, até ao teste da sua eficácia durante um surto. Este processo culmina com o parecer positivo das agências reguladoras para que a vacina seja licenciada.
Por isso, até que a vacina esteja disponível é necessário que seja eficaz, algo que ainda não aconteceu até agora, de acordo com um comunicado a 9 de abril da Agência Europeia de Medicamentos (EMA). Aquilo que difere os projetos já em desenvolvimento daquele que vai começar a ser testado a partir da próxima semana e está a cargo da equipa da Universidade de Oxford é o risco.
"Enquanto decorrem os testes temos de começar a produção. Vamos arriscar a produção porque se a vacina falhar ninguém a irá querer", defendeu Adrian Hill, diretor do Jenner Institute da Universidade de Oxford. E o que faz com que estes cientistas avancem com a vacina é o facto de ter taxa de sucesso expectável de 80%, tal como indica a professora Sarah Gilbert.
Contudo, o termo "disponível" merece ser analisado. "Se se refere a uma [vacina] que possa ser usada numa campanha de vacinação em massa, permitindo-nos a todos prosseguir com as nossas vidas, então 12 a 18 meses está provavelmente certo", disse Marian Wentworth, presidente da organização norte-americana Management Sciences for Health, ao jornal "The Guardian".
Por outro lado, Wentworth refere que uma vacina pode estar disponível — entre semanas ou meses — se estivermos a falar de um tratamento que é experimental, mas considerado seguro e eficaz o suficiente para ser administrado, ainda que de forma mais limitada. Pode ser o caso de grupos de risco e profissionais de saúde.