Os novos casos diários de COVID-19 continuam a disparar. Com a infeção vem o isolamento, que agora passou a ser apenas de sete dias para os assintomáticos ou pessoas com doença ligeira. Apesar de já só haver duas hipóteses que nos mandam para casa (testarmos positivo ou vivermos com alguém que tenha COVID-19), quando tal acontece voltamos à rotina dos confinamentos.
Nestas alturas, são muitos os que ganham vontade de se dedicar à atividade física. Se não estiver infetado, como é óbvio, não só pode praticar desporto, como deve fazê-lo, uma vez que são mais do que conhecidos os benefícios que o exercício tem para o corpo e para a mente. Contudo, se contraiu o novo coronavírus, há alguns pontos que deve ter em consideração antes de decidir fazer desporto.
"Se as pessoas estirem assintomáticas, e se sentirem bem, podem continuar a fazer exercício físico. Claro que sempre em casa e tendo em conta a importância de se isolarem dos restantes habitantes. Porque o facto é que quando estamos a fazer exercício respiramos mais (e mais intensamente) e acabamos por expelir mais vírus. Por isso, temos de ter mesmo em conta o tipo de isolamento que estamos a conseguir fazer das outras pessoas com as quais vivemos", explica Raquel Vareda, médica interna de Saúde Pública.
Segundo a especialista, nestes casos, não há qualquer contraindicação quanto à prática de exercício, contudo o mesmo não se verifica se a pessoas tiverem sintomas. "Vamos estar a pedir ao nosso corpo para gastar energia — e essa energia vai ser ligeiramente desviada daquilo que poderia ser utilizado pelo nosso sistema imunitário", diz Raquel Vareda.
"Se os sintomas forem inexistentes ou ligeiros, a atividade física moderada e adaptada pode ajudar o corpo a combater o vírus"
Este é um alerta dado também pela personal trainer Inês Abrantes que, durante os dois últimos anos, tem acompanhado vários atletas com COVID-19. "Não nos podemos esquecer de que o exercício muito vigoroso (seja pela intensidade, pelo seu volume ou stresse causado) é imunossupressor, isto é, reduz a capacidade de o organismo se defender de um quadro inflamatório como é este tipo de infeção, como tal, pode tornar a infeção por COVID-19 ainda mais grave."
Contudo, "se os sintomas forem inexistentes ou ligeiros, a atividade física moderada e adaptada a cada utente/atleta pode sim ajudar o corpo a combater o vírus, diminuindo a sua capacidade de se replicar e aumentando a imunidade", defende Inês Abrantes.
Desta forma, a personal trainer alerta para importância de sermos sempre acompanhados por um profissional nesta fase: para que se possa avaliar o estado físico e anímico do atleta e perceber quais as limitações atuais causadas pela infeção (tais como dores musculares ou articulares ou menor capacidade de captação de oxigénio).
"Depois deste processo, se se verificarem condições para prosseguir com o programa de treinos durante este período, devemos sempre avaliar o nível de fadiga durante a sessão, utilizando, por exemplo, uma escala subjetiva de esforço ou técnicas de observação (como ser capaz de falar enquanto realiza determinado exercício)", esclarece Inês Abrantes.
Na opinião de Raquel Vareda, a premissa é simples: se a pessoa se sente bem e lhe apetece praticar exercício, não há problema que o faça. Se as pessoas se sentirem doentes, o ideal é que aproveitem o isolamento para descansar e logo regressam à atividade física quando se sentirem melhor.
"Não proibimos ninguém de fazer e até aconselhamos porque está provado que pessoas que fazem atividade física regularmente têm menos risco de desenvolver doença mais grave de COVID-19. Por isso, claro que sim, as pessoas devem fazer exercício. Contudo, durante o período que estão com COVID-19, se calhar forçar não é o mais indicado", esclarece.
Inês Abrantes realça ainda que não só nos casos de infeção por COVID-19, mas em todos os tipos de patologia, "deve haver um trabalho conjunto de uma equipa multidisciplinar (personal trainer, médicos, nutricionistas e fisioterapeutas)".