É muito provável que conheça um amigo, um colega ou um familiar que tenha prazer em contorcer ou "estalar" as articulações dos dedos, do pescoço ou das costas. Além de fazer um som geralmente incomodativo para quem ouve, é muitas vezes associado a possíveis lesões nas articulações. Se é daquelas pessoas adeptas desta prática, quantas vezes já não foi avisado de que "estalar" os dedos faz com que, a longo prazo, eles vão entortando? Provavelmente não faz caso e continua a fazer o mesmo porque, afinal, é uma sensação que traz bem-estar imediato.

Mas se continua a insistir na ideia de que "estalar" quaisquer articulações provoca danos, saiba que está enganado — não passa de um mito que, como qualquer outro, não tem fundamento científico que o comprove.

Quem o diz é Pedro Pimentão, ortopedista e especialista em membros superiores, que explica que esse "estalar" das articulações tem, na verdade, origem num fenómeno muito simples conhecido como cavitação. "Quando se puxa o dedo, o que acontece é que a articulação separa-se e isso leva a uma diminuição da pressão dentro da articulação, na qual há normalmente líquido sinovial que facilita o movimento das articulações."

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E continua: "Com o 'estalar', os gases existentes no líquido sinovial deixam de estar dissolvidos e dá-se a formação de uma bolha de ar entre os ossos de uma determinada articulação".

O fenómeno, que Pedro Pimentão garante ser imediato, dura pouco tempo. É que "logo a seguir, os ossos voltam a aproximar-se e a bolha de ar desaparece."

Mas como se explica o alívio ou o bem-estar após um simples "estalar" das articulações? É fácil: "Sabe-se, de fonte científica, que o estalar frequente das articulações torna-as mais soltas e é isso que causa o bem-estar imediato a quem o faz", e Pedro Pimentão assegura que isto é válido não só para os dedos das mãos, mas também para a zona da coluna ou do pescoço.

O som que se ouve e que é decorrente da libertação de gás do líquido sinovial das articulações também tem uma explicação. "Em 2015, uma equipa de cientistas canadianos observou em tempo real o fenómeno através de uma ressonância magnética e o que conseguiu concluir é que o som é produzido quando a articulação se separa e a bolha é formada."

Pedro Pimentão, ortopedista e especialista em membros superiores, diz que a ideia de que 'estalar' os dedos causa lesões não passa de um mito
Pedro Pimentão, ortopedista e especialista em membros superiores, diz que a ideia de que 'estalar' os dedos causa lesões não passa de um mito

No entanto, o ortopedista não tem dúvidas de que a ideia de que um simples ato como este seja capaz de causar lesões nas articulações está errada. "Essa ideia não passa de um mito que não se comprovou nos vários estudos científicos que têm vindo a ser feitos nesse âmbito."

Aliás, e segundo conta, são vários os estudos que se propuseram a determinar se "as pessoas que estalam os dedos desenvolvem mais deformações e artroses" do que aquelas que não o fazem. Os resultados obtidos não permitiram chegar a essa conclusão já que não foram identificadas quaisquer diferenças.

"Por isso, o 'estalar' dos dedos não é nefasto para as articulações e não causa deformações ou artroses em que o faz frequentemente. Pode, sim, ser desagradável para quem ouve e até se pode tornar num 'tique' quando é realizado muito frequentemente, mas não há consequências objetivas para os ossos", conclui Pedro Pimentão.