É difícil ainda não ter ouvido falar dos famosos tratamentos que permitem atenuar os sinais da idade, desde os peelings faciais ao botox que dá conta das rugas de expressão. Mas pouco se fala em rejuvenescer os órgãos genitais femininos, não só por motivos estéticos como de saúde e bem estar.

É disto mesmo que se encarrega a ginecostética, uma área da ginecologia que tem crescido em Portugal na última década.

A razão para a maior procura? Uma maior consciencialização em relação à saúde genital feminina, mas não a suficiente para a esmagadora maioria saber exatamente do que se trata. Nós fomos saber.

"A ginecostética consiste no rejuvenescimento genital feminino nas suas vertentes estética e funcional", explica à MAGG a médica especialista em ginecologia e obstetrícia, Belisa Vides. "A correção de aspetos estéticos ou funcionais dos órgãos genitais femininos permite o rejuvenescimento e a melhoria da saúde íntima da mulher, numa espécie de 'delivering what women want [dar às mulheres o que elas querem, em português]'", acrescenta.

Contudo, mesmo que uma mulher não se sinta bem consigo mesma, por vezes não procura soluções. "Por razões de ordem cultural, religiosa ou socioeconómica, 70% das mulheres não procuram ajuda por acreditarem que essas alterações fazem parte do processo normal de envelhecimento" ou ainda porque desconhecem as soluções disponíveis, explica Belisa Vides, da RFMed – Clínica de Medicina Estética e Antienvelhecimento Dra. Rita Dias Ferreira, em Braga.

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Umas delas é então a ginecostética, cujos tratamentos diferem das cirurgias estéticas genitais femininas. Enquanto estas implicam cirurgia com uma sedação ou anestesia geral e internamento, os tratamentos de ginecostética usam técnicas minimamente invasivas que permitem uma intervenção indolor e uma recuperação mais rápida.

"A grande vantagem é a ausência das complicações associadas aos procedimentos excecionais, como dor, hemorragia, infeção, cicatrização com fibrose, formação de aderências, alterações da sensibilidade, dispareunia e necessidade de uma reintervenção", destaca a médica especialista em ginecologia e obstetrícia.

Entre as situações que levam as mulheres a procurar intervenções nos órgãos genitais, estão casos de hipertrofia dos pequenos lábios vaginais, assimetrias ou lesões pós-parto que muitas vezes, ao serem ignorados, afetam a vida social, sexual e o bem estar. "Por exemplo, a privação da atividade sexual por dispareunia, causada pela secura vaginal, ou a suspensão de aulas em ginásios ou caminhadas por pequenas perdas de urina", refere Belisa Vides.

Como recorrer então aos tratamentos? Uma consulta com um médico ginecologista é o primeiro passo para sinalizar o desconforto e avaliar qual a correção mais adequada. É este mesmo profissional que, com base na anatomia das estruturas dos órgãos genitais femininos e nos conhecimentos das técnicas cirúrgicas disponíveis, pode prescrever o tratamento que considera necessário e adequado a cada mulher.

Não há uma idade certa para avançar com os tratamentos, mas a maioria das mulheres que os procura situa-se entre os 18 e os 35 anos. A razão? É principalmente nesta fase que "sentem alguma insatisfação com o aspeto estético dos seus órgãos genitais, ou procuram restabelecer algumas características alteradas durante o processo de envelhecimento ou maternidade", aponta Belisa Vides.

Que tratamentos existem?

A oferta é bastante vasta. É o caso de técnicas que combinam radiofrequência fracionada e energia bipolar ou lipolise dos tecidos, promovendo uma melhoria da flacidez, da microcirculação sanguínea e da hidratação dos tecidos da vagina e da vulva.

Existe também o AccuTite, usado nos pequenos lábios vaginais para dar firmeza e diminuir a flacidez e remodelar ou reduzir de forma significativa as suas dimensões. "Com esta técnica, em contraste com as técnicas cirúrgicas e o laser, há a preservação do contorno externo dos pequenos lábios e manutenção da sua tonalidade", destaca a especialista em ginecologia e obstetrícia. A ginecostética permite ainda corrigir cicatrizes de perineotomias (incisão feita na região do períneo para facilitar a facilitar a extração do bebé no parto), remodelar e preencher os grandes lábios vulvares e amplificar o ponto G.

Lembra-se dos peelings de que falávamos ao início? Também há para a vulva e permitem corrigir alterações da pigmentação vulvar.

O que mais incomoda as mulheres?

Quando se fala no caráter funcional da ginecostética, este não se restringe aos benefícios na vida sexual. Uma das situações diz respeito às complicações trazidas pelo pós-parto e que podem ser revertidas. "Os principais problemas são os relacionados com o hipoestrogenismo transitório e atrofia urogenital e as cicatrizes resultantes de perineotomias. Progressivamente, as alterações provocadas pelo parto, como a sensação de alargamento vaginal e incontinência urinária para pequenos esforços", aponta a médica Belisa Vides.

A mesma refere que, para estes casos, o mais indicado são os tratamentos de radiofrequência vaginal (Forma V) e basta esperar um mês após o parto para dar início à intervenção.

Já quanto aos aspetos estéticos que mais incomodam as mulheres, aquele que se destaca é o aspeto estético dos pequenos lábios vaginais, seja pelo tamanho, assimetrias ou lesões pós-parto. Entre as tecnologias não invasivas disponibilizadas pela Ginecostética, a técnica RFAL (radiofrequência associada a lipólise dos tecidos), que usa o referido AccuTite, é a mais indicada para corrigir o desconforto.

A transformação da vida sexual através da ginecostética

"Uma parte do prazer sexual está intimamente relacionado com a satisfação com o corpo, sendo os mais pequenos detalhes causadores das maiores inseguranças", destaca Belisa Vides.

A sexualidade individual da mulher e a própria dinâmica do casal pode ficar afetada por sintomas subestimados pelas mulheres. Um deles vimos no caso anterior, o aspeto estético dos pequenos lábios vaginais, que não diz respeito a uma questão meramente estética, mas sim com amplo impacto no dia a dia.

Pode causar "desconforto durante o ato sexual, durante o uso de vestuário justo ou limitações na prática de desporto", refere a médica em ginecologia e obstetrícia, justificando que é por isso que este tipo de tratamentos em Portugal é um dos mais procurados em Portugal.

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"A ginecostética, através da restauração da saúde íntima feminina nas suas vertentes estética e funcional, devolve à mulher a sua autoestima e autoconfiança, quer através da redução do desconforto, quer através do aumento da sensibilidade e bem estar, refletindo-se na sua vida sexual e de casal", conclui Belisa Vides.

Quanto a custos, "há o mito de que tratamentos desta natureza são caros ou inacessíveis", aponta a médica, acrescentando que "as técnicas não invasivas são mais acessíveis economicamente para as pacientes". Os preços dependem do tipo de tratamento e podem começar nos 300€ a 400€, no caso da radiofrequência vaginal, e ir até aos 1500€ a 2000€ quando se trata de técnicas de restauração funcional mais complexas, como a labioplastia com o AccuTite.