Podemos até ter a possibilidade de escolher a profissão, mas não o modo como trabalhamos. Por mais que adore tratar da contabilidade de uma empresa ou dos dentes de um paciente, essas são profissões que inevitavelmente terá de exercer sentado. E quanto a isso não há muito a fazer. Contudo, pode sim escolher fazer uma caminhada antes do trabalho ou ao final do dia, só que o cansaço acaba por levá-lo a caminhar até ao sofá mais próximo, ligar a Netflix e pôr as séries em dia.

É escusado dizer que esta prática está associada ao sedentarismo, mas há muitas outras situações que podem estar a comprometer a sua saúde. E não somos nós que o dizemos. A prova é dada pela Direção Geral de Saúde, que revela que a "atividade física reduz as taxas de mortalidade por todas as causas, doença coronária, a hipertensão, trombose (AVC), síndrome metabólico, diabetes tipo II, cancro da mama e colorretal, depressão e quedas". Uma lista com ainda mais pontos que podem ser melhorados se seguir as indicações da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Esta startup vai mudar a minha vida. Exercício físico em 3 minutos no local de trabalho
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Esta estabelece que os adultos pratiquem, pelo menos, 150 minutos por semana de atividade física de intensidade moderada, ou 75 minutos de atividades vigorosas. Este já seria um começo, do qual beneficiaria se juntasse exercícios de força muscular. Mas não vamos a tanto (pelo menos para já).

Se fizer as contas, 150 minutos por semana correspondem apenas a 20 minutos por dia, o que é menos do tempo que passa, por exemplo, à procura de um filme que lhe agrade. E apenas estes 20 minutos já ajudam a prevenir problemas que vão desde a cabeça aos glúteos. Porque é isto que acontece quando passa oito horas por dia sentado.

Mente: a inatividade faz com que pense mais lentamente e afeta a produção das hormonas da felicidade — endorfina e serotonina.
Pescoço: a postura pode levar a problemas cervicais, desde hérnias, a sobrecargas do trapézio ou enxaquecas.
Pulmões: a primeira coisa que limita nossa atividade física é o VO₂ máximo (volume de oxigénio máximo), que é a quantidade máxima de oxigénio que somos capazes de absorver e usar num minuto.
Ombros: pode haver uma rutura do tendão supra espinhoso por um continuo apoio deficiente do braço e má postura.
Coração: 64% de maior probabilidade de ter algum tipo de doença cardíaca.
Dorsais: fechamento na cifose dorsal (zona mais alta do tronco projeta-se um pouco para fora) causada pela rotação dos ombros para a frente e a cabeça para a frente.
Pulsos: sobrecarga no túnel cárpico (compressão do nervo mediano no punho) e tenossinovite de De Quervain (inflamação dos tendões que passam do punho para o polegar) devido ao uso do rato e do teclado.
Coluna vertebral: a sobrecarga na coluna pode levar a hérnias discais.
Aparelho digestivo: o organismo digere os alimentos com mais dificuldade.
Glúteos: Perdem capacidade de resistência e elasticidade, uma vez que ao estarem sempre na mesma posição perdem colagénio e elastina.
Ossos: Estima-se que pode perder cerca de 1% de massa óssea anualmente se passa mais de 6 horas sentado por dia.

E os portugueses, apesar de sofrerem de alguns destes problemas, sabem bem porque é que não são mais ativos. A DGS revela que a falta de motivação é uma das maiores "desculpas": 45% diz que tem falta de interesse, falta de gosto pela competição e falta de tempo, mas noutros casos corresponde à falta de oportunidade ou com os custos ou acesso. Uma menor percentagem — 15% — mostra que a inatividade está relacionada com incapacidade física, doença ou receio de contrair lesão.

Que soluções pode então adotar? A primeira não é novidade — fazer exercício físico — mas pode fazer algumas mudanças mesmo quando está no trabalho. A OMS recomenda que as pessoas levantem-se da cadeira a cada meia ou uma hora para um pequeno passeio — o típico "esticar as pernas".

E é óbvio que esta sugestão não inclui a ida à rua para fumar, porque aí estaria a movimentar o corpo, mas a prejudicar os pulmões. Passe ao lado do elevador e suba sempre as escadas para o trabalho, não peça ao colega para trazer o café e vá buscá-lo, e não arraste a cadeira para ir à impressora — não custa nada ir pelo próprio pé, pois não?