Uma mulher que recebeu o útero de uma dadora falecida deu à luz uma menina em Ohio, nos Estados Unidos. O parto de cesariana, que decorreu a 9 de junho, foi feito pela Cleveland Clinic. É a primeira vez nos Estados Unidos e a segunda vez na história que uma mulher com este órgão transplantado consegue ter uma criança.

A mulher, cuja identidade não foi revelada, nasceu sem útero, tendo recebido este órgão em 2017, fruto do transplante de um doador que morreu no final de 2017. No final de 2018, a mulher conseguiu engravidar através de fertilização in vitro. Quer o transplante, quer o parto, fazem parte de um ensaio clínico que pretende ajudar mulheres que não podem ter filhos — devido à infertilidade causada por fatores uterinos — a engravidarem.

“Foi incrível o quão perfeitamente normal foi este parto, considerando as circunstâncias extraordinárias”, disse, em comunicado de imprensa, citado pelo “Insider”, Andreas Tzakis, cirurgião da Cleveland Clinic. “Através deste ensaio, pretendemos tornar estes acontecimentos extraordinários em comuns para que as mulheres possam ter esta opção. Somos gratos ao doador e à sua família; a generosidade deles permitiu que o sonho do nosso paciente se realizasse e um bebé novo pudesse nascer.”

À data, a equipa de investigação desta clínica já completou cinco transplantes de úteros (há mais mulheres em lista de espera) de doadoras falecidas, três dos quais resultaram em intervenções de sucesso. Destes três, um corresponde a este parto — as outras duas mulheres aguardam a transferência dos embriões. "Isto vai ao encontro da ideia de que um doador falecido pode dar o seu útero e que este vai funcionar incrivelmente bem", disse, citado pela "CNN", Tommaso Falcone, um dos membros da equipa de transplante. O mesmo médico adiantou que, até ao nascimento, todo o processo demorou 15 meses, tendo esta mãe deixado o hospital, junto da bebé, três dias após a cesariana.

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O primeiro parto que aconteceu nas mesmas circunstâncias foi feito a mulher de 32 anos nascida sem útero, que recebeu o de uma doadora falecida de 45 anos. A intervenção também fez parte de um estudo clínico, desta vez brasileiro.

Na Cleveland Clinic as regras são ligeiramente diferentes, uma vez que aqui só se aceitam úteros de mulheres doadoras com idades entre os 18 e os 40 anos. Os desafios de transplantar um útero de uma doadora falecida são grandes — quando o doador está vivo, é possível transferir imediatamente o órgão para o novo recetor. Neste caso, é diferente, porque a prioridade é dada aos órgãos vitais, aqueles que são capazes de salvar vidas (coração, fígado ou rim, por exemplo). Ou seja, só depois de estes serem retirados é que os médicos podem focar-se nos que têm potencial para melhorar a vida de outros pacientes, como é o caso do útero. Segundo a equipa desta clínica, havia incertezas quanto à capacidade do útero permanecer viável para transplante após a sua extração.

O processo para as mulheres que se candidatam a este ensaio clínico tem várias fases: primeiro, a paciente é examinada duas vezes, tendo em conta o historial médico; se o paciente encaixar no perfil necessário, começa o processo de fertilização in vitro, removendo os óvulos dos ovários das candidatas, misturando-o com o esperma do pai, de forma a haver embriões suficientes para o implante. Depois, acontece o transplante do útero. No pós-operatório, as pacientes recebem medicação imunossupressora, de forma a evitar que o corpo rejeite o novo órgão. Correndo tudo bem, faz-se a inseminação e o teste termina com o nascimento de um bebé, como aconteceu neste caso. 

Seja com doadores vivos ou falecidos, há sempre risco de o corpo do recetor do útero poder rejeitá-lo. Segundo Falcone, a principal causa é a trombose ou coagulação do sangue no útero transplantado, seguindo-se uma infeção.

“Não poderíamos ter pedido um resultado melhor. Tudo correu maravilhosamente com o parto e a mãe e a menina estão muito bem”, disse, citada pela "Insider", uma especialista em medicina materna fetal desta clínica. “É importante lembrar que isto ainda é investigação. O campo do transplante de útero está a evoluir rapidamente e é emocionante ver quais são as opções para as mulheres no futuro.”

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