António Manzarra, irmão do apresentador João Manzarra, começou a sua vida empreendedora com a abertura de um restaurante no Estádio do Restelo, há cerca de 12 anos. Durante esse período, experimentou a prática do crossfit, à época, "algo muito novo em Portugal", sendo que "na zona de Lisboa, havia apenas um sítio em Sintra, e outro na Amadora para praticar. Gostei tanto que decidi, com o meu irmão, abrir um espaço nosso de crossfit, também no estádio do Restelo", diz António, de 34 anos, em entrevista à MAGG, referindo-se ao seu espaço, Crossbox Restelo.

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"Foi daqui que nasceu o meu interesse de começar a praticar a modalidade, e de gostar tanto, que vi que era algo que tinha potencial para crescer, e vai agora fazer 9 anos que abrimos este espaço. Desde então o meu interesse pelo fitness e pela saúde foi crescendo. Também me fui interessando por outras áreas, tirei um curso de yoga, e também sou professor de surf, por isso estas áreas de saúde, fitness, natureza, de estar bem com o próprio corpo, sempre foram coisas que nos últimos 10 anos fui explorando de várias maneiras", afirma.

O encontro com o método Wim Hof

Durante a pandemia, tal como muitas pessoas, António passou por uma altura particularmente difícil. "Tinha o ginásio fechado, e durante vários meses senti ansiedade e stress, porque não sabia bem o que é que ia acontecer no futuro. Comecei a ter algumas dívidas, então isso criou alguma tensão em mim, até que tive um episódio de stress". António sofreu uma infeção viral chamada zona, provocada pelo mesmo vírus da varicela, que "pode despertar com um episódio de stress", explica.

"Tive um episódio de stress na altura do COVID, que me espoletou este vírus, e nunca senti tantas dores na minha vida. Foram semanas mesmo duras, porque nem conhecia este tipo de dor, e foi neste momento que realmente percebi que havia algo em mim que eu não conseguia controlar. Não tinha qualquer controlo no sistema nervoso, percebi que já não era muito resistente ao stress. (...) Foi neste período mais penoso da minha vida que estive à procura de soluções".

"Fui ao Google e pesquisei sobre como podia controlar o meu síndrome nervoso, como é que eu podia ter uma conexão maior entre a minha mente e o meu corpo, e foi das coisas que me apareceu. Eu já conhecia o Wim Hof, ele ficou muito conhecido no início dos anos 2000, porque tem 20 e tal recordes do mundo, do Guinness, e ficou bastante conhecido como o 'The Iceman', e eu lembro-me de o ver. Não foi algo totalmente novo, mas nunca tinha experimentado".

A partir daí, António confessa que arriscou experimentar esta modalidade. "Comecei a praticar online, fiz um workshop em Lisboa, e desde então já passaram dois anos e meio que é algo que implementei na minha vida e que me tem trazido inúmeros benefícios até aos dias de hoje. Entretanto acabei a formação no início de fevereiro, e desde aí que tenho estado a espalhar a mensagem sobre a prática deste método".

"Três pilares: exercícios de respiração, foco mental e a exposição ao frio"

De acordo com António Manzarra, o método do holandês Wim Hof começou em 2012, mas só em 2014 explodiu para o mundo, época em que surgiram os primeiros estudos científicos. "Fizeram estudos com grupos de controlo, para ver se realmente haviam efeitos nas práticas do Wim Hof, e conseguiram comprovar que é possível nós influenciarmos o nosso sistema nervoso através da respiração. (...) O método é composto por três pilares: exercícios de respiração, foco mental e a exposição ao frio. A prática em si são dois exercícios, que é a respiração e a exposição ao frio. Tanto um como o outro são exercícios que idealmente provocam um stress bom no corpo, mas um stress curto, que deixa depois o corpo descansar, adaptar-se, e ficar mais forte", explica o instrutor.

"Os exercícios de respiração dizem respeito a uma respiração algo intensa. A ideia é ativar o sistema nervoso simpático, quando estamos mais alerta, mais ativos, é uma respiração muito ofegante, e depois uma parte de retenção, onde a ideia é ir ficando o mais calmo possível, e quanto mais calmos estivermos mais conseguimos aguentar sem fôlego. Então a respiração trabalha aqui estas duas partes do nosso sistema nervoso, e a exposição ao frio é igual. Quando entramos [na água] o nosso corpo entra em modo de sobrevivência. O sistema nervoso fica muito acelerado, e através da respiração, queremos acalmar o corpo, e conseguir controlar o sistema nervoso".

No fundo, António revela que todo o processo é um "treino mental", de modo a aprendermos a "reconhecer o nosso próprio stress", e "a partir da respiração, conseguirmos controlar, passar de um estado para o outro, porque às vezes queremos estar mais ativos, outras vezes queremos descansar, e muitas vezes não conseguimos reconhecer o stress". "Este método ajuda a reconhecer o stress no corpo, dá ferramentas de como relaxar, ou como ativar o corpo", afirma o instrutor de Wim Hof.

"Os banhos de gelo são o que é mais conhecido do método, que também é a parte que fica mais nas fotografias mas os exercícios de respiração são tão importantes como os banhos de gelo. São sessões que podem demorar entre 15 a 25 minutos e que podem trazer estados de euforia para aliviar traumas. Já tive pessoas a chorarem, é uma experiência bastante intensa. Muitas vezes as pessoas têm a ideia de que o método é só o gelo, mas não, tem um trabalho respiratório bastante poderoso".

Método Wim Hof - exercícios de respiração
créditos: divulgação

Da parte física à psicológica: os benefícios desta prática

António conta à MAGG que são vários os pontos positivos deixados por este método no corpo, quer seja ao nível da redução do stress, dos banhos gelados que, em si, reduzem a inflamação muscular, os efeitos hormonais, e ainda o facto de "ajudar a dormir melhor", causando "um cansaço bom no corpo".

"A nossa mente trabalha sempre em termos de comparação", começa por explicar. "Quando nos expomos ao frio, a estas temperaturas muito geladas, o nosso corpo tem um choque de stress, mas curto", uma vez que "não fazemos o banho de gelo durante mais de dois minutos". Durante esse tempo, "naturalmente criamos resistência, quando somos novamente confrontados com stress. A nossa perspectiva em relação ao stress vai mudando".

Quanto à "exposição ao frio", refere que "os banhos de gelo são algo que não é nada de novo por exemplo para desportistas, que já o fazem bastante", uma vez que é possível "reduzir a inflamação [muscular] muito mais rapidamente". Para além disso, "é um treino cardiovascular, porque quando entramos no banho de gelo ou mesmo quando fazemos a respiração, há uma grande contração dos nossos vasos sanguíneos, e quando saímos há uma dilatação".

Contudo, António conta que foi a questão hormonal que o fez ganhar a paixão pelo método. "Era algo que eu não conhecia antes de praticar. Há um pico enorme de adrenalina, de dopamina e de serotonina, isso significa que os efeitos psicológicos depois de entrar no banho de gelo são uma grande boa disposição, um grande foco. Sinto que quatro ou cinco horas após o meu banho de gelo, estou completamente focado, sem ansiedade. (...) Consigo estar durante muito tempo focado". Em suma, "o meu foco, atenção, e boa disposição foram o que me fez reter aqui no método, para além dos mecanismos que tenho agora se me sentir stressado. Tenho ferramentas que me podem ajudar no dia a dia".

Também o apresentador João Manzarra se tornou fã do Wim Hof. "Comecei a praticar com o meu irmão, quando tirei o curso, e ele está totalmente apaixonado. Antes dos programas ele faz sempre os exercícios de respiração, vem a minha casa três ou quatro vezes por semana fazer banhos de gelo, porque realmente sentiu que traz imensos benefícios para o trabalho dele".

"Ganhamos o controlo sobre o nosso corpo, e não é o corpo que nos controla a nós"

O instrutor falou ainda sobre as dificuldades sentidas quando alguém se estreia numa banheira de gelo. "A primeira vez que tomam banho é sempre uma grande surpresa, porque nunca fomos confrontados a entrar numa água assim. Todas as nossas entranhas do corpo estão a gritar 'não, que estupidez, o que é que estás a fazer', então este realmente é um desafio para irmos contra a voz que está dentro da nossa cabeça que diz sempre que não, e que só quer conforto. Quando entramos há uma reação natural do corpo, que nós não temos controlo, o corpo vai reagir naturalmente. Nós vamos respirar muito rapidamente pelo peito, e o que temos de fazer conscientemente é contrariar o corpo, temos de respirar o mais devagar que conseguirmos".

Método Wim Hof - banho de gelo
créditos: divulgação

"Ao conseguirmos controlar este instinto natural, vamos conseguindo sentir uma calma interior, uma paz, e entramos quase num estado meditativo, porque quando estamos no gelo não estamos a pensar em mais nada, estamos a sentir muitas coisas. Conseguimos encontrar uma paz interior nestes dois minutos, que dentro de nós às vezes parecem muito mais, mas quando conseguimos é uma sensação muito boa, de controlo, ganhamos o controlo sobre o nosso corpo, e não é o corpo que nos controla a nós, e isso também dá aqui uma grande ajuda na confiança e na boa disposição", refere.

O funcionamento dos workshops e contraindicações

António explica que, em média, um workshop dura cerca de cinco horas. "Há uma explicação profunda do método, há uma troca de experiências entre as pessoas , depois há a parte dos exercícios de respiração, e só no final é que vamos para o frio. Isto é muito um exercício mental".

"Com o desenrolar do workshop a ideia é trabalhar a mente das pessoas para acreditarem que conseguem fazer, porque isto é uma coisa que vai contra todas as entranhas das pessoas. O meu papel é explicar o método, praticar a respiração, mas ao mesmo tempo fazer com que as pessoas acreditem, e trabalhar a mente delas neste processo de trocar aquele mindset em que já temos muitas ideias pré-concebidas sobre as coisas, do que é que gostamos, do que é que não gostamos, e é fazer um reset, e fazer outra vez as perguntas, 'mas porque é que eu não gosto disto?' ou 'porque é que eu tenho estes receios?' e questionarmo-nos a nós próprios", explica.

Workshop - Método Wim Hof
créditos: divulgação

Só no fim, após todo o trabalho mental, é que cada pessoa decide, por vontade própria, se quer entrar no banho de gelo. Contudo, António afirma que, nesta altura do workshop, as pessoas "já estão com a confiança necessária para enfrentar o desafio".

"Depois o meu papel, exatamente na altura do banho de gelo, é muito pessoal, e muda de pessoa para pessoa, porque há quem goste de manter contacto visual, há quem não goste, mas a minha ideia é ali nos primeiros 30 ou 40 segundos, estar ao lado das pessoas, a respirar com elas, ter a certeza que elas estão a conseguir fazer a respiração muito devagar, e se conseguirem entre 40 a 50 segundos ficarem calmas, vão fazer os dois minutos, mas se naquele tempo não conseguirem ficar calmas, vão sair do banho de gelo, porque se não conseguirem no primeiro minuto, dificilmente vão conseguir a seguir. É um desafio pessoal, e se uma pessoa fez um minuto não quer dizer que falhou, cada pessoa vai ter o seu desafio", afirma o instrutor.

António diz ainda que, regra geral, toda a gente consegue ficar os dois minutos, porém, há casos de pessoas que não conseguem preparar-se mentalmente para o exercício, e "há pessoas que ficam só 20 segundos e saem", apesar de admitir que não acontece muito.

O instrutor conta que existem pessoas mais propensas a aguentar o choque térmico do que outras. "Tem muito a ver com a resistência ao stress, como é que as pessoas normalmente lidam com os problemas que enfrentam na vida, porque na verdade a pessoa vai estar exposta a um stress muito grande, curto, obviamente, mas é um stress. É um teste também, a ver como respondem ao stress que aparece na vida".

Se até aqui já ficou com curiosidade em testar este método, saiba que nem toda a gente o pode experimentar. De acordo com António, não é aconselhado em casos de pessoas com:

  • Doença cardíaca
  • Hipertensão arterial
  • Epilepsia
  • Urticária ao frio
  • Doença de insuficiência renal
  • Síndrome Raynauds tipo 2
  • Qualquer tipo de cirurgia recente

O método Wim Hof, e mais precisamente os workshops de António Manzarra, têm sido alvo de "bastante adesão", partilha. "Até agora dei três workshops, e tive todos cheios. Tenho um próximo no dia 15 de abril, com um máximo de 15 pessoas. O workshop são cinco horas, há uma parte teórica do método, uma explicação de como é que começou, do que estamos aqui a trabalhar, a divulgação de alguns estudos científicos que já fizeram sobre o método, e depois a prática do mesmo [respiração e banho de gelo]", conclui o instrutor.

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