Ecossistemas gigantes como a Amazónia podem entrar em colapso em menos de 50 anos, sugere um novo estudo, publicado na revista Nature. A investigação foi realizada recorrendo a simulações de computador, onde se utilizaram dados do mundo real referentes a mais de 40 ambientes naturais — quatro ecossistemas terrestres, 25 de água salgada e 13 de água doce.

Segundo os investigadores da Bangor University, da Southampton University e da University of London, alguns destes ecossistemas estão a colpsdar a uma "taxa significativamente mais rápida" do que calculado anteriormente.

O caso dos recifes de corais das Caraíbas é um dos mais graves: o estudo sugere que esta área com uma extensão de cerca de 20 mil quilómetros pode vir a tornar-se branca e escassamente povoada num espaço de apenas 15 anos.

"Infelizmente, o que o nosso estudo revela é que a humanidade precisa de se preparar para mudanças muito antes do esperado", disse, citado pelo "The Independent", Simon Willcock, autor principal do estudo, da Escola de Ciências Naturais da Bangor University.

"Essas mudanças rápidas nos maiores e mais emblemáticos ecossistemas do mundo afetariam os benefícios que eles nos proporcionam, incluindo tudo, desde alimentos e materiais, ao oxigênio e água que precisamos para a vida."

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Através das simulações em computador, perceberam que, ainda que ecossistemas maiores levem mais tempo a colapsar, este processo está a decorrer rápido face à velocidade de destruição dos sistemas naturais mais pequenos.

"Sabíamos intuitivamente que os grandes sistemas entrariam em colapso mais lentamente do que os pequenos - devido ao tempo necessário para que os impactos se difundissem em grandes distâncias", disse John Dearing, professor de geografia física da Southampton University, envolvido no estudo.

"Mas o que foi inesperado foi a descoberta de que os grandes sistemas entram em colapso muito mais rápido do que poderíamos esperar - mesmo o maior da Terra, levando apenas algumas décadas."

Um professor de bioquímica que não está envolvido no estudo comentou a investigação. Nas palavras de James Crabbe esta é "minuciosa e bem investigada."

No entanto, há quem conteste. Erika Berenguer, investigadora associada da reputada Universidade de Oxford e Lancaster, também não participou no estudo e, depois de o analisar, disse que estas conclusões não eram suportadas pelos dados analisados.

"Os autores usam dados de apenas quatro sistemas terrestres, nenhum dos quais é uma floresta tropical, mas mesmo assim afirmam que a Amazónia, a maior floresta tropical do planeta, sofrerá um declínio em apenas 50 anos", disse. "Embora não haja dúvida de que a Amazônia corre um grande risco e que um ponto de ruptura é provável, estas alegações ocas não ajudam a ciência nem a formulação de políticas."