Ouvimos falar das palhinhas, das beatas e dos microplásticos. Até trocámos a garrafa de plástico pela de vidro, deitamos o papel no ecoponto azul e passámos a ir às compras com os sacos que temos em casa. E pronto, está feita a nossa parte.
Não que esses gestos não sejam importantes, mas pecam por tardios. O problema há muito que deixou de ser local, e aquele cigarro que apagámos ontem no chão é provável que seja confundido com alimento por mais um pássaro na Florida.
Já não faltam provas quanto aos efeitos das alterações climáticas — ainda que os céticos resistam — e um estudo recente veio reforçar que, no que diz respeito às temperaturas, não há zona do mundo que consiga escapar à mudança.
Dizer que em 2050 Londres vai ter um clima semelhante ao de Barcelona pode até parecer uma boa notícia para quem quer visitar a cidade sem levar com o frio e a chuva habituais. Mas pense lá outra vez. Nas mesmas condições, Londres poderia, tal como aconteceu com Barcelona em 2008, enfrentar períodos de seca que levaram a cidade espanhola a ficar praticamente sem água potável.
E quem diz Londres diz outras cidades do mundo, uma vez que este estudo feito por um grupo de investigadores do Instituto de Tecnologia da Universidade de Zurique revela que daqui a pouco mais de 30 anos, 77% das cidades em todo o mundo terão um clima diferente do atual e, muitas vezes, semelhante ao de cidades que ficam a mais de mil quilómetros de distância. Os outros 23% referem-se a cidades mais próximas dos trópicos e que terão temperaturas semelhantes às de hoje, ainda que registem períodos mais longos de chuvas e secas.
Assim, e fazendo um paralelismo entre algumas das 520 cidades analisadas, os cientistas concluem que, em 2050, Madrid terá um clima semelhante ao de Marraquexe, São Francisco será parecido a Lisboa e Estocolmo estará mais próximo do clima de Budapeste. "Comparar diretamente as cidades pode ajudar as pessoas a ter uma noção do impacto da mudança climática na sua própria cidade ao longo da sua vida", explica Jean-Francois Bastin, principal autor da investigação, na conclusão do estudo.
As regiões mais a norte, incluindo grande parte da Europa, são as que vão enfrentar as alterações de temperatura mais drásticas — as cidades europeias deverão subir 3,5 graus no verão e 4,7 graus no inverno. O mês mais quente de Londres, por exemplo, será 5,9 graus acima do atual, o que leva a um aumento médio anual da temperatura de 2,1 graus.
Apesar de todas estas previsões, continua a haver terreno desconhecido para os investigadores. Cidades como Kuala Lumpur, Jacarta e Singapura vão enfrentar condições tão extremas que não existe atualmente nenhum lugar no mundo com o qual possam ser comparadas.
Os registos de temperatura têm batido recordes todos os anos e, na Europa, o mais recente foi registado em França, em junho, quando foram registados 45,8 graus. Já Portugal, no ano passado, esteve perto do recorde de 2003, quando, na Amareleja, foram registados 47,3ºC. Ainda assim, os 44 graus registados no dia 2 de agosto de 2018 em Lisboa representam a temperatura mais alta de que a capital tem registo.