
A política comercial da nova administração Trump pode vir a ter consequências diretas para os consumidores portugueses — nomeadamente para os fãs da Apple. Caso avancem as tarifas prometidas sobre produtos importados da China, analistas alertam para uma escalada no preço dos iPhones também no mercado europeu, incluindo Portugal.
Donald Trump anunciou recentemente tarifas de até 145% sobre bens importados da China, no que descreveu como uma resposta de “justiça recíproca”. A medida afeta especialmente empresas norte-americanas com cadeias de produção globalizadas — como é o caso da Apple.
Apesar de a Apple ser uma marca norte-americana, os seus iPhones são maioritariamente montados na China, onde mais de 90% da produção ocorre, de acordo com estimativas de analistas da Ivey Business School e do Bank of America. A introdução de tarifas pesadas encarece os custos de importação para os EUA, mas o impacto não deverá ficar confinado ao território americano.
Segundo o "The Guardian", que cita analistas de bancos como UBS e Wedbush Securities, o possível aumento de preços pode ser global. Isto porque a Apple, para evitar discrepâncias de preços e práticas de arbitragem (comprar num país mais barato para revender noutro), tende a uniformizar os valores dos seus produtos nos vários mercados onde atua. Wamsi Mohan, analista do Bank of America, afirma: “Esperamos aumentos de preços transversais, não apenas nos EUA, para evitar distorções de mercado.”
Na prática, isto significa que os consumidores portugueses também poderão vir a pagar mais. Um exemplo dramático: o iPhone 16 Pro Max (256GB), atualmente vendido por cerca de 1.499€ em Portugal, poderia subir para valores na ordem dos 2.600€, caso a Apple decida repassar integralmente os custos acrescidos. Já um topo de gama, o iPhone 16 Pro Max de 1 TB, vendido por um preço de 1799€ em Portugal poderá chegar aos 3220€.
E não são apenas os iPhones que estão em risco. Cerca de 80% dos iPads e mais de metade dos Macs são igualmente montados na China. Ou seja, a pressão sobre os preços poderá estender-se a toda a gama de produtos da marca, com exceção de alguns modelos do Apple Watch, cuja produção decorre no Vietname.
O que esperar em Portugal
A Apple já começou a transferir parte da produção para a Índia — onde cerca de 10% dos iPhones já são montados — mas os especialistas alertam que uma realocação total da cadeia produtiva demoraria anos e custaria dezenas de milhares de milhões de dólares. Dan Ives, da Wedbush, resume o cenário: “Se quisermos um iPhone feito só nos EUA, preparemo-nos para pagar 3.500 dólares por ele.” Como nos Estados Unidos um iPhone custa em média 30% menos do que em Portugal, isto poderia levar a que um iPhone em Portugal, mas montado já nos Estados Unidos, ficaria por um valor a rondar os 4.000€. E estamos a falar dos modelos mais baratos. Um Pro Max 16 de 1TB poderá ir para mais de 5000€.
A empresa poderá ainda tentar obter isenções parciais ou absorver temporariamente os custos, protegendo os preços de venda. No entanto, segundo o analista Dipanjan Chatterjee, é provável que a Apple prefira recuperar margens noutras geografias, como a Europa, onde a concorrência é menos feroz.
O mercado português, tradicionalmente alinhado com os preços de referência europeus da Apple, não deverá escapar ao impacto. O potencial aumento de preços poderá ter reflexos diretos nas decisões de compra dos consumidores e no próprio mercado de tecnologia, levando a um reforço do mercado de usados e de modelos de gamas anteriores.
Enquanto o futuro permanece incerto, uma coisa é clara: as decisões de política comercial norte-americana podem vir a pesar — e muito — no bolso dos consumidores portugueses.