Bzz bzz bzz, mais uma notificação no pulso. Entre alertas de mensagens ou chamadas perdidas, a alertas de metas de exercício alcançadas, é provável que sinta o seu relógio inteligente a vibrar dezenas de vezes por dia — o suficiente para imaginar uma espécie de vibração fantasma quando não o tem posto.

É que além de ser uma excelente ferramenta de registo de atividade física, através da contabilização de passos, do ritmo cardíaco, das calorias queimadas e todas essas coisas que interessam aos desportistas, um smartwatch é, essencialmente, uma extensão do seu telemóvel. Ou seja, uma central de notificações.

Se o seu telemóvel regista os sítios por onde anda, os locais onde faz compras, as pessoas com quem conversa e os seus hábitos de consumo, é mais do que óbvio que o seu smartwatch o vai fazer também. Ninguém o impede de contrariar esta tendência e basta, para isso, que não emparelhe os dois equipamentos. Ao fazê-lo, deixa de receber todo o tipo de alertas como chamadas, mensagens e emails.

Muito resumidamente, deixa de usar o equipamento para a finalidade com que foi construído — que é ser uma extensão do seu telemóvel e poupar-lhe tempo e trabalho. Podemos usar como exemplo paradigmático deste efeito o último jantar de equipa da MAGG.

Cada pessoa ficou encarregue de ir ao supermercado mais próximo para comprar uma série de coisas que estivessem em falta. A mim calhou-me ir buscar pão, três ou quatro embalagens de carnes frias, e um pack de cervejas. "Será que as quatro baguetes de pão chegam para tanta gente esfomeada?", pensei. Numa situação em que as mãos estavam ocupadas com sacos, o telemóvel estava no bolso e era preciso falar com a colega da redação, o relógio foi amigo.

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Bastou um simples controlo de voz e em menos de segundos estava a falar com ela pelo relógio. Não foi elegante ter a editora executiva da MAGG em alta voz no meio do supermercado e provavelmente incomodei muitos dos clientes com o som que vinha do pulso.

Mas a verdade é que o relógio resolveu um problema simples que, caso não o estivesse a utilizar, me teria obrigado a pousar todos os sacos no chão, tirar o telemóvel do bolso, desbloqueá-lo, procurar o número na lista de contactos e, por fim, telefonar.

Já todos sabemos que o smartwatch é prático e útil. Mas agora o debate é outro: será que é seguro?

Segundo um estudo realizado pela Kaspersky Lab, uma empresa russa perita em questões de cibersegurança, os sensores de aceleração e de rotação usados pelos softwares dos relógios inteligentes apresentam sérios riscos à privacidade de quem os usa — já que permitem traçar um perfil do utilizador consoante os sítios que visita ou por onde se desloca regularmente.

Registam tudo

E é óbvio que o faça já que, mais uma vez, serve o propósito de ser uma extensão do seu telemóvel. Claro que se utilizar o relógio para registar a sua atividade física ao longo do dia, convém que o faça com uma aplicação que saiba que é fidedigna sob pena de estar a dar informação sua a empresas que não conhece e que não sabe o que vão fazer com aqueles dados.

Mas esse é um tipo de cuidado que deve estar alargado a todo o tipo de plataformas. Aliás, foi através de uma aplicação aparentemente inofensiva que o escândalo entre o Facebook e a Cambridge Analytica estalou, quando se descobriu que os dados pessoais dos utilizadores tinham sido utilizados para influenciar a campanha política (e consequente eleição) de Donald Trump.

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A MAGG aproveitou o motivo de atualidade na altura e propôs que eu fizesse o download de toda a informação que o Facebook tinha sobre mim e analisasse com um olhar crítico.

E o que descobri foi que toda a minha atividade era vendida às grandes marcas e empresas de publicidade que faziam uso daquela informação para me mostrar cada vez mais e novos anúncios que, segundo eles, pudessem ir ao encontro dos meus gostos.

Lembro-me que quando quis comprar um leitor de discos em vinil, foram várias as pesquisas que fiz para encontrar aquele gira-discos que nunca falha, que é o preferido dos entusiastas e que tem as melhores críticas online. A pesquisa não durou nem uma hora, mas isso não impediu que durante o mês seguinte não fosse bombardeado com inúmeros anúncios no Facebook sobre vários aparelhos, de todas as cores e feitios.

Esta é uma situação aborrecida mas, ainda assim, é provável que a taxa de pessoas que ainda usa a rede social não tenha decrescido com o tempo.

Mas há outros exemplos em que as pessoas estão conscientes de que estão em risco e não se interessam, como o simples facto de ainda se usar palavras-chave básicas como "123456", o nome do cão ou outra qualquer fórmula que é facilmente descoberta através de programas avançados de força bruta (que testam todas as possibilidades para uma chave até conseguir uma combinação perfeita).

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Ou até mesmo o simples facto de as pessoas ainda se despirem em frente aos ecrãs do computador pensando que, se a luz da câmara não estiver acesa é porque não está a ser feita nenhuma gravação. A má notícia é que não é, de todo, difícil desativar essa luz para não levantar suspeitas do utilizador mais atento e curioso.

No meio de tanta ferramenta, plataforma ou gadget, o smartwatch — por ser um equipamento eletrónico como tantos outros — está sujeito às mesmas vulnerabilidades que um telemóvel ou um tablet. E é errado pensar que são o novo grande risco à segurança pessoal de quem os usa.

O mais próximo que alguma vez vai estar de se assustar com o seu relógio vai ser quando, durante a noite, ele lhe vibrar no braço com a força necessária para o acordar de um sono profundo. Bzz bzz bzz, mais uma notificação que pode ou não ver na altura. Na manhã seguinte, ela estará ali à distância de um simples rodar de pulso para que decida o que fazer com ela.

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