Se o conceito parece invulgar, a sigla não ajuda: ASMR (na sigla inglesa) significa Resposta Sensorial Autónoma do Meridiano. Do que é que estamos a falar exatamente? ASMR descreve uma possível resposta do nosso corpo a determinados sons ou imagens banais, caracterizada por uma agradável sensação de formigueiro na cabeça, espinha dorsal ou em locais periféricos do corpo como as pontas dos dedos. E isso é ótimo, porque ajuda-nos a relaxar — e, em alguns casos, até a adormecer.
O que era antes uma experiência partilhada por um nicho de pessoas, ganha hoje contornos mainstream com cada vez mais conteúdo a ser produzido (e consumido) no YouTube e redes sociais. Tal como existe a profissão de youtuber, existem também os ASMRrtists, profissionais que se dedicam a criar vídeos ou podcasts que estimulam sensações como estas. Um dos vídeos mais populares do ASMR no YouTube foi visualizado mais de 15 milhões de vezes e mostra uma mulher a mastigar aloé vera.
Esta sensação de formigueiro e relaxamento é muitas vezes denominada como um orgasmo mental e, tal como os orgasmos normais, variam de pessoa para pessoa. Há quem não seja de todo estimulada ao ver um vídeo do ASMR, outros garantem que têm sensações que os ajudam a relaxar, dormir melhor, focar-se ou até sentir um estímulo sexual (mas isto só acontece a uma pequena minoria).
Sons de mastigação, movimentos lentos da mão e toques no cabelo podem ajudar a relaxar
Segundo a Universidade de ASMR, existem três grandes categorias que podem desencadear este género de reações: estímulo tátil (toque leve, massagem, toque de cabelo); o estímulo visual (contacto visual, observação de movimentos lentos da mão); e os mais conhecidos estímulos auditivos (sussurros, sons da boca, sons de mastigação, objetos a arranhar, cortar, etc.).
A ideia do ASMR surgiu há cerca de cinco anos, mas a verdade é que muitas pessoas já sentiam isto — só não sabiam exatamente do que é que se tratava. A internet tornou o tema popular, a comunidade científica já está a tentar trabalhar no sentido de explorar mais o assunto. Quer-se compreender, por exemplo, como se dá esta estimulação no cérebro, o porquê de funcionar com certas pessoas e com outras não ou até mesmo quais são os seus efeitos efetivamente.
Desde 2015 que existem artigos que pretendem determinar o impacto do ASMR no tratamento do stresse e da ansiedade, insónias e perturbações do sono, depressão, dor crónica e, também, das alterações biológicas que este tipo de estímulos podem provocar.
O dia a dia corrido e uma constante necessidade de estar online leva-nos a procurar no digital novas formas de relaxar e de desligar da realidade, seja a ver vídeos de extração de borbulhas, sussurros ou white noise. Para já a ciência ainda não consegue explicar porque é que algumas pessoas sentem esta sensação de relaxamento e outras não, nem sequer se é possível estimular as que não sentem.
Até porque não está descartada a hipótese de ser apenas um placebo. No primeiro episódio da série da Netflix "Follow This", uma série documental que aborda várias temas que estão a marcar na atualidade, fala-se no ASMR. Sobre esta questão, a youtuber Maria GentleWhispering respondeu: “Se ajudar alguém, ajuda. Ponto final”.
Poder da sugestão à parte, as marcas e empresas já estão atentas a esta tendência. É o caso da IKEA e a Renault, que estão elas próprias a criar este tipo de conteúdo — com vídeos que envolvem alisar lençóis e tocar com os dedos numa capota de carro, respetivamente. O objetivo é despoletar uma experiência prazerosa que, claro, a audiência associe ao produto e à marca.