O mundo da contraceção feminina não é fácil. Quem opta pela pílula sabe que, com a sua eficácia, vem também uma lista assustadora de efeitos secundários – são as hormonas. E quanto às alternativas que não metem hormonas, elas estão lá, mas são demasiado intrusivas. E o bom que era poder fugir a isto tudo?
Pois bem, a Natural Cycles é a primeira aplicação contracetiva de sempre. A ideia foi da física sueca Elina Berglud que desenvolveu um algoritmo capaz de acompanhar o ciclo menstrual e de calcular o período fértil das utilizadoras.
Esta aplicação foi lançada em 2014, mas deu o salto em 2017, quando foi aprovada pela União Europeia (em fevereiro) e registada (em Portugal) pelo Infarmed (em agosto) como dispositivo médico. Agora, foi considerada um método contracetivo pela agência norte-americana FDA (Food and Drug Administration).
No comunicado da agência, emitido recentemente, pode ler-se que "os consumidores utilizam cada vez mais as tecnologias de saúde para tomarem decisões quotidianas" e que a a aplicação "pode ser um método de contraceção eficaz, se for usada com cuidado e de forma correta." É Terri Cornelison, diretora assistente para a saúde das mulheres no Centro de Dispositivos e Saúde Radiológica, quem o diz.
Mas deixa um aviso pertinente. "Nenhum contracetivo funciona na perfeição, e mesmo uma utilização correta da aplicação pode acabar numa gravidez." E, de facto, antes de ser aprovada pela entidade, a Natural Cycles tinha sido investigada, depois de ter sido associada a algumas gravidezes indesejadas, e de ter recebido reclamações por não ser fiável.
O que a aplicação faz é monitorizar a fertilidade das utilizadoras, e o método é totalmente natural. Mas não é isso que o torna pouco rigoroso. Todos os dias, ao acordar, as mulheres devem medir a temperatura corporal basal, e registá-la na aplicação. É com base nestas leituras diárias, que o algoritmo da aplicação vai calcular o período fértil das utilizadoras, e mostrar-lhes os dias verdes, e os vermelhos.
Mas não deve ser utilizado um termómetro qualquer – o mais indicado é que a temperatura seja medida com um termómetro basal, mais rigoroso do que os regulares. Ao contrário do que utilizamos para medir a febre, o termómetro basal mostra duas casas decimais, e é mais sensível a todas as alterações de temperatura.
Quanto à cor dos dias, os verdes são os seguros – podemos chamar-lhes assim. Estão fora da janela de fertilidade, e neste dias não haverá risco de engravidar. Nos dias vermelhos, a história é outra, e a melhor opção é a abstinência, ou a utilização de um método contracetivo (o preservativo).
Para avaliar a eficácia da aplicação, os estudos clínicos efetuados envolveram 15.570 mulheres, que a utilizaram durante uma média de oito meses, conforme se lê no comunicado da FDA. Quanto aos resultados, foram satisfatórios – a taxa de eficácia da Natural Cycles ficou acima dos 90% – mas há uma distinção importante a fazer, e tem a ver com o modo de utilização.
As mulheres que fizeram uma utilização "perfeita" da aplicação, viram-na falhar em 1,8% dos casos – porque o método contracetivo adotado nos dias férteis não funcionou, ou porque um dos dias verdes era, na verdade, mais avermelhado. A utilização "típica" da aplicação foi mais falível - em 6,5%. Nestes casos, as mulheres não usaram a informação dada pela aplicação corretamente, tendo, por exemplo, relações sexuais em dias férteis.
Importa ainda saber é que a aplicação só é útil na prevenção da gravidez (não serve de proteção contra doenças sexualmente transmissíveis) e que é pouco recomendada para quem tenha ciclos menstruais mais irregulares – a efetividade não é afetada, mas a imprevisibilidade do ciclo vai ser sinónimo de mais dias vermelhos. Também não deve ser utilizada em simultâneo com tratamentos hormonais que possam, por exemplo, inibir a ovulação.
A Natural Cycles está disponível para Android e iOS, e há vários tipos de assinatura: a mensal (8,99€) e a anual (64,99€), que inclui o envio grátis de um termómetro basal.