Foi o primeiro documentário de sempre da Netflix e o sucesso foi tal que, desde então, já foram produzidos muitos outros, como "Génio do Mal" ou "Wild Wild Country", na tentativa de replicar o fenómeno. Falamos de "Making a Murderer", uma série documental que provou que os espectadores também vibram com documentários de crime — principalmente quando as histórias são insólitas e inacreditáveis. E a de Steven Avery, a figura fulcral de toda a trama, é tudo menos convencional.
Avery, um cidadão norte-americano aparentemente normal, vê a sua vida mudar completamente quando, em 1985, é condenado a 32 anos de prisão pelos crimes de agressão sexual e de tentativa de homicídio. Em 2002, porém, são encontradas novas provas que o ilibam de todos os crimes — mas os 17 anos que Avery passou na prisão não se esquecem.
A história podia ter ficado por aqui, mas o norte-americano voltou a ser condenado outra vez em 2005. Em causa estava a morte de Teresa Halbach, uma fotógrafa local que teria sido vista na propriedade de Steven momentos antes de morrer. A sentença foi decidida dois anos depois e ditava que Avery iria passar o resto da vida na prisão. Mas o documentário da Netflix, que estreou em 2015, tratou de mostrar os contornos complexos e, muitas vezes mal contados, de um caso que se revelou difícil desde o primeiro momento, muito devido às falhas judiciais.
A segunda temporada de "Making a Murderer" estreou na passada sexta-feira, 19 de outubro, e vem revelar novos detalhes que poderão pôr em causa todos os julgamentos que existiram como consequência direta das investigações. A MAGG viu a segunda temporada e mostra-lhe as 5 novas provas mais importantes de um caso que ainda está muito longe de terminar.
Um novo exame iliba Steven Avery do crime
O momento em que Steven Avery é sujeito a um novo teste para determinar o seu envolvimento no crime de que é acusado é talvez um dos mais importantes de toda a temporada. Realizado por especialistas na área da neurociência, este teste permite analisar as ondas produzidas pelo cérebro quando estimulado por uma qualquer informação. O objetivo? Perceber se o suspeito do crime conhece pormenores do caso que só o responsável poderia conhecer.
Assim, Avery foi ligado a uma máquina que iria analisar a reação do cérebro face a três tipos de informações: as coisas que ele, de facto, sabia; informações irrelevantes; e, por fim, todos os outros detalhes que só o responsável pelo crime poderia saber. Dois dias e 13 horas depois, os resultados concluíram que Avery não era o assassino.
"A pergunta que estávamos a fazer cientificamente, era se conhecia os detalhes do crime que nunca foram revelados à imprensa e que nunca ninguém lhe disse mas que, se fosse o responsável, saberia de certeza", explicou o responsável pelo exame.
"Segundo aquilo que o seu cérebro mostrou neste teste, a verdade é que Steven não sabe o que aconteceu quando Teresa foi assassinada. Isto é uma prova muito forte já que mostra que, na realidade, é inocente", continua.
A confissão de Brendan Dassey foi forçada
Brendan Dassey, sobrinho de Steven Avery, foi considerado cúmplice do crime e acabou por ser condenado a prisão perpétua com apenas 16 anos. Porém, a sua advogada, Laura Nirider, defende que a confissão de Brendan foi forçada pela polícia e que, por isso, não tem qualquer validade para o caso.
A advogada defende que a má ação da polícia foi decorrente da forma aparentemente desleixada como o suspeito se apresentava. Desde balançar na cadeira, responder às perguntas com a mão a tapar a boca ou evitar olhar os agentes nos olhos, tudo foi motivo para que a polícia achasse que Brendan era, na verdade, culpado. A forma como o interrogaram foi intrusiva, pouco ética e levou a uma confissão forçada do suspeito que, defende a advogada, sempre teve dificuldade em interagir com outras pessoas.
"A sua incapacidade de interagir com os outros é palpável (...). Se alguém não consegue olhar os outros nos olhos, só pode significar que está a mentir e isso significa que é culpada", ironiza, e diz que o caso que foi feito contra o seu cliente é baseado apenas em palavras que foram forçadas e podem não corresponder à verdade.
Há uma nova testemunha com informação vital
A segunda temporada do documentário de crime da Netflix dá a conhecer uma nova testemunha que poderá revelar-se fundamental para descobrir o que realmente aconteceu naquela noite. Em conversa com Kathleen Zellner, a nova advogada de Steven Avery, a testemunha revela que viu um carro verde parado na estrada 147 dois dias antes do carro da vítima, Teresa, aparecer na propriedade de Avery.
Terá sido no dia seguinte, quando viu o cartaz a anunciar o desaparecimento de Teresa (e do carro), que a testemunha alertou um agente da polícia de Manitowoc, que identificou como sendo Andy Colborn — o mesmo que, misteriosamente, reportou o desaparecimento do carro da vítima muito antes de se equacionar uma situação de crime. A testemunha revelou ainda as mensagens de texto que enviou a Scott Tadych, padrasto de Bobby Dassey, irmão de Brendan, onde o informou desta nova prova. Mas admite que Tadych nunca quis saber.
Ao longo dos episódios, descobrimos também que Tadych e Dassey têm os mesmos álibis já que, alegadamente, terão passado pela estrada 147 na altura em que Teresa estaria na propriedade de Avery.
Momentos mais tarde, Zellner descobre que, na verdade, o carro de Teresa foi visto junto à propriedade de Tadych e não de Avery. Mas nem isso faz com que a investigação esteja perto de estar concluída. Seja como for, há cada vez mais falhas na narrativa da acusação que quer ver Steven Avery preso para sempre.
O conteúdo perturbador no disco rígido de Bobby Dassey
Foi durante a primeira investigação em 2006, realizada pelo agente Tom Fassbender, que a polícia confiscou o disco rígido de Bobby Dassey para análise. Problema? O conteúdo nunca foi divulgado aos advogados de Avery que, sabemos agora, poderiam ter usado os resultados para preparar uma defesa mais sólida, já que revelam o caráter de Bobby.
Foi com a chegada da nova advogada, Kathleen Zellner, que foi possível ter acesso ao histórico de consumo de Bobby na internet que incluía pornografia infantil, fotografias de cadáveres ou pesquisas com os termos "rapariga afogada" ou "arma apontada à cabeça".
Além disso, a advogada conseguiu o testemunho de várias fontes que asseguram que Bobby lhes disse que nunca tinha visto Teresa a aproximar-se da casa de Avery (como Bobby afirmou em tribunal), e que a tinha visto a sair da propriedade de Steven no mesmo dia em que chegou.
A agenda de Teresa
Antes do seu desaparecimento, Teresa falou com duas pessoas por telefone para marcar uma reunião em dois sítios e horas completamente diferentes. Dadas as localizações das duas reuniões, Kathleen Zellner concluiu que Teresa nunca teria sido capaz de regressar a casa para guardar a agenda e que, por isso, esta estaria no carro quando foi morta. Esta versão dos factos contradiz a de Ryan Hillegas, ex-namorado da vítima, que estava na posse da agenda e a apresentou como prova durante o julgamento de Avery.
A advogada defende que o facto de Ryan ter a agenda significa que teve acesso ao carro antes de este ser encontrado ao pé da propriedade de Steven Avery. Com esta informação, o ex-namorado de Teresa, que nunca foi considerado suspeito, passou agora a ser uma pessoa de intresse na investigação.
Kathleen Zellner não tem dúvidas: Ryan foi o responsável pela morte da fotógrafa.