Na primeira noite do ano, não houve tréguas na guerra pelas audiências. Enquanto a TVI fez-se valer pelo carisma e irreverência de Ljubomir Stanisic no seu "Pesadelo na Cozinha", a SIC apostou na estreia de um novo formato que, nos últimos meses, tem vindo revelar-se um verdadeiro caso de sucesso nos Estados Unidos. Falamos de "The Masked Singer" que, baseado numa ideia original sul-coreana, tem uma premissa muito simples: pôr concorrentes famosos a cantar em cima do palco completamente mascarados.
Em Portugal, o formato da SIC assume o nome "A Máscara" e estreou-se esta quarta-feira, 1 de janeiro — apesar de, daqui para a frente, passar a ser exibido em regime semanal com galas todos os domingos. Apresentado por João Manzarra, o júri do programa é composto por Jorge Corrula, César Mourão, Carolina Loureiro e Sónia Tavares. Os concorrentes são 12: a Pantera, a Borboleta, a Pérola, o Leão, o Astronauta, o Pavão, o Ananás, o Cavaleiro, o Monstro, o Corvo, e Cavalo e o Poodle.
O primeiro episódio começou com a apresentação de seis concorrentes, mas já tivemos direito a uma expulsão. Falamos da personagem Cavalo que, descobrimos, era interpretada por Jel.
Ainda a rebolar dos excessos da passagem de ano, a MAGG aproveitou para ficar pelo sofá de bloco de notas na mão e mostra-lhe o mau da nova aposta da SIC — o objetivo era incluir também aspetos positivos mas, infelizmente, não encontrámos nenhum. Do cenário low cost aos grafismos que dizem sempre o mesmo, o formato tinha tudo para ser um sucesso na teoria. Infelizmente, na realidade revelou-se apenas como um filme de terror aborrecido.
As máscaras (e o cenário) são muito pobres
Não demorou muito até que nos começassem a surgir algumas questões. Porque é que a borboleta parece uma mosca? Porque é que há seguranças (leia-se, miúdos imberbes) a rodear os concorrentes nos vídeos de apresentação? Porque é que aquela que prometia ser a próxima grande aposta da SIC parece ter sido feito em cima de joelho? Porque é que as portas por onde entram e saem os concorrentes parecem dentes?
O cenário é muito pequeno, pobre e não tem a dimensão que um programa deste tipo, com galas, exige. Além disso, peca muito em termos de produção quando comparado com as versões internacionais. O público parece forçado a dançar e a mostrar entusiasmo por um espetáculo deprimente, pouco entusiasmante e cujo fator mistério se perde logo ao início.
Mesmo no palco o trabalho dos dançarinos é medíocre e não se percebe muito bem qual o propósito a não se preencher um cenário que é muito pequeno e pouco interessante. Há, no geral, um problema de aproveitamento de espaço e isso é claro pela forma como o júri está estrategicamente colocado num mezzanine aparentemente longe do público, do palco e do apresentador.
Vou resumir este tópico num comentário feiro pela editora-executiva da MAGG, Marta Gonçalves Miranda, que me mandou a seguinte mensagem durante o programa: "Eu sei que as rendas em Lisboa estão uma loucura, mas colocar o júri num mezzanine parece tão desesperado como arrendar um T0 onde a cama tipo beliche fica em cima do fogão."
O painel de jurados é questionável (mais ou menos, vá)
Ninguém é ingénuo e não se esperava que, num programa de entretenimento com uma componente musical, esse fosse, de facto, o elemento mais importante do programa. É que embora tenha música, o que interessa em "A Máscara" é o show e, essencialmente, o mistério de não se saber quem está em cima do palco.
No entanto, é questionável a escolha da SIC para aqueles vão fazer parte do júri. Dos quatro jurados, apenas dois percebem realmente de música. Mais ou menos, vá.
Falamos essencialmente de Sónia Tavares, reconhecida pelo seu trabalho enquanto a voz dos The Gift mas que, além disso, já colaborou com vários projetos da música nacional. Mas também de César Mourão, que nunca escondeu o seu gosto pela música, chegando mesmo a valer-se da sua página de Instagram para publicar pequenos vídeos onde canta e toca guitarra.
Mas fica difícil entender a relevância de Carolina Loureiro enquanto jurada. É só por ser uma das caras da SIC e interpretar a protagonista da novela "Nazaré" que, por acaso, é líder de audiências há vários meses? A escolha tem como objetivo atrair mais público para o programa? Se sim, faz algum sentido. Mas pouco. E o que dizer de Jorge Corrula?
Os jurados são, na verdade, detetives. Mas dizem pouco
No início percebe-se de imediato que, mais do que avaliar, os jurados têm como principal objetivo atirar pistas idiotas para o ar para tentar confundir os telespectadores. Desculpem, não era essa a ideia? Estavam genuinamente a tentar descobrir quem é que está por detrás da máscara? Ninguém diria. Estão sempre a atirar nomes disparatados para o ar, além de tentarem confundir o género dos cantores quando já se percebeu claramente se é homem ou mulher. É só tonto.
Piora: não só têm pouco a dizer sobre cada atuação (ficando-se pelos lugares comuns do costume neste tipo de programas), como repetem à exaustão frases como "Não faço ideia quem é" ou "Quem será que está por detrás desta máscara?".
Além disso, quase que dá para fazer uma brincadeira e dizer que no contrato de Jorge Corrula vinha uma cláusula a dizer que, no final de cada atuação, era obrigatório que este elogiasse as máscaras — porque fê-lo constantemente. E, lamento, não eram brilhantes. Não eram mesmo brilhantes.
Nem João Manzarra brilha como apresentador
Ainda que João Manzarra seja um bom apresentador, a forma como o programa está estruturado não deixa que brilhe. O guião dá pouca margem de manobra ao improviso, é controlado à virgula e é difícil construir momentos de humor espontâneo como aquele que o apresentador nos habitou em vários dos programas em que participou.
É pena.
Os grafismos que dizem sempre o mesmo
"Quem será o famoso que está por detrás da máscara?", foi a pergunta que mais nos fartamos de ler nos primeiros 20 minutos do programa e que se prolongou pelo resto da emissão. É fácil perceber que se esta é uma versão low cost do original e isso nota-se, mais uma vez, nos cenários, e até na redundância dos grafismos que vão aparecendo ao longo da emissão.
E sim, pela milésima vez, também já percebemos que João Manzarra não sabe quem é o concorrente que está por detrás da máscara. Foi outra das mensagens em constante repetição.
Nós queríamos dizer alguma coisa positiva sobre programa. Na teoria, tinha tudo para funcionar — lá fora é um enorme sucesso, com um acompanhamento sucessivo da imprensa e dos telespectadores, que vibram com o objetivo de descobrir quem é o artista por detrás da máscara.
Por cá, a concretização arruinou tudo. Cinco minutos depois de o programa começar, estávamos mais intrigados em perceber o porquê de haver seguranças em palco. Ou se o texto absurdo dos vídeos de apresentação teria sido escrito pelos próprios. Ou ainda se isto faria mais sentido se atrasássemos o tempo 24 horas e estivéssemos em plena passagem de ano.
Bem sabemos que precisavam urgentemente de um substituto para "Casados à Primeira Vista", mas precipitaram demasiado as coisas. Caramba, de repente até sentimos saudades da Liliana. O que é que isto diz sobre nós? Não sabemos. Sobre "A Máscara", tudo.