Afinal, quem é o Dioguinho? Quem é a personagem misteriosa que se esconde por detrás do maior blogue de notícias de famosos e televisão em Portugal? Quem é o homem que está sempre em cima e é o primeiro a noticiar tudo o que se passa nos reality shows em Portugal? Poucas pessoas sabem. Mas a MAGG quis saber mais, conhecer melhor a vida e o trabalho deste blogger misterioso, que acedeu a dar-nos uma entrevista.

Dioguinho tem 541 mil seguidores no Facebook, mais de 46 mil no Instagram, e um blogue que já teve mais de 30 mil pessoas em permanência num mesmo minuto. Mas apesar dos números, das elevadas visualizações, e de ser conhecido por quase toda a gente, Dioguinho, o homem por trás do site com o mesmo nome, sabe que não tem o reconhecimento e validação por parte dos media portugueses. E isso chateia-o. Até porque muitos desses media se alimentam de notícias dadas pelo seu blogue.

O verdadeiro nome do Dioguinho não é Diogo, e ele também não é o ex-noivo de Fanny Rodrigues. Aliás, tal como conta nesta entrevista exclusiva à MAGG, o nome do blogue surgiu em 2011, de uma brincadeira com a situação que se passava na época na "Casa dos Segredos 2". Mas a brincadeira evoluiu, cresceu e, hoje em dia, o blogue do Dioguinho é dos mais lidos em Portugal — tanto que o autor admite que podia viver apenas dos ganhos do site.

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Seguido por muitos, criticados por outros, Dioguinho admite esconder a sua identidade por opção, para manter o mistério e dar graça à personagem, e não por medos de eventuais represálias ou intimidações. Muito crítico da produtora Endemol, a responsável pela maioria dos reality-shows da TVI, elogia as mudanças no atual "Big Brother 2020" e a estratégia implementada por Nuno Santos, o atual diretor de programas da estação de Queluz de Baixo, que acredita estar a fazer um ótimo trabalho e a credibilizar novamente os reality-shows.

Numa entrevista sem filtros, Dioguinho fala sobre a pouca validação que a comunicação social dá ao seu trabalho, dos reality-shows em Portugal e até da saída de Cristina Ferreira para a SIC.

Quando é que começou o blogue?
Em 2011, vai fazer agora nove anos, e começou como uma página de Facebook, como uma brincadeira. Partilhava uns memes, umas piadolas, que hoje em dia já não faria. Ou não faria com o mesmo teor. A Teresa Guilherme, numa das galas da “Casa dos Segredos 2”, mandou um bitaite sobre o namorado da Fanny Rodrigues e tivemos um boom gigante de 20 mil, 30 mil likes logo. E, a partir daí, desenvolveu-se. Partiu de uma brincadeira, mas deu origem ao site.

E porquê o nome de Dioguinho, encobrindo a sua identidade? É uma forma de se proteger de represálias ou uma escolha?
A escolha do Dioguinho foi mesmo uma piadola, por causa do contexto da Fanny, do João Mota e do noivo, o Diogo, a quem ela chamava Dioguinho, que tinha cá fora. Isto é a mais pura das verdades, não foi pensado para ser mais chamativo. Foi a situação do programa, deu azo à brincadeira e ficou. Não foi mesmo nada pensado.

Em relação à questão de não revelar a minha identidade, é mesmo uma escolha. Há sempre aquele argumento fácil de acusar quem não mostra a cara — ainda há dias a Cinha Jardim me chamou de cobarde em direto na TVI. Não digo que no início não tivesse havido questões com a popularidade do site e com as repercussões, com a gestão de tudo isso — aí talvez me protegesse um pouco. Hoje em dia, é mesmo uma escolha. O feedback que eu vou tendo das pessoas ao longo dos anos, inclusive jornalistas, é que uma das piadas disto é não saberem quem eu sou. Acho que é a mesma coisa com a Voz da “Casa dos Segredos”, agora do “Big Brother 2020”. Há já alguns anos que eu sei quem é a Voz, mas sempre existiu aquele mistério, de imaginar como seria. Acho que a piada é mesmo a questão de não saberem que eu sou. Represálias, acho que podia acontecer uma situação ou outra, mas não seria por aí.

Dentro do segmento, o seu site é um dos que têm mais sucesso e visualizações. Como é que atingiu esse patamar?
Acho que foi o fator novidade, para começar. A forma como acompanhávamos a atualidade foi uma novidade. Depois, foi a continuidade que dei ao projeto e a dedicação. Não é à toa que uso o slogan “sempre em cima do acontecimento”, é porque tento sempre estar atento. Essencialmente, ao longo dos anos, as pessoas habituaram-se a que, sempre que há alguma situação, eu estou em cima disso, fazendo, obviamente, uma gestão do que é mais relevante. E depois uma piadola aqui, uma piadola ali.

Penso que foi, essencialmente, a forma como eu acompanhei os reality-shows. É claro que me saiu do pelo, porque para acompanhar desta forma é muito complicado. Hoje em dia até é mais fácil, que o TVI Reality já mostra mais. Há uns anos, fechavam a emissão às quatro da manhã, e só abriam às 10 da manhã. E aí era muito complicado, eram três meses intensos. Quando chegava à Passagem de Ano, que era geralmente o final de um reality show, eu fazia o final do programa e entrava de férias.

Apesar do sucesso e visualizações, o site acaba por não ser reconhecido pelos media. Sente que o seu trabalho não é valorizado?
Completamente. Até lhe posso dar um exemplo: há umas semanas, envolvi-me numa discussão com a Cinha Jardim, no “Extra”, e não houve nenhum destaque sobre isso. Se fosse qualquer outro comentador, teria destaque, e eu sei perfeitamente que isso não acontece comigo. Não sei se é desvalorizar…

Acha que pode ser algum preconceito devido aos temas que o site aborda?
Não, acho que essa parte do preconceito já foi um bocadinho ultrapassada. Acho que me fazem mesmo boicote, não me querem dar tempo de antena, é essa a minha leitura. É muito raro, muito raro mesmo, alguém me citar. Só o fazem em duas situações: quando não têm outra hipótese, porque fui eu que dei a notícia; ou então para se protegerem, caso haja problemas com aquilo que foi escrito, a fonte sou eu. Acho mesmo que só me citam nestas duas situações, e mesmo assim, é muito raro. Mas também não necessito disso. É pena, porque num outro país, sei que era muito mais valorizado. Há casos desses no Brasil, por exemplo.

O site tem muitas visualizações, publicidade. Já é a sua atividade profissional principal, consegue viver apenas disso?
Se quisesse, sim, poderia viver só do site, mas não quero. Para já, não é um objetivo. Acho que para trabalhar a tempo inteiro no site teria que ter outra estrutura.

Por falar em estrutura, é apenas o Dioguinho a escrever e gerir o site?
Por vezes, tenho alguma ajuda de pessoas, tenho as chamadas fontes. Às vezes também peço ajuda de pessoas de confiança para analisar uma notícia, porque eu não gosto de errar. É muito raro, mas acontece, e para evitar isso peço ajuda a um amigo, ou até a jornalistas próximos, cujo trabalho eu respeito. Até peço opinião em relação a títulos.

Mas quando falamos da cobertura de um reality-show, acabo por ser mais eu. Gosto de estar informado. Se me fizer uma pergunta sobre o que se está a passar, gosto de responder na hora. E se não for eu a acompanhar detalhadamente o programa, não o poderia fazer. Quando falamos de fofocas, daquilo que se passa o resto do ano, às vezes peço uma ajuda.

O “Big Brother 2020” foi o primeiro reality-show a envolvê-lo diretamente, e quis tê-lo como comentador. Acha que isto já devia ter acontecido há mais tempo?
Se tivesse acontecido antes, eu também não ia aceitar. É claro que tive um bocadinho de receio antes de aceitar este convite, tive medo que as pessoas achassem que eu me tinha vendido. Não cheguei ali e aceitei logo, foi demorado, foi muito pensado. No entanto, se o convite tivesse surgido em edições anteriores, não ia aceitar.

Porquê?
Não me identificava com as equipas anteriores, com a forma como operavam. Acho mesmo que o trabalho que faziam não era a melhor forma de operar reality-shows. Agora, o Nuno Santos está a fazer um trabalho fantástico, está a levantar a TVI e a credibilizar novamente os reality-shows. A forma como este projeto me foi apresentado deixou-me mais à vontade para aceitar. Antes, não o faria, porque efetivamente tem de haver uma confiança, um acreditar no projeto. Agora, está tudo a correr de outra forma. Quando acontece uma situação dentro da casa, há imagens que são mostradas, e não cortadas, não se abafam situações. Têm trabalhado bem, de uma forma geral.

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Mas o Big Brother continua a ser produzido pela Endemol, que já era a produtora de edições anteriores e de outros reality-shows.
Eu continuo a não me identificar com a Endemol. Mas o que se passa agora é que têm o Nuno Santos, a TVI, como cliente. E quando o cliente diz que é para ser assim, é para ser assim. Acho que anteriormente existia um desleixo. Já critiquei a Endemol, continuo a não me identificar com eles, mas consigo fazer a divisão das coisas: há a TVI, e há a Endemol. De uma maneira geral, eu não gosto da forma como eles trabalham.

"Estamos a entrar numa nova era, o Nuno Santos está a lavar a casa"

De uma forma global, qual é a sua opinião sobre o modo como se produzem reality-shows em Portugal?
Com esta edição do “Big Brother 2020”, acho que as coisas mudaram para melhor. Acho que estamos a entrar numa nova era, o Nuno Santos está a lavar a casa. Fez uma coisa fantástica, apostou em caras novas: tem a Maria Botelho Moniz à noite, que está perfeita, a Mafalda Castro nas tardes, também se enquadrou muito bem. E colocou o Cláudio Ramos, que foi uma responsabilidade dos diabos, e isto da COVID-19 não ajudou.

Mas o Cláudio tem vindo a melhorar, a ser cada vez mais espontâneo nas galas, tenho gostado muito, principalmente da última. Acho que há muita injustiça com o Cláudio quando o comparam constantemente com a Teresa Guilherme. A Teresa é a rainha do formato, tem muitos anos disto, é produtora, e não se pode comparar o incomparável. Mas o Cláudio tem conseguido fazer um bom trabalho, e surpreendeu-me. Achei que se pudesse ir abaixo com algumas das críticas que tem recebido, mas não. É verdade eu gostava mais de uma Teresa, mas ele tem feito um bom trabalho.

Por isso, o Nuno Santos e a sua equipa surpreenderam-me. Ele mudou as pessoas e apostou em maiores produções. Nós sempre tivemos programas destes de baixo custo, e agora temos um prémio final de 50 mil euros, por exemplo. Há muito tempo que já não se via isto. A forma como o programa é levado também é importante: se acontece algo na casa, passam imagens e discutem isso no “Extra”, nada é abafado. E isto é muito bom, para o presente e futuro, para credibilizar este tipo de programas.

O Cláudio Ramos foi uma grande aposta da TVI para conduzir o programa.
O Cláudio teve uma grande dificuldade em impor-se, estava sob uma pressão enorme, sempre a ser julgado e comparado. Depois teve a situação da COVID-19, que afetou a dinâmica toda do programa, do estúdio. Mas libertou-se mais na última gala, mostrou mais dele. Viu-se perfeitamente que está farto dos dramas da Jéssica, da Iury, notou-se bem isso e eu adorei. Não teve medo, soltou-se completamente e acho que ele foi fantástico. Mandei-lhe mesmo mensagem a dar os parabéns, acho que esteve muito bem.

Falou-se muito do casting, que seria diferente de todos os reality-shows. Acha que isso foi bem conseguido?
Acho que sim, acho que deixámos de ter os armários e os corpos perfeitos. Claro que houve falhanços a nível do casting, como o Rui, por exemplo, mas no geral, acho que foi um grupo bem conseguido.

Faltam poucas semanas para o fim do “Big Brother 2020”. Quem foram os seus concorrentes favoritos e os que menos gostou?
O concorrente que menos gostei foi o Pedro Soá, teve um comportamento miserável dentro e fora da casa. Para uma pessoa de 45 anos que tem um know-how do mundo e também do mundo empresarial, como ele diz, foi uma desilusão.

Apontar favoritos já é mais difícil porque, quando um concorrente ainda está em jogo, isso pode mudar. Mas posso confessar que, no início do programa, não gostava nada do Diogo, e mudei de opinião. Também já gostei mais do Daniel Guerreiro, agora acho que já se está a aproveitar de toda a situação com a Soraia.

E quem é que vai ganhar?
Não sei, não sei dizer. Se falarmos de potenciais finalistas, acho que o Diogo chega lá, a Ana Catharina possivelmente também. Esta história do casal pode funcionar, porque está a ser muito natural. Acho que há mesmo ali qualquer coisa entre eles, podem-se aproveitar um bocadinho, mas é normal e faz parte. Também acredito que a Noélia e a Soraia cheguem à final.

Se fosse responsável por esta edição em específico, atuava de forma diferente?
Acho que tinha sido mais duro com os castigos, tinha-o feito mais cedo. Acho que os concorrentes continuam a ir para o exterior quando ouvem vozes, voltam para dentro a passo de caracol quando lhes ordenam isso, continuam a falhar no uso dos microfones, dão respostas insolentes ao Big Brother. Eu tinha cortado o mal pela raiz há muito mais tempo, para os participantes perceberem desde cedo quem é que manda ali.

"Foi a TVI que perdeu a Cristina"

Apesar de estar à frente na guerra das audiências, a SIC tem um histórico de más apostas nos reality-shows, à exceção do “Casados à Primeira Vista” e “Quem Quer Namorar com o Agricultor”. Acha que não escolhem os formatos certos?
A SIC não tem reality-shows, não é? Prefere chamar-lhes experiências sociais, é uma coisa chique. Bom, é de conhecimento público que, há muitos anos, a SIC recusou o “Big Brother”. Depois do sucesso do programa na TVI, começaram a lançar o “Acorrentados”, “O Bar da TV”, que foi aquela pouca vergonha e um falhanço de todos os tamanhos, mas tentaram competir.

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Hoje em dia, a SIC mantém a ideia de que não quer reality-shows, que não é o target deles, e chamam experiências sociais aos reality-shows que é para fazer uma diferenciação. Mas eu acho que nada funciona. Eu próprio, se não tivesse de acompanhar o "Big Brother", também não seguiria o “Agricultor”. Eu tenho de acreditar no projeto e no produto, e quando não gosto, não acompanho. A SIC neste momento está em força, muito por culpa de quem estava à frente da TVI.

Isso tem que ver com a saída da Cristina Ferreira? Acha que foi culpa da TVI?
Completamente. Foi a TVI que perdeu a Cristina. A Cristina Ferreira tem uma coisa fantástica e que eu valorizo: ela podia ter continuado no “Você na TV”, a ganhar, à sombra da bananeira. Mas ela gosta de inovar, acho que é um bocadinho como eu nesse aspeto. Ela tinha aquele projeto, o projeto que tem agora na SIC, há muito tempo pensado. Ela quer mais, é ambiciosa. E como quem estava na altura à frente da TVI, e atenção que isto foi a ideia com que eu fiquei, não quis avançar com a ideia dela por estar a ganhar com o formato que tinham, aconteceu isto. O Daniel Oliveira, espertíssimo, com uma escola fantástica, foi perspicaz e foi buscá-la. E acho que ela não mudou por uma questão de dinheiro, teve foi a oportunidade de expor novas ideias, um projeto diferente, e recebeu essas energias positivas para avançar por parte da SIC. E claro que também foi um risco para a Cristina.

Mas a TVI também já teve falhanços em reality-shows. Quais são, para si, os melhores e piores formatos?
“Big Brother” e “Casa dos Segredos” são os produtos que rendem, talvez até mais a “Casa dos Segredos”, por causa das missões, dos segredos dos concorrentes. Por outro lado, defendo a teoria de que as pessoas não gostam de ver reality-shows com famosos. Quando houve a “Quinta das Celebridades”, aquilo não teve o sucesso esperado, e não é à toa que fizeram uma edição logo a seguir com ex-concorrentes de reality-shows. O “Like Me” também não funcionou, fraquíssimo, mas acho que aí a culpa também foi das produções baratas. Mas de uma forma geral, acho que os formatos com famosos são mesmo aqueles que não funcionam, as celebridades ficam mais retraídas.