A partir desta segunda-feira, 4 de janeiro, as manhãs da TVI serão na companhia de Maria Botelho Moniz e Cláudio Ramos. É a primeira vez em 16 anos que este horário muda de programa, de registo e de apresentadores com a estreia de "Dois às 10". As expectativas eram, portanto, elevadas, até para os apresentadores que gravaram um pequeno segmento inicial em que Cláudio Ramos telefona a Maria Botelho Moniz a acusar nervosismo antes do arranque de novo programa das manhãs que vai ter conversas, música ao vivo e boa disposição.

 "Será que as pessoas vão gostar de mim, Maria?", pergunta Cláudio. "De mim vão gostar de certeza, de ti não sei", responde Maria em tom humorístico. A frase é simples, mas marca o registo descontraído e cúmplice que viria a marcar a relação entre ambos ao longo de toda a emissão.

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Analisado friamente o formato, facilmente se conclui que não traz nada de novo — a não ser os rostos — às manhãs da televisão, mas será que há necessidade de mudar (e é possível inovar neste horário?) quando o que está em vigor funciona? Talvez não.

A MAGG viu a estreia de "Dois às 10" que contou com um dos momentos mais emotivos da emissão, com Manuel Luís Goucha a ajudar uma família que perdeu a casa dos seus sonhos para um incêndio no dia de Natal. Como? Através de uma doação de 35 mil euros.

Se não teve oportunidade de ver a estreia do novo programa das manhãs da TVI, mostramos-lhe exatamente o que aconteceu, ponto por ponto.

1. O arranque do programa com um momento questionável

Depois do segmento gravado com Cláudio Ramos a telefonar a Maria Botelho Moniz, cada um nas suas casas a preparem-se para a estreia do programa, entra o genérico do formato que é interrompido por uma notícia de última hora da TVI.  Sara Sousa Pinto, a jornalista responsável pelo noticiário da manhã, volta à emissão para noticiar que há, em Lisboa, um camião suspeito a transportar matérias perigosas.

A seriedade da "notícia" é desmanchada logo ao início, ainda antes de sabermos que, na verdade, é Cláudio Ramos e Maria Botelho Moniz quem estão no camião. Mas numa altura em que muito se fala da problemática das notícias falsas e da linha ténue que separa a informação e o entretenimento, temos dúvidas de que o momento seja assim tão relevante quando, pelo menos nos primeiros segundos, tudo parece credível.

2. Estúdio sóbrio, acolhedor e familiar

Para quem se habituou a "Programa de Cristina", o estúdio de "Dois às 10" parecerá familiar. Apresentado com uma mistura de castanhos e azuis néon muito subtis, a nova "casa" dos apresentadores é acolhedora, sóbria e convidativa.

Além dos sofás amplos, que pedem conversas longas, intimistas e com vários convidados, há ainda uma kitchenette na qual Cláudio Ramos fez batidos e descascou cenouras à medida que punha a conversa em dia com a amiga e apresentadora. Ver isto é ficar com a sensação de que já vimos a mesma fórmula usada noutro lado. Mas se funciona, porquê mudar?

3. O caos (bom) de Cláudio Ramos

"Esperei 20 anos para ter uma cadeira só para mim", desabafa Cláudio Ramos nos minutos iniciais do programa. Ainda que seja difícil preencher o local deixado por Manuel Luís Goucha (que mesmo não estando fisicamente, conseguiu protagonizar o momento alto do programa), vamos arriscar dizer que a dupla Cláudio-Maria funciona — muito devido à química, à cumplicidade e à troca de picardias, sempre saudáveis, entre ambos. Como se de dois amigos se tratasse.

Essa relação sai muito beneficiada pela genuinidade de Cláudio Ramos, com tudo o que isso tem de bom e de mau. Se por um lado emprega um ambiente de boa disposição e de imprevisível a cada momento, também é verdade que proporciona momentos mais constrangedores e aos quais o apresentador já nos tem vindo a habituar.

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Na primeira emissão dos "Dois às 10", um dos segmentos contava com a presença de uma sexóloga para explicar o impacto que a falta de sexo podia (ou não) ter nas pessoas de todas as idades. A sexóloga explicou e reforçou, por diversas vezes, que não há uma norma para quantas vezes se deve fazer sexo, uma vez que isso depende sempre de vários fatores.

Mas Cláudio Ramos insistiu que sim e que se estivesse ali "outro homem" a resposta seria diferente. Embora a interação tenha sido marcada pela habitual dose de brincadeira do apresentador, por vezes era difícil haver foco no tema — que era sério — devido a um certo caos (bom e divertido) que as suas intervenções traziam.

Se isso importará ao espectador comum? Talvez não. A mim, que estou a escrever este texto, também não. Afinal, a televisão quer-se certinha, sem imprevistos ou momentos constrangedores. É sempre interessante quando essa ideia de perfeição é desconstruída em direto e de forma inesperada.

4. A queda de um equipamento de produção no estúdio

E porque falámos em desconstrução inesperada da ideia de perfeição, houve um equipamento da equipa de produção que caiu no estúdio durante a emissão do programa e que assustou os apresentadores. Não se sabe exatamente o que caiu, ou por que motivo, mas contribuiu para um momento inusitado — que foge ao guião e ao controlo dos apresentadores.

Manuel Luís Goucha. "Nunca deixei de ser feliz, mesmo perdendo"
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Maria Botelho Moniz apressou-se a quebrar o gelo, e bem. "Sempre me disseram que era sinal de sorte cair alguma coisa na estreia de um programa. Agora, já caiu."

5. A cumplicidade entre os apresentadores

Ao longo da emissão, Cláudio Ramos e Maria Botelho Moniz foram brincando um com o outro. Ele perguntava-lhe se estava a pensar engravidar; ela perguntava se ele já tinha alguém.

No final, riam neste exercício de darem a conhecer um bocadinho mais de si a quem vê, num registo que deverá ser, mais do que as pessoas que convidem ou as histórias a que deem visibilidade, a imagem de marca deste "Dois às 10".

6. As visitas em direto e os presentes

Para celebrar a estreia do novo programa das manhãs da TVI, passaram pelo programa figuras como a jornalista Lurdes Baeta, o ator Paulo Pires e fadista Gisela João. Cada um trouxe vários presentes para desejar boa sorte aos apresentadores, servindo de pretexto para falar sobre as suas estreias — já que este era um dia de estreias — nos seus respetivos meios.

Do caos (bom) de Cláudio Ramos à surpresa de Goucha, assim foi a estreia de
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Lurdes Baeta falou da sua estreia como pivô da TVI, Gisela João no fado e Paulo Pires no teatro, recordando um ritual que ainda hoje mantém — o de antes de qualquer peça, espreitar pela cortina que separa o palco da plateia para se focar no sapato de alguém do público.

"Não tenho nenhum talismã [o ator ofereceu um sapato aos apresentadores], mas lembro-me de que quando comecei no teatro espreitei pela cortina e fiquei com o sapato de alguém na cabeça. Depois disso, passei a olhar sempre para o sapato de alguém na plateia. Não precisava de o ver em pormenor, só de saber que estava ali. Tornou-se numa rotina", conta.

A jornalista ofereceu uma caneta da sorte e Gisela João um ramo de flores.

7. O momento alto do programa por um apresentador que já não faz parte das manhãs

Foi o momento alto do programa e, curiosamente, protagonizado por quem a partir desta segunda-feira já não fará parte das manhãs do canal. Falamos de Manuel Luís Goucha que, emocionado com a história de um casal que perdeu a sua casa de sonhos para um incêndio no dia de Natal, decidiu doar 35 mil euros para ajudar na reconstrução.

Patrícia e Sérgio perderam a casa no Natal passado, depois de um fogo destruir a habitação recém-construída na freguesia de Parrozelos, Arganil. Ficaram só com as roupas que tinham no corpo e vivem atualmente no posto médico da freguesia. "No dia 25 de dezembro, tivemos a visita dos pais e cunhados, almoçámos em família. Nessa noite fui dar o banho aos miúdos, estava a preparar o jantar e de repente o meu cunhado disse-me para ir ver que o telhado estava a arder. Desliguei a luz. Quando voltei, porque fui desligar a luz à cave, só tive tempo de pegar nos meninos e sair. Em 5 minutos já o fogo estava por todo o lado", relatou Sérgio.

Do caos (bom) de Cláudio Ramos à surpresa de Goucha, assim foi a estreia de
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Questionado pelos apresentadores sobre quanto iria custar uma reconstrução, Patrícia e Sérgio disseram que, apoiados na opinião de dois peritos que estiveram no local, o valor rondaria os 30 e os 35 mil euros. "Lavado em lágrimas", Manuel Luís Goucha ligou para o programa a oferecer o dinheiro. "Os 35 mil euros vão ser colocados na conta. Sejam felizes", disse o apresentador.