Aos 23 anos, José Condessa encarna o seu primeiro protagonista numa novela portuguesa. O ator é David Quintela em “Bem Me Quer”, que estreia esta segunda-feira, 26 de outubro, na TVI. Além de ser a primeira novela portuguesa a começar a ser gravada em plena pandemia, marca também o regresso do ator à ficção portuguesa, depois de uma temporada no Brasil, onde foi protagonista da novela “Salve-se Quem Puder”.
Pormenor de adicional interesse da novela escrita por Maria João Mira. José Condessa forma um trio amoroso com Kelly Bailey, que dá vida à pastora Maria Rita, e com Bárbara Branco. Na ficção, a vilã da trama, na vida real a namorada de José Condessa. Algo que não é novo para o casal de atores que, nos palcos, já foram par amoroso várias vezes.
A avaliar pelas primeiras imagens, que já passam em antena, José Condessa vai tornar-se (se é que já não o é) o novo galã da TV portuguesa. Algo que não o apoquenta, como explicou em conferência de imprensa, via Zoom. “O Brasil foi um bom teste a isso. Eles são incríveis a criar burburinho à volta dos galãs. O público, na rua, mostra o carinho que tem por nós. Isso, para mim, é maravilhoso, no sentido em que o contacto com as pessoas é muito importante. Só consigo sentir que o trabalho está fechado quando percebo que chega realmente ao público. Se estou preparado para isso? Não sei”, admite.
Com uma carreira televisiva que começou em 2014 com “Jardins Proibidos”, além de uma experiência considerável nos palcos (é formado pela Escola Profissional de Teatro de Cascais), José Condessa diz que, se é para ser sex symbol, que seja porque está a desempenhar bem o seu papel. “Isso já me aconteceu, até acho que foi numa novela da SIC, e encanitava-me um bocadinho o rótulo. Eu gostava de ser reconhecido como um ator que é capaz de ser versátil. Se o papel é ser o galã, vai ser o galã”, afirma.
"Bem Me Quer" pretende "voltar às raízes da novela portuguesa"
Mas vamos à personagem. David Quintela, um advogado. E, mantendo aqui o tema da família, José Condessa contou com a ajuda de uma pessoa que lhe é muito próxima. O padrasto de Bárbara Branco. “Ele é advogado e é das pessoas mais incríveis que eu conheço. Prestou-se logo a explicar-me as coisas mais básicas. Vestiu-me logo uma toga, para eu perceber o peso físico que isso traz ao corpo. Tentei criar uma personagem enquanto está como advogado e no dia a dia, que é um gajo mais relaxado, jovem”, explica Condessa, que chegou a assistir a audiências com o padrasto da namorada, “só para perceber como é o poder de argumentação”. “Isso sempre me fascinou e adoro por isso na novela”.
Esta semana, a COVID-19 chegou às gravações de “Bem Me Quer”. Angie Costa testou positivo, o que obrigou a mais testes e também a modificações nos planos de gravação. Nada que melindre José Condessa, que considera “Bem Me Quer” um projeto “muito especial”. “Há uma responsabilidade acrescida. Não há receio, há um sentido de responsabilidade muito grande. Estamos a liderar um barco, mas que tem de ser remado por todos”, conta. “Quando nós começámos este projeto sempre nos prepararam para que, em tudo o que acontecesse, estaríamos sempre acompanhados. E temos sido acompanhados regularmente. Esses testes é que nos permitem perceber se está a correr tudo bem e dão-nos uma segurança especial”, assegura o ator. Esse apoio, relata Condessa, faz com que exista “uma união ainda maior” entre os atores. Não só do ponto de vista profissional, mas também humano. “Esse medo é combatido com união, e isso é muito bom”.
“Bem Me Quer”, da autoria de Maria João Mira, é o regresso às histórias clássicas da novela portuguesa. O amor (e um trio amoroso) é o eixo central de uma narrativa, dividida entre Aveiro e as paisagens bucólicas da serra da Estrela. Não há as tais causas ou temas da atualidade que, até muito recentemente, estiveram omnipresentes na ficção televisiva, e há o apelo ao sonho e à esperança. Como diz José Condessa, “neste momento o que precisamos é de algo no qual nos sentimos seguros”. “Estamos tão abanados de todos os lados que precisamos de um porto de abrigo”, salienta.
“Bem Me Quer” não quer confundir os telespectadores nem distraí-los com explosões malucas, raptos ou histórias confusas. “A mensagem que nos foi passada desde o início é que o que nós íamos fazer era voltar às raízes da novela portuguesa. E o que é isso? É a simplicidade, no sentido em que há uma família rica, uma família pobre, um amor impossível. Depois, o núcleo cómico, que completa o resto da trama”, explica José Condessa. A simplicidade da narrativa, com pequenos acontecimentos em cada um dos episódios, são, de acordo com o ator, receitas para o sucesso.
"Nós conhecemo-nos completamente. Não temos medo de dizer nada um ao outro"
José Condessa e Bárbara Branco, com 23 e 20 anos, respetivamente, são caso raro num meio em que, cada vez mais, as celebridades se escudam atrás de agentes e publicists para evitar falar da vida pessoal. Não escondem a relação e, sempre que questionados sobre a mesma, abordam o tema de forma natural e sem pruridos. Coisa rara nos dias que correm, mas perfeitamente compreensível nesta dupla. É que esta está longe de ser a primeira vez que trabalham juntos.
“Como eu e a Bárbara já trabalhámos muito em teatro, já conhecemos algumas ‘manhas’ um do outro. E o nosso jogo é que, por gozo especial, tirávamos o tapete um ao outro a ver onde é que o outro conseguia chegar. O que nos faz crescer é o momento de desequilíbrio”, explica o ator. E esse momento de desequilíbrio surge pela primeira vez em novela depois de, no teatro, terem encarnado pares de enamorados. “Logo aí é uma descoberta diferente. São duas personagens que namoram de início, sem ser um amor incrível. É um amor que sempre foi assim. É quase um casamento prometido entre duas famílias. Quando construímos essa não-relação, foi muito engraçado. É começar a tirar coisas nossas, foi tirar o tapete um ao outro”.
Spoiler alert: as personagens David e Vera vão odiar-se de morte na trama, com a vilã a fazer a vida negra ao advogado e à pastora Maria Rita. E a confusão na cabeça do público, para José Condessa, será sempre bom augúrio. “É sinal de que estamos a fazer bem o nosso trabalho”.
José Condessa surpreende quando questionado sobre como é estar, “tal como dizem nos reality shows”, “24 sobre 24” com a namorada, uma vez que vivem oficialmente juntos desde o fim do estado do estado de emergência. “É ótimo! Isto é muito chato de dizer porque parece que não é real. Eu e a Bá sempre nos demos bem. Já éramos amigos há cinco, seis anos, antes de sequer namorarmos. Nós conhecemo-nos completamente. Não temos medo de dizer nada um ao outro. O que nós fazemos é, antes de sermos um casal, somos pessoas, indivíduos”, explica.
José Condessa tem uma carreira curta, mas de fazer inveja a muitos atores veteranos. Estudou no Teatro Experimental de Cascais e começou a fazer novelas em 2015, em paralelo com os palcos. E onde é que fica o tempo para fazer asneiras? “Acho que faço muitas (risos)! Não faço é com tanta regularidade. Acho que sempre mantive esses espírito jovem porque acho que isso é uma das coisas que nos mantém vivos. Enquanto atores, precisamos dessas maluqueiras. Claro que, enquanto ator, comecei a trabalhar muito cedo. Perdemos aquelas coisas todas, como saídas, mas como estamos rodeados de pessoas que veem o mundo da mesma forma do que nós, quando temos um bocadinho, aproveitamos muito”.
Depois de já ter feito o percurso Portugal-Brasil com sucesso, será que Condessa quer, tal como Nuno Lopes, Alba Baptista e mesmo Pêpê Rapazote, singrar na atual Meca da ficção, as plataformas de streaming? Mais ou menos. “O meu sonho vai um bocadinho mais longe. É ter a oportunidade de a Netflix perceber que é possível representar em português. Era bom que, daqui para a frente, se começasse a perceber que temos tanta matéria prima de qualidade em Portugal que devíamos apostar em representar em português para fora”, argumenta.
Em 2021, José Condessa vai voltar aos palcos, nada mais nada menos do que com “Hamlet”. Esta não é a primeira vez que o ator representa William Shakespeare. Em 2018 interpretou uma recriação de “As You Like it” e, em 2019, “Romeu e Julieta”, sempre com com Bárbara Branco como par. O amor, esse, continua dentro de momentos, em “Bem me Quer”, que estreia esta segunda-feira na TVI.