A partir de 14 de março, Ljubomir Stanisic vai voltar a afiar as facas e não haverá jaleca de cozinheiro que lhes escape. A referência não é por acaso. É que tal como no formato original, popularizado por Gordon Ramsay, será através do despir da farda que os concorrentes eliminados do novo "Hell's Kitchen" se despedirão de uma cozinha gigante que serve de palco para a nova grande aposta da SIC nas noites de domingo.
Para um formato composto por 16 participantes, concorreram "muitas centenas", segundo explicou esta sexta-feira, 5 de março, Daniel Oliveira, diretor de programas da SIC, numa conferência de imprensa em formato digital. E havia apenas dois únicos requisitos para que se chegasse a um naipe de concorrentes final: que fossem cozinheiros com experiência profissional e que o teste à COVID-19 a que seriam sujeitos desse negativo.
Foi isso, a testagem regular de toda a equipa técnica e o isolamento obrigatório dos 16 concorrentes que permitiu, nas palavras de Ljubomir Stanisic, "gravar um programa sem um único caso de contaminação" numa "cozinha até mais organizada" do que a sua.
E porque a cozinha será o grande palco deste novo "Hell's Kitchen", a SIC foi megalómana. Num estúdio com um total de 2.900 metros quadrados, só a cozinha ocupa 1.400 metros para que esteja assegurado o distanciamento de todos os utensílios de cozinha e dos próprios profissionais — mas também para exaltar alguma "grandeza", segundo explica Daniel Oliveira.
Será nessa cozinha que os cozinheiros, divididos entre a equipa azul e a equipa vermelha, vão competir entre si pelo título de melhor cozinheiro de Portugal.
Um programa que transmite "humanismo" e "verdade"
"Estamos muito satisfeitos com o programa que temos em mãos e Ljubomir supera todas as expectativas que tínhamos acerca de um formato que é muito forte", explica o diretor de programas da SIC.
É que embora os espectadores possam esperar um Ljubomir Stanisic explosivo e irreverente, como sempre foi, a figura que conduzirá o programa é tudo menos unidimensional. "[O Ljubomir] consegue mostrar muitas facetas: a da exigência, característica de quem quer vencer na indústria da restauração, mas também o seu humanismo. E isso é uma das suas grandes valências enquanto comunicador porque, de facto, sente aquilo que o espectador acha que ele está a sentir num determinado momento", continua.
O facto de "dizer na cara aquilo que acha dos concorrentes, traz muita verdade". E, garante-nos, os participantes valorizam isso.
"Há um concorrente que, a dada altura, não consegue fazer uns ovos a tempo e atira-os para o lixo. O Ljubomir chega perto dele e fá-lo ver de que, nesta altura difícil em que vivemos, há muita gente a passar fome. O programa também se destaca por ter este lado de consciencialização", explica Daniel Oliveira, algo que não podia ser ignorado em plena pandemia.
Ainda assim, o chef do 100 Maneiras reforça, em declarações aos jornalistas, que não está ali a fazer nenhuma personagem. "Não faço ideia do que é fazer televisão. Não sei fazer personagens e não sou um ator, mas sim um cozinheiro que percebe de comida. Não mudei o que era e é isso que continuarei a ser porque não tirei nenhum curso na escola de arte", refere.
No entanto, e porque a comparação com o "Pesadelo da Cozinha", da TVI, de que foi rosto, é inevitável, o chef explica as diferenças entre aquele e este novo formato. "São dois mundos paralelos, com o 'Pesadelo na Cozinha' a ser um formato muito mais desgastante em termos emocionais".
A explicação é simples. "Tinha de me preocupar com os problemas das pessoas, com as baixas, com eventuais depressões. Aqui, não. É um programa totalmente virado para a cozinha profissional e para os que querem singrar na área."
Os prémios finais, as recompensas e os castigos intensos de CrossFit
Os participantes desta nova aposta da SIC são profissionais, logo, têm de estar capazes de aguentar com a pressão que, diz Stanisic, é "constante" na alta cozinha. "Todos os concorrentes cometeram muitos erros, mas o mais bonito é que esses erros fizeram com que as pessoas crescessem. O mais impressionante é que, com toda a pressão inerente a uma cozinha profissional, todos eles se esqueceram que as câmaras estavam ligadas ao segundo dia de gravações."
E se ao final de cada desafio, a equipa que melhor conseguir aguentar o serviço tem direito a recompensas, como "a melhor refeição que alguma vez verão na vida", palavra de Ljubomir, às que acusarem desgaste físico e incapacidade de aguentar com o serviço, espera-lhes "castigos muito duros como treinos intenso de CrossFit".
"Na área da cozinha, há muito essa preocupação com a saúde física e emocional dos cozinheiros, por isso aqueles que se portaram mal levaram com treinos intensos de CrossFit. Houve um dia em que expulsei toda a gente, porque não tinha regras no programa e o Daniel [Oliveira] deu-me carta branca para fazer o que quisesse", diz o chef.
"Embora seja verdade que teremos um Ljubomir mais humano e emocionado, nem sempre será assim tão fofinho", continua Daniel Oliveira. Quando aos prémios finais, o diretor de programas da SIC diz que pelo menos um carro haverá. "Mas não será o único", revela, preferindo não adiantar mais.
Com a primeira temporada por estrear, a segunda já foi confirmada
Sobre um programa inédito em Portugal, o diretor de programas da SIC assemelha-o a um "videoclipe de uma hora" em que, depois de se começar a ver, "é difícil parar". "É um programa que tem os ingredientes necessários para conquistar todas as pessoas: as que sabem como funcionam a cozinha profissional e as que não."
Desvaloriza, porém, a guerra das audiências, dizendo que a sua única preocupação é a de "fazer grande televisão". E a confiança no projeto é forte. É que embora a primeira temporada ainda não se tenha estreado, nem se saiba exatamente quantos episódios vai ter, informação que Daniel Oliveira considera "demasiado valiosa" para revelar neste momento, garante que haverá uma segunda temporada.