Fernanda, Teresa, Tânia e David são os finalistas da quinta temporada do "Masterchef Portugal". Este sábado, 26 de fevereiro, a RTP1 emite a derradeira final do concurso de culinária e a MAGG teve oportunidade de assistir às gravações, que contaram com a presença de seis chefs convidados, que ajudaram a avaliar uma das provas da reta final.

O chef espanhol Carlos Maldonado (vencedor da terceira edição do "Masterchef" espanhol e detentor de uma estrela Michelin atribuída ao seu restaurante Raices), António Loureiro (A Cozinha), João Oliveira (Vista), Pedro Lemos (Pedro Lemos), Diogo Rocha (Mesa de Lemos) e Tiago Bonito (Casa da Calçada) foram juízes de uma das provas, nas quais participaram apenas as finalistas.

Os chefs Carlos Maldonado, António Loureiro, João Oliveira, Pedro Lemos, Diogo Rocha e Tiago Bonito
Os chefs Carlos Maldonado, António Loureiro, João Oliveira, Pedro Lemos, Diogo Rocha e Tiago Bonito créditos: RTP

Tânia Amor, Maria Fernanda Magalhães e Teresa Colaço estão em maioria, e disputam a vitória do concurso com David Vitorino. Um claro contraste com o que se passa nas cozinhas profissionais, não só em Portugal, como no resto do mundo.

Há mais homens na alta cozinha portuguesa? Sim, porque as mulheres "nunca lá chegam"
Há mais homens na alta cozinha portuguesa? Sim, porque as mulheres "nunca lá chegam"
Ver artigo

São raras as mulheres a chefiarem cozinhas (Marlene Vieira, jurada do "Masterchef Portugal", faz parte desse reduzido lote) e não há uma única estrela Michelin conquistada por uma chef. Falámos com os chefs convidados da grande final de "Masterchef Portugal" para perceber porquê. A maternidade, a necessidade de estabilidade para constituir família são os principais fatores apontados para o facto de as mulheres serem uma minoria nos lugares de topo. Mas todos acreditam que o cenário está a mudar.

"Não podemos generalizar, mas 90% das mulheres tem necessidade de ser mãe ou constituir família, dedicar-se a isso. É uma coisa que é natural. Vemos muitas mulheres na cozinha até aos 30, 32. Depois, aos 40, 45, encontram uma, duas mulheres, porque tomaram decisões. Em vez de abraçarem uma carreira profissional… mas isso acontece em todas as áreas e também com os homens", explica João Oliveira.

Diogo Rocha, por seu turno, rejeita a ideia de que exista "machismo e falta de oportunidades". "Não sinto nada disso", afirma. E dá um exemplo: "Nunca ouvi, em 20 anos de cozinha, alguém dizer num restaurante que o facto de ser chef homem ou mulher tem mais ou menos qualidade”. O responsável da cozinha do Mesa de Lemos admite que é um tema "sensível" e alinha pelo mesmo diapasão de João Oliveira no que toca à questão da maternidade. Mas afirma que o grande problema é o preconceito social.

"Falo por experiência: tenho 38 anos e não sou pai. E a sociedade não me questiona porque é que eu não sou pai aos 38 anos. É um preconceito e as mulheres sofrem muito mais com isso. Não tem que ver com a criatividade, com conhecimento, não tem nada que ver com isso. Tem que ver com a sociedade e não com com as cozinheiras", explica.

Diogo Rocha salienta também que "esta é uma profissão de muita dedicação e muita abdicação". "Se nós, homens, tivermos alguém, seja mãe, seja pai, seja a própria mulher, que esteja disposto a abdicar de uma parte da sua vida em função disto… mas também pode acontecer o contrário. Mas acredito mesmo que é a sociedade: somos empurrados pelos nossos pais, pelos sogros, pelos nossos primos a que a mulher tenha de abdicar. E acho que é isto que vamos ter de mudar", afirma o chef.

Marlene Vieira, chef e, agora, estrela da TV. "Tentaram deitar-me abaixo muitas vezes"
Marlene Vieira, chef e, agora, estrela da TV. "Tentaram deitar-me abaixo muitas vezes"
Ver artigo

Numa posição privilegiada está Tiago Bonito. O chef do Largo do Paço é casado com uma colega de profissão, a chef Angélica Salvador, líder do IN Diferente. "Quando me perguntam se eu tenho um filho, eu digo que sim, chama-se IN Diferente (risos). É uma opção. Ela preferiu agarrar. Antes tínhamos um sócio, éramos para vender o restaurante e não o fizemos porque aquilo era o filho dela. Sinto que há mais dificuldade a aceitar. É uma chef brasileira, a fazer cozinha portuguesa em Portugal. O desafio é maior", salienta Tiago Bonito.

Já António Loureiro considera que "tem muito que ver com a fragilidade e com a resistência psicológica e física também". "Se bem que há mulheres duronas. Tenho algumas mulheres na cozinha e são realmente excelentes profissionais. E há muitas mulheres na cozinha. Só que estão no anonimato. Não estão em todas as cozinhas que têm visibilidade e isso acaba por as esconder um bocadinho do estrelato", afirma o chef  d'A Cozinha.

Salientando o facto de os bastidores do mundo da restauração estarem a mudar, Pedro Lemos admite que ainda é um universo muito masculino. "Tive a felicidade de trabalhar com mulheres, sempre num número inferior. Acontece muito mais no serviço mas a cozinha sempre foi um mundo de homens, de macho, os gritos, a pressão psicológica, quase a inferiorizar. Já passei por cozinhas que é quase como se fosse um treino militar", relembra.

A "carga horária" e a "opção de uma vida social assumidamente diferente do que é a realidade" do mundo da restauração são, além da questão da maternidade, fatores que, no entender de Pedro Lemos, explicam o rácio desequilibrado nas cozinhas. No entanto, faz questão de enaltecer as qualidades das mulheres nessas funções.

"Devia haver mais. Não que não sejamos sensíveis e não tenhamos intuição mas o lado feminino é criativo, crítico e incisivo no palato, no olfacto, no toque. Devia haver mais, no meu entender, para não serem sempre conversas de homens (risos)", afirma o chef.