É difícil pensar numa série que, recentemente, tenha sido capaz de deixar os espectadores com aquela sensação desconfortável de aperto no peito. Houve algumas tentativas de umas produções mais ou menos ambiciosas, mas nunca nenhuma chegou perto daquele momento inconfundível quando, em "Breaking Bad", Hank (Dean Norris) descobre que Walter White (Bryan Cranston), seu cunhado, é na verdade Heisenberg — o produtor de droga mais perigoso, eficiente e bem sucedido do Novo México, nos Estados Unidos.

É que sem efeitos especiais, momentos "wow" ou alarido desnecessário, os produtores e atores da série conseguiram dar corpo à tensão ensurdecedora entre os dois rivais que, naquele momento, tinham de se confrontar pela primeira vez. "Sinto que não te conheço, Walt", disse Hank depois de descobrir a verdade sobre o cunhado. "Se o que dizes é verdade, se realmente achas que não me conheces, então sugiro que vás com calma", respondeu o vilão. E estava decidido o Emmy para Melhor Ator de Série Dramática, atribuído a Bryan Cranston em 2014.

"Ozark", cuja segunda temporada regressa agora à Netflix, é muito semelhante a "Breaking Bad", da AMC, neste aspeto. Com apenas uma boa história, boas prestações dos atores e reviravoltas incríveis que nunca chegam a parecer aborrecidas, mirabolantes ou simplesmente vazias de conteúdo, a série consegue criar um enredo claustrofóbico e pesado. Em que parece que os argumentistas escreveram de maneira a se colocarem num beco sem saída, só pelo prazer de verem se conseguem desfazer o imbróglio narrativo que criaram.

Não é difícil de perceber porque é que as comparações entre estas duas séries continuam a existir. É que esta é a mesma técnica de escrita utilizada por Vince Gilligan ("Better Call Saul"), o criador de "Breaking Bad", que várias vezes revelou escrever o guião sem pensar muito bem nas repercussões que aquilo poderia ter na história que tinha pensada há já vários anos.

Na nova série dramática da Netlix, a história envolve ação, cartéis de droga e uma componente familiar muito forte. Acompanha a família Byrde que, na primeira temporada, teve de fugir para a região de Ozarks, no estado de Missouri dos EUA. O motivo? O facto de Marty Byrde (Jason Bateman), um aparente homem de bem e um dos melhores consultores financeiros da área, lavar o dinheiro de uma organização de tráfico de droga.

Até aqui tudo estaria bem, se não fosse a descoberta de que um dos seus colegas teria desviado dinheiro — obrigando Marty a contrair uma dívida enorme para repor o dinheiro roubado. Assim, Marty e a sua família são obrigados a instalar-se numa outra região completamente diferente com o objetivo de lavar o dinheiro do grupo de crime organizado numa zona com enorme potencial em comércio local.

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“Fizemos imensas coisas que dissemos que nunca iríamos fazer. Estás-me a dizer que temos de voltar a casa, ir dormir, e de manhã dar um beijo aos miúdos como se nada tivesse acontecido?”, pergunta Wendy, interpretada por Laura Linney (“O Grande C”) e mulher de Marty. A resposta do marido é dura e cruel: “É isso mesmo que vamos fazer”, ouve-se no teaser de promoção à segunda temporada que promete mais e novos momentos complicados.

Os novos episódios chegam aos smartphones, tablets, computadores e televisões de todos os subscritores do serviço digital já nesta sexta-feira, 31 de agosto. Nós contamos-lhe um bocadinho mais sobre a história do que aí vem.

As personagens vão continuar distantes e divididas emocionalmente

Se na primeira temporada as coisas não estavam nada fáceis para Marty (Jason Bateman) e Wendy (Laura Linney), nos novos episódios a tendência é para piorar.

Na segunda temporada há novos desafios que levarão a família Byrde a distanciar-se ainda mais uns dos outros à medida que vão ultrapassando todos os limites do que é considerado ético e legal. Segundo a revista "GlobalNews", que esteve nos bastidores das gravações e teve a oportunidade de conversar com alguns dos atores, nos novos episódios os espectadores podem esperar uma maior quebra de laços entre todas as personagens da história.

"Estamos a falar de uma família que durante muito tempo correspondia ou fazia por corresponder às convenções sociais exigidas e estabelecidas pela sociedade. Mas a verdade é que nenhum deles se conhece verdadeiramente, como uma família unida e saudável deveria conhecer", revelou a atriz Laure Linney.

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À mesma publicação, a atriz confirma que as relações familiares vão ser colocadas em risco já que é processo natural quando uma família é obrigada a ir viver para um ambiente estranho e perigoso. "As pessoas acabam por se revelar, e isso tem tanto de assustador como de fantástico", continua.

A série vai ficar cada vez mais negra

Parece impossível, mas é verdade. Devido à complexidade dos problemas que vão surgir à família Byrde, vão ser vários os momentos de alta tensão na série que prometem conduzir a acontecimentos violentos e pesados — e vão servir como clímax da história. Quem o diz é Jason Bateman, o ator principal da série, à revista "GlobalNews", referindo-se a um confronto derradeiro que é, garante, uma consequência direta de todas as decisões que as personagens foram tomando desde que a história começou a ser contada. "Com o clímax virão os erros que carregam consequências a nível emocional, espiritual e profissional. Não nos podemos esquecer que estas personagens são muito frágeis".

À revista britânica "Express", a atriz Julia Garner ("Sin City: Mulher Fatal"), que na série dá vida a Ruth, revelou que isto é o que acontece quando o guião é escrito de maneira a abordar a profundidade e os problemas das personagens. "O guião está muito bem escrito, mais profundo e negro. É como uma panela de pressão — circunstâncias extremas despertam o pior e o melhor que há dentro de todos os envolvidos", continuou.