Será um caso de censura, de auto-censura ou de precaução? Ninguém sabe e, avaliar pelo carácter vago do comunicado emitido esta terça-feira, 12 de dezembro, pela assessoria de imprensa do coletivo Porta dos Fundos, dificilmente se saberá. O grupo de humor emitiria este ano, pela décima vez, o já tradicional Especial Natal. O episódio, gravado em agosto, estaria disponível na plataforma de streaming Paramount +. Só que a paródia deste ano vai ficar na gaveta.
“Decidimos não lançar o Especial de Natal este ano. Quando ele foi escrito e filmado, o mundo não enfrentava o que enfrenta hoje. Humor é timing e o timing para esse lançamento não é o adequado. A atual conjuntura pode fazer com que o olhar cómico do Especial de Natal se transforme em outra coisa. Qualquer novidade será comunicada oportunamente”, pode ler-se no comunicado enviado pela assessoria de imprensa do grupo.
A "atual conjuntura" a que se refere o comunicado poderá ser, tendo em conta o tema, a guerra que decorre atualmente em Israel e que começou em outubro com os atentados levados a cabo pelo Hamas. O Natal, celebração cristã que assinala o nascimento de Jesus, tem como epicentro geográfico aquela região. Belém, a cidade onde Jesus terá nascido, fica localizada na Cisjordânia, uma zona da Palestina ocupada por colonatos israelitas.
Lançado pela primeira vez em 2013, o Especial Natal do coletivo fundado por Fábio Porchat e Antônio Tabet tem colecionado polémicas. No final de 2019, a sede do grupo de humor foi atacada com cocktails molotov, precisamente por causa do especial daquele ano, no qual Jesus Cristo descobria a sua homossexualidade e começava a namorar com um homem. A Netflix foi, em primeira instância, obrigada judicialmente a retirar da plataforma "A Primeira Tentação de Cristo" mas, em janeiro de 2020, o Supremo Tribunal Federal (STF) revogou essa decisão.