Quando, na próxima segunda-feira, 22 de novembro, a CNN Portugal iniciar as emissões, o que Diana Bouça-Nova, Isaura Quevedo e André Neto de Oliveira — os pivôs do primeiro bloco informativo, que ocupará, de segunda a sexta-feira, as manhãs do canal — prometem é uma informação trabalhada de forma diferente face ao que é feito atualmente no País: dinâmica, sempre em permanência e com os olhos postos tanto em Portugal, como no mundo.

O novo canal do grupo Media Capital vai substituir a TVI24 e a forma como decorrerá o primeiro dia de emissão, nos estúdios de Queluz onde antes moravam também os conteúdos de entretenimento e que agora são exclusivos à informação em formato de 24 horas, está envolta em secretismo absoluto. O que se conhece, para já, são os nomes dos blocos informativos e os pivôs que lhes emprestarão o rosto numa base diária.

Sabe-se que a emissão arrancará às 21 horas mas, mais do que isso, a TVI, depois de questionada pela MAGG, não adianta, nem quem será o pivô a estrear o canal, embora alguma imprensa avance que será Judite Sousa. A MAGG tentou corroborar esta informação junto da TVI, que não confirmou nem desmentiu.

De Judite Sousa a Júlio Magalhães, quem vai poder ver todos os dias na CNN Portugal
De Judite Sousa a Júlio Magalhães, quem vai poder ver todos os dias na CNN Portugal
Ver artigo

A certeza é esta: a partir de terça-feira, 23, as manhãs da CNN Portugal pertencerão a Isaura Quevedo, André Neto de Oliveira e Diana Bouça-Nova.

A preparação para o lançamento do canal, que tem Nuno Santos como diretor, envolveu ensaios, ações de formação e toda uma "operação muito complexa", tal como nos descreve a jornalista Isaura Quevedo, 28 anos, e uma das três pivô do bloco da manhã, "Novo Dia", que ocupará a grelha das 06h30 às 10 horas da CNN Portugal.

"Nunca fiz parte do lançamento de um canal, especialmente de um canal de informação e, por isso, não conhecia todo o trabalho que estava por detrás. Para fazer nascer um projeto como este são precisas muitas horas de preparação e de ensaios à séria", refere Quevedo à MAGG.

"Uma emissão diferente" e "à americana"

Por "ensaios à séria", a jornalista e pivô refere-se a sessões em que se "se simulam emissões" completas, tal como se fossem autênticas, "para estudar o que pode correr mal" e garantir que, até ao lançamento, "está tudo afinado a 100%". O erro, a existir, tem de ser facilmente controlado em plena emissão e o desejável é que o espectador nunca se aperceba. Afinal, boa televisão, mesmo que num registo informativo, mostra-se sem percalços a quem a vê.

Os rostos das manhãs da CNN Portugal, um canal
Isaura Quevedo, 28 anos, é um dos pivôs do primeiro bloco informativo da CNN Portugal créditos: Armanda Claro/CNN Portugal

"Vamos ter uma dinâmica de noticiários muito diferente e muito à imagem da fórmula CNN", continua. Com isto, concretiza, dizendo que "os noticiários serão de análise, de comentário em direto e com uma dinâmica muito própria".

Para quem já trabalhava em televisão, diz Isaura Quevedo que o desafio principal foi passar por um período de desconstrução sobre o que é, afinal, "fazer televisão de forma diferente".

"Na CNN, e nesta fórmula americana, trabalha-se muito para o espetáculo da televisão, nunca descurando o rigor informativo, mas investindo em dois ou três temas com análises, comentários e diretos".

E ainda que não possa revelar muito mais do que isso, a pivô explica que, como arranque da CNN Portugal, virá também "um conceito de reportagem" que "talvez não seja feito em Portugal".

Assédio nos bastidores da TV por quem o viveu. SIC e TVI explicam como protegem trabalhadores
Assédio nos bastidores da TV por quem o viveu. SIC e TVI explicam como protegem trabalhadores
Ver artigo

"Em vez de apresentarmos uma reportagem que conta uma história sobre um determinado tema, teremos um repórter diretamente do local que escolherá as entrevistas que ele próprio vai lançar no ar e que explica os grafismos com os dados que ele recolheu. É uma maneira diferente de fazer a mesma coisa", refere. É como se o jornalista fizesse parte da peça e não se limitasse a apresentá-la, portanto.

Sobre se é fácil identificar o que chamará a atenção do espectador, Isaura Quevedo foca-se num aspeto específico: a imagem. Ou, melhor dizendo, a realização. "A realização é, efetivamente, muito diferente face à maneira como vemos gravados os noticiários nos canais informativos em Portugal e, nesse aspeto, a CNN Portugal vai ser completamente disruptiva. São coisas que, provavelmente, o espectador não consegue identificar a olho nu, mas que, a partir do momento em que vir, vai perceber que tem à sua frente uma emissão diferente, à americana e em que os pivôs, por norma, estão quase sempre no plano".

É que as peças em direto, tal como nos explica Quevedo, não são como aquelas que se estendem no tempo e que são pintadas com imagens. Os pivôs, diz-nos, "são quase como que analistas, tendo espaço para marcar a atualidade e fazer a sua análise".

Mas assim que houver uma notícia de última hora, "toda a emissão do canal muda por completo, assim como o chip" dos jornalistas. "Já testámos essa possibilidade nos ensaios e estamos verdadeiramente ansiosos para quando acontecer após estrearmos", até porque a adrenalina de uma notícia de última hora faz parte da cultura da CNN enquanto marca.

Isaura Quevedo, que começou a sua carreira em 2014 enquanto jornalista estagiária na "Vogue", fazia parte da editoria de internacional da TVI e da TVI24 quando foi convidada para integrar a CNN Portugal. Mas curiosamente, um percurso que passasse pela televisão nunca fez parte dos seus planos, tal como recorda. "Sempre achei que a minha timidez nunca me permitiria estar à frente de uma câmara."

CNN PORTUGAL - PRIMEIRO ENSAIO DIRECTO
Pouco ou nada se sabe sobre como será o primeiro dia da CNN Portugal, que arranca a 22 de novembro créditos: CNN Portugal

Foi durante um estágio na TVI, que decorreu entre janeiro e setembro de 2016 e que fazia parte da pós-graduação que estava a completar, que surgiu a oportunidade de experimentar. "Quando comecei a fazer televisão, a paixão foi imediata. É uma adrenalina diferente porque sentimos muito mais o imediatismo do jornalismo."

Esta ideia, admite, pode soar contraditória. Afinal, o digital, por onde se movimentou no início da carreira, é muito mais imediato.

"Mas nunca senti, no digital, a adrenalina que sinto num direto para televisão, em que as coisas podem correr bem ou mal", diz a jornalista a quem já não se lhe é possível identificar qualquer timidez ou embaraço.

A CNN Portugal como a escola de fazer "informação em direto" com rostos que fidelizam

De percursos curiosos percebe Diana Bouça-Nova, 36 anos, que assumirá o bloco "Novo Dia" a partir dos estúdios da CNN Portugal, no Porto.

Começou no jornalismo, em 2007, com um estágio na TSF, e em 2009 entrou na SIC onde assumiu a apresentação do programa "Curto Circuito". Entre 2009 e 2015, cobriu vários festivais de verão e somou centenas de horas de diretos enquanto jornalista de entretenimento.

Os rostos das manhãs da CNN Portugal, um canal
Diana Bouça-Nova estará diretamente dos estúdios do Porto da CNN Portugal créditos: Armanda Claro/CNN Portugal

O sonho, no entanto, sempre passou por voltar à informação. E foi o que fez em 2015, ao entrar para a RTP através de um estágio profissional — o que, nas suas palavras, foi "dar um passo atrás". Afinal, naquele momento já tinha mais de seis anos de experiência em televisão. Mas a jornalista encarou o desafio como sendo necessário para poder dar "dois passos para a frente".

"Mudei porque não sei trabalhar sem me sentir desafiada. Já sentia que, na SIC, fazia aquilo facilmente e bem [referindo-se à cobertura dos festivais ou aos programas temáticos que apresentou]. Mas queria falar de outros temas que discutia em casa, como política, por exemplo, e percebi que precisava de fazer outro caminho", diz-nos Diana Bouça-Nova.

E o início do regresso à informação descreve-o como tendo sido "um bocadinho mais difícil".

"Fidelizar as pessoas faz parte do que também é fazer televisão e é importante que as pessoas percebam a importância que têm no nosso trabalho"

"Mesmo sendo jornalista, há sempre um rótulo associado a quem vem do entretenimento, mas isso ultrapassa-se com o trabalho e a disponibilidade que se mostra para as coisas", refere. Questionada sobre se as centenas de hora em direto, e a experiência que ganhou, ajudaram a que o preconceito acerca do seu percurso se dissipasse, Bouça-Nova não tem dúvidas.

"São experiências que ficam. Mesmo que os temas sejam diferentes [no entretenimento], não deixam de ser horas e horas em direto", embora garanta não pensar nessa noção de preconceito que, apesar de tudo, nunca veio das direções para que trabalhou.

"Sei que o preconceito existe, ou que já existiu mais, mas fica com quem o sente. Só tenho de me focar no meu trabalho e provar, através dele, que sou capaz. Fiz o meu caminho e valeu a pena porque, sete anos depois de ter voltado à informação, recebi o convite para integrar o projeto da CNN Portugal" que assume que será a sua "escola de informação em direto", da mesma forma que a SIC foi a sua "escola de fazer diretos e televisão em geral" e a RTP onde aprendeu a trabalhar a informação.

É por isso que, voltar ao entretenimento, lhe parece "muito difícil".

No momento em que Diana Bouça-Nova aceita falar com a MAGG, na semana anterior ao lançamento do canal, está entre ensaios. E descreve o projeto como o lugar onde o rigor e o dinamismo da informação serão sempre os pontos basilares da CNN Portugal.

"Temos esta mais valia de ser CNN e de termos repórteres em várias partes do mundo, o que nos vai ajudar a estar presentes onde acontece a notícia", explica-nos. Mas há outras diferenças, como a aposta em blocos informativos fixos com rostos, também eles imutáveis. Em comparação com os restantes canais de informação que serão concorrentes, a jornalista fala em "formas diferentes de trabalhar".

"Saber que, àquela hora, vamos ver e ouvir aquelas pessoas, é importante e não acontece nos outros canais noticiosos. Isso vai fazer a diferença para que o espectador saiba com o que contar. Fidelizar as pessoas faz parte do que também é fazer televisão e é importante que as pessoas percebam a importância que têm no nosso trabalho", assegura.

Os rostos das manhãs da CNN Portugal, um canal
Nos estúdios de Queluz, em Lisboa, já só passa informação créditos: Armanda Claro/CNN Portugal

A palavra de ordem é secretismo e, por isso, pouco ou nada se pode saber acerca daquilo que irá para ar. Mas sobre o bloco informativo da manhã, Diana Bouça-Nova promete "um jornal bastante dinâmico" até porque os três estarão "sempre a conversar" ao longo das mais de três horas de emissão com "cobertura em Lisboa, no Porto" e no mundo.

"Mais uma novidade. Será nesse jornal que se vai marcar aquilo que será falado ao longo do dia na CNN Portugal", diz. "O que muitas vezes vemos nos canais informativos, é a mesma informação dada várias vezes, seja qual for o bloco noticioso".

Na CNN Portugal, a ideia passa por desconstruir essa noção.

Os temas até poderão ser os mesmos, "mas as pessoas, as abordagens e as análises" serão sempre diferentes. Até porque, reforça a jornalista, "os públicos dos vários horários também não serão iguais".

"Se Joe Biden falar de um conflito internacional às três da manhã, iremos passar esse discurso na íntegra"

André Neto de Oliveira, 31 anos, é quem estará, nos estúdios de Lisboa e ao lado de Isaura Quevedo, a coordenar o bloco da manhã da CNN Portugal. Integrou a equipa em setembro e fala destes meses de preparação como "desafiantes, cansativos", mas também como uma experiência que, quem faz parte da equipa fundadora, alguma vez voltará a viver.

O desafio decorre não só da valência de o projeto estar associado à marca CNN, mas também do facto de esta ser a primeira vez que o jornalista terá de trabalhar a atualidade, depois de quase dez anos a cobrir a área do desporto (primeiro em "A Bola TV", do jornal "A Bola", entre 2011 e 2016; e depois enquanto pivô principal da Sport TV, entre 2016 e 2021).

Os rostos das manhãs da CNN Portugal, um canal
André Neto de Oliveira, 31 anos, diz que a CNN Portugal vem "dar mundo" ao jornalismo português créditos: Armanda Claro/CNN Portugal

"O meu percurso foi todo ligado ao desporto. Não porque fizesse finca-pé para que assim fosse, mas porque acabou por acontecer. O meu objetivo nunca foi ficar fixo no jornalismo desportivo ao longo da minha carreira. Queria abrir portas às generalistas e apareceu um projeto certo na altura certa", diz à MAGG.

Ao longo das formações que decorreram antes do arranque do canal, os profissionais da CNN Portugal tiveram acesso ao livro de estilo que define a forma de a marca olhar para o jornalismo. E isso, diz André Neto de Oliveira, será visível no arranque do canal.

"Pretendemos ser mais incisivos naquilo que vamos fazer. Vamos tentar esquecer os caminhos floreados em que, muitas das vezes, o jornalismo português cai, e em que me incluo, para deixar de parte o acessório e ir — sem medos — ao essencial. O facto de, em termos de informação, termos as marcas CNN e TVI por detrás, que são marcas de grande prestígio, dá-nos essa alavancagem para perguntar sem medo a quem tivermos de perguntar", concretiza.

"Se não está a acontecer nada em Lisboa ou em Salvaterra de Magos às três da manhã, certamente que em Seul ou em qualquer outra parte do mundo estará a acontecer"

Mas haverá diferenças em estilo face à forma como, nos EUA, a CNN aborda o país. Até porque o contexto político e social é outro e as tensões muito diferentes das nossas.

"A CNN está colada a um lado da sociedade americana que é uma sociedade absolutamente dividida. Isso não acontece em Portugal, em que somos mais orientados ao centro da balança. Estamos nos antípodas daquilo que são os EUA, em que toda a gente escolhe um lado. Por isso, não vemos o jornalismo dessa forma, mas temos muito a aprender sobre como se faz jornalismo na CNN, pela forma constante e abrangente como o fazem."

É que, a partir de 22 de novembro, os meios e a rede de que dispõe a CNN americana será transportada também para Portugal.

"Vai ser fácil fazer uma chamada em direto com alguém que esteja do lado do mundo e isso vai trazer ao público português o mundo que, muitas das vezes, o nosso jornalismo se esquece um bocadinho de dar." Comparando a CNN Portugal à Sport TV, onde esteve entre 2016 e 2021, o jornalista e pivô admite que as diferenças entre as duas estações sentem-se não em termos técnicos, mas na escala em que trabalham.

Editorial. Desculpem, mas os leitores não querem jornalistas
Editorial. Desculpem, mas os leitores não querem jornalistas
Ver artigo

"A Sport TV está já muito bem apetrechada, não só por ser líder de mercado praticamente desde que nasceu [em 1998], mas também por ter umas instalações fantásticas. Notam-se poucas diferenças na qualidade técnica, mas mais na escala que é incomparável", identificável, até, "pela quantidade de gente que, na CNN Portugal, está a trabalhar à volta do mesmo produto".

É um projeto megalómano com estúdios a ocupar 600 metros quadrados e que contam com uma redação partilhada entre a equipa da CNN Portugal e da TVI. Para números fáceis, contabilizam-se 18 pivôs, três correspondentes internacionais e 15 comentadores. Mas por detrás dos rostos que vemos no ecrã, haverá toda uma redação de jornalistas em sentido e sempre alerta.

E se, em 2001, aquando do lançamento do primeiro canal de informação em português, a SIC Notícias, o mundo era diferente e menos ligado entre si, agora faz todo o sentido. Até na ótica de, reforça Neto de Oliveira, "dar mundo ao jornalismo português".

"Se não está a acontecer nada em Lisboa ou em Salvaterra de Magos às três da manhã, certamente que em Seul ou em qualquer outra parte do mundo estará a acontecer. Com a nossa rede de correspondentes da CNN Portugal, da CNN Internacional e CNN americana, será possível fazer com que as pessoas sejam informadas sobre coisas que acontecem em Portugal e no mundo."

E às horas a que elas acontecem. O objetivo, continua o jornalista, "é que as notícias da madrugada sejam feitas com a mesma naturalidade com que são feitas às três da tarde ou às oito da manhã".

"Cada coordenador fará as suas escolhas editoriais, mas não tenho dúvidas de que se, por exemplo, Joe Biden falar de um conflito internacional às três da manhã, nós iremos passar esse discurso na íntegra."