Antes que a Madeira encha o céu de fogo de artifício, fomos ver as ruas floridas a propósito da Festa da Flor. Mas este não é o único encanto do arquipélago. Passámos três dias no Funchal e percorremos aquilo que é mais típico. Sim, fomos básicos, mas a verdade é que nos apercebemos que são os clássicos que caracterizam a ilha e que, apesar de ser a nossa segunda visita, alguns nunca tínhamos conhecido. Contudo, pelo meio ainda ficámos de boca aberta a dizer "uau" com as modernices, entre elas a chocolataria UAUCACAU.
Gastronomia, natureza e arte são as três palavras que caraterizam a ilha da Madeira, mas temos muitas mais para descrever cada sítio que descobrimos, bem como a beleza e a simpatia de quem nos recebeu.
Uma dessas pessoas foi Eduardo Macedo, guia turístico da MBtravel, que numa manhã solarenga de outono nos levou até à floresta Laurissilva para percorrer a Levada do Risco, em direção à cascata. Antes de regressar, tivemos direito a marmita da Vantastic.
Depois dito, fomos refrescar-nos ao hotel, com vista para o mar. É precisamente pelos hotéis que começamos este roteiro, porque não pode ir sem a garantia de que dorme mesmo de frente para o Atlântico.
Sono de beleza
Rumámos à Madeira e o primeiro passo foi deixar as malas no hotel Golden Residence, um quatro estrelas simples e com pormenores que conferem bem-estar. Um deles é a vista para a praia Formosa, a maior praia pública da Madeira, com um areal escuro composto por areia e calhau rolado. Quem tem a sorte de acordar com esta vista abre os olhos num ápice, mas, em alternativa, o cenário é igualmente deslumbrante na esplanada do pequeno-almoço, para a qual se deve ir cedo para ver o sol a subir a linha do horizonte.
Os quartos não são dados a luxos, mas têm todo o conforto necessário para uma boa noite de sono. Se mesmo assim precisar de um reforço, pode descansar o resto no spa, com massagens que vão desde os 35€, no caso da massagem localizada na zona de que precisa, ao mais indicado para o efeito: o ritual de sono (e diríamos de fome), que consiste na terapia de chocolate (70€). Ao reservar o tratamento entre as 10h e as 15h, terá 25% de desconto. Uma noite para duas pessoas no hotel Golden Residence custa desde 89€, com pequeno-almoço incluído, de 28 para 29 de outubro, por exemplo.
Outras opções de estadia são o clássico Belmond Reid's Palace ou o VidaMar Resort Hotel, com uma campanha especial a decorrer. Sobre o primeiro, terá tudo o que pode esperar de um cinco estrelas, desde a decoração sumptuosa dos quartos, com casa de banho em mármore, até às três piscinas e acesso direto à praia. Neste hotel, a estadia custa a partir de 380€ por noite para duas pessoas de 14 para 15 de outubro, por exemplo.
Quanto ao VidaMar Resort Hotel, no coração da ilha da Madeira, vai ter de ficar alguns dias para explorar os cinco restaurantes, as três piscinas infinitas de água salgada, o piano bar e os tratamentos do Thalasso Sea Spa. Terá de incluir tudo isto no programa e alinhavá-lo com a Festa da Flor, que começou a 1 de outubro (e sobre a qual falaremos adiante). A propósito da festa, o VidaMar Resort Hotel tem uma campanha a decorrer e é válida para reservas feitas até 15 de outubro. Terá direito a meia-pensão, transfer do aeroporto ao hotel, um itinerário pelos jardins públicos da cidade e acesso às aulas de grupo no Vida Health Club e à piscina interior/exterior aquecida desde 94,50€ por pessoa e por noite.
Os clássicos: teleférico e carros de cesto
É incontornável: se vai ao Funchal, tem de andar no teleférico e nos carros de cesto. Nós fizemos os dois e até no teleférico fomos ao mais turístico que há: o Teleférico do Funchal, inaugurado em 2000. Vai desde a parte velha do Funchal até ao Monte e dentro da cabine vê-se o azul intenso da baía da cidade construída num anfiteatro, bem como os jardins e as hortas. Num dia diferente, vá experimentar o teleférico das Achadas da Cruz (bilhete de ida e volta por 3€) que, segundo a guia Graça Lopes, mostra-nos um outro lado menos turístico da Madeira e igualmente belo, desde logo pelo mar nu de casas e edifícios e também pela vinha e as hortícolas que se avistam na ligação entre Porto Moniz e a Fajã da Quebrada Nova.
De volta ao Teleférico do Funchal, funciona todos os dias das 9h às 18 e o bilhete custa 11€ ida ou 16€ ida e volta. Aconselhamos apenas a ida, para que uma vez chegado ao Monte, fique uns minutos pelo Land Food & Coffee, com café moído na hora. Tem ainda, feito igualmente no momento, requeijão do Santo da Serra, com nozes e pickles caseiros em pão de fermentação natural (6€), açorda de camarão com pão de fermentação natural (12€) e, para adoçar, uma fatia de bolo caseiro (3€). Ah, e café, claro (expresso 1,50€; filtro 2€).
Quando estiver satisfeito, já pode seguir para os carros de cesto dos Carreiros do Monte. "Reza a história que isto começa por necessidade. Na altura, os abastados vieram para a Madeira e tinham cá em cima as suas quintas. Então, como precisavam de deslocar-se para o centro do Funchal e tinham de arranjar algum meio de transporte, apareceu uma espécie de cesto para levar os senhores e senhoras para o centro e alguns alimentos", conta à MAGG Norberto Gouveia, 52 anos, presidente da Associação dos Carreiros do Monte há oito anos e trabalhador nos Carreiros do Monte há 15.
Dado que na primeira vez que estivemos na Madeira decidimos não experimentar os carros de cesto por algum receio (agora, sabemos, sem sentido), pedimos a Norberto que nos convencesse porque é que não devemos temer e vale a pena a aventura. "É único no mundo, só por aí já está no topo, nunca morreu ninguém, é o meio de transporte mais seguro do mundo e somos muito simpáticos", brinca e acrescenta que a atividade tem também valor pelo facto de ser uma tradição que passa de geração em geração. O passeio (de segunda-feira a sábado das 9h às 18h), com partida no Monte do Livramento, custa 25€ para uma pessoa, 30€ para duas e 45€ para quatro pessoas.
Viajar pelo mundo e percorrer a história: fomos ao Monte Palace Madeira
Ainda estamos no Monte, desta vez no Monte Palace Madeira, um jardim botânico que é muito mais do que isso: é também um repositório de coleções de arte, como é o caso da exposição "Paixão Africana". A coleção histórica da Coleção Berardo é composta por mais de 1000 esculturas contemporâneas do Zimbabué, feitas de pedra sabão. O mais curioso é a forma como são apresentadas: tal e qual como foram encontradas. Outra das exposições permanentes é a "Segredos da Mãe Natureza", que transporta-nos para dentro de uma mina para mostrar os mais belos minerais, incluindo diamantes (veja com atenção, porque aquele que achar que é o diamante verdadeiro pode não ser). Esta coleção, com cerca de 700 amostras, demorou 15 anos a completar, mas está tudo à vista e à sua espera.
A viagem no tempo continua ao ar livre pelo jardim botânico, no qual percorremos quatro continentes só através das plantas e flores que foram trazidas para o jardim do Monte Palace Madeira. A flora é o que mais se destaca e esta vai variando ao longo do ano. Se visitar o jardim a partir de novembro, vai encontrar azáleas e orquídeas e até dezembro avistará as famosas hidrângeas, que variam entre o azul, violeta, branco e rosa. Depois de percorrer os países, percorra a história de Portugal através dos painéis de azulejo que enumeram os acontecimentos mais importantes desde a aclamação do primeiro rei de Portugal, Dom Afonso Henriques, até ao 25 de Abril, em 1974.
O Monte Palace Madeira está aberto todos os dias das 9h30 às 18h e o bilhete custa 12,50€.
No final, saia na entrada norte do Caminho das Babosas e passe no Greenhouse para mais um café ODD moído na hora, acompanhado de um dos bolos caseiros (3€) — se houver a tarte de maçã feita com camadas e camadas do fruto, peça essa.
Comer bem (e menos fosse)
Depois da visita ao Monte Palace Madeira, que deve ser feita com tempo, já apertava a fome e seguimos de imediato para o Pátio Das Babosas. É como que uma extensão da vista do teleférico, com a vantagem de que aconchega o estômago com a gastronomia madeirense. Começámos, claro, com bolo do caco com manteiga de alho (2,90€) e também com vinho madeirense, da Quinta Do Barbusano (19,50€).
Para a mesa só vieram pratos com ingredientes típicos, como é o caso das lulas grelhadas, com puré de batata e salada (14,90€), o bife de atum grelhado, com milho frito e salada (14,90€), e o filete de peixe espada grelhado, com batata doce com mel de cana de açúcar e legumes (13,90€). Temos a dizer que foi das batatas doces mais saborosas que alguma vez provámos e até uns simples legumes conseguiram ter um outro encanto pela forma como estavam confecionados.
Problema: na Madeira manda a regra que é poncha aqui, bolo de mel ali (vamos explorar o assunto na Fábrica Santo António) e mesmo que nada disso houvesse, as doses servidas no Pátio Das Babosas davam para uma marmita no dia seguinte. Escusado é dizer que, para dar conta do recado, deixámos escapar a sobremesa (mas a batata doce não ficou para contar história).
Onde comer o melhor bolo do caco e poncha
Este ponto é para guardar em jeito de nota. Ninguém melhor do que os locais para indicar onde comer e beber o que é mais tradicional e foi isso mesmo que fizemos. Trouxemos várias respostas, que partilhamos consigo.
Para a melhor poncha, vai ter de ir ao centro do Funchal e procurar pel'A Mercadora, classificada como uma das Lojas com História, iniciativa da Câmara Municipal do Funchal que dá destaque aos estabelecimentos que marcam a história e cultura da cidade. Outros sítios com boas ponchas da Madeira são a Pharmácia do Bento, localizada no Beco Pimenta, e o Abrigo Do POISO.
Para melhor bolo do caco, os da Casa do Bolo do Caco, no centro do Funchal, ou do restaurante Santo António, no Estreito de Câmara de Lobos.
Um docinho. Ou dois.
Bolachas ou chocolate? Na dúvida prove e leve os dois. Dá sempre jeito ter uma bolachinha à mão e as da Fábrica Santo António são para ter na mão, na mala e sempre nos armários. A história destas bolachas começou em 1893 e foi-nos contada por Bruno Vieira, de 40 anos, administrador da Fábrica Santo António.
"Nasceu há 128 anos, por um senhor chamado Francisco Roque Gomes da Silva, e na altura surgiu como a primeira fábrica de bolachas e de biscoitos da região. Neste momento a empresa pertence à mesma família, encontra-se na quinta geração, e ao longo do tempo foi desenvolvendo outros produtos", conta Bruno. É o caso do bolo de mel e dos rebuçados — o mais conhecido é o de funcho, que faz jus à história da ilha que, conta-se, quando descoberta em 1419, foi logo avistado um vale denso em arvoredo e em funcho.
Contudo, as bolachas são a marca da Fábrica Santo António, sendo a mais conhecida a bolacha Maria, que está na origem do projeto. Atualmente, há também broas especiais (2,25€). "A nossa gama de broas especiais já ultrapassou em larga escala as broas tradicionais", revela o administrador. Pode provar um bocadinho da essência da Fábrica Santo António através da lata Dona Guilhermina, em homenagem à mulher do fundador, que criou a maioria das receitas (que vêm escritas no papel de ceda que envolve as bolachas).
A completar a oferta da Fábrica Santo António, há compotas de frutas da região e ponchas. A Fábrica Santo António está no número 27 da Travessa do Forno e na grande distribuição no continente.
Das bolachas, passamos para os bombons da UAUCACAU, lançada em 2014, feitos com chocolate belga e recheio de ingredientes madeirenses. São exemplos o chocolate de tomate inglês (fruta que vai poder ver quando visitar o mercado dos Lavradores), de bolo de mel, de poncha, de vinho da Madeira e ainda as trufas de rum 970 da Madeira ou de maracujá. Cada chocolate custa 0,60€ e se for a acompanhar com café custa 1€. Vai encontrar a UAUCACAU na rua da Queimada de Baixo e no mercado dos Lavradores.
Pela natureza
A Madeira tanto é um retiro gastronómico, como de natureza. Pode senti-la um pouco mais perto ao percorrer uma das levadas (estima-se que juntas tenham mais de dois mil quilómetros), que deve fazer sempre na companhia de um guia e, de preferência, bem cedo. Percorremos a levada do Risco guiados por Eduardo Macedo, guia turístico da MBtravel, e começámos pela costa sul, onde há mais espécies introduzidas.
Depois de passarmos um túnel que liga a costa sul à norte, chegámos à floresta Laurissilva, um tipo de floresta húmida subtropical e endémica da Macaronésia (composta pelos arquipélagos dos Açores, Madeira e Canárias). Aqui vai encontrar urzes, uveira da serra e rabaças no que diz respeito à flora. Já a fauna é caraterizada pelo vendilhão, pombo trocaz (diz-se que é responsável pela difusão da floresta Laurissilva na ilha) e o bis-bis.
A levada que fizemos leva-nos a 1000 metros de altitude, sendo que o ponto alto é mesmo quando avistamos a cascata do Risco. Antes de fazer o caminho de regresso, parámos para abrir, finalmente, a marmita saudável e com opções vegetarianas da Vantastic, para ganhar forças e fazer o caminho de volta, novamente pelo túnel com 800 metros.
A apontar no calendário
Além de tudo o que enumerámos até agora, até 24 de outubro há mais duas razões para ir à Madeira. A primeira é a Festa da Flor, que enche a cidade de flores, bem como de música. O cortejo alegórico já aconteceu, dia que é sempre marcado pela passagem dos carros decorados com flores da região segundo um tema, este ano foram os tapetes, e com figurantes vestidos a rigor. Contudo, a festa continua com concertos todos os dias, ora na placa central da Avenida Arriaga, ora no pavilhão dos concertos. Destacam-se alguns, como é o caso das atuações dos grupos participantes no cortejo alegórico, que acontecem a 9, 10, 16 e 17 de outubro na Praça CR7 e no Heliporto. Se chegar à Madeira a 24 de outubro, ainda vai a tempo de ver as últimas atuações do grupo folclore e as atuações musicais.
Também até 24 de outubro, decorre a Festa do Vinho Madeira. Está planeada a iniciativa "concertos nas vinhas" — a 8, 10 e 17 de outubro —, com música ao vivo e degustação de vinhos fortificados (pode reservar aqui). Durante o período de festa, quem quiser pode fazer uma masterclass de vinho Madeira a 9 de outubro ou até participar na vindima, a decorrer na freguesia do Estreito de Câmara de Lobos. Tanto pode apanhar as uvas, como acompanhar os cortejos de vindimadores. Consulte o programa completo online.