Lembra-se do Tesla e da piscina com vista panorâmica no primeiro diário de bordo Dubai? Pois. Achávamos nós que já tínhamos visto luxo. Foi só o início e uma amostra do expoente máximo do que significa luxo: o Burj Al Arab, do Jumeirah Group, aberto em 1999, hotel de cinco estrelas (mas conhecido como de sete por tal imponência).
Logo no lobby é de ficar abismado com a abundância de dourados feitos de ouro verdadeiro e o Rolex a indicar que esta é obra onde todos os detalhes foram pensados ao pormenor. E tudo partiu de uma ideia maior: "Criar algo que nunca foi feito antes e nunca será feito novamente”, pensamento do vice presidente e primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos (EAU), Sheikh Mohammed bin Rashid Al Maktoum, com que foi criado o Burj Al Arab, segundo o guia na visita guiada ao hotel.
Sim, porque uma estrutura destas merece ser vista por todos, mesmo por aqueles que só podem pagar cerca de 65€ e não uma noite superior a 900€ para duas pessoas. Ou mais. No caso de Ronaldo, das Kardashians, de Justin Bieber, de Gigi Hadid e de Nelson Mandela, que já ficaram na royal suite, no 25.º andar de 27, com tudo o que não se possa imaginar em dois andares: escadaria forrada a tapete leopardo; quarto queen com cama redonda e espelho no teto da mesma; quarto king com cama giratória; uma televisão banhada a ouro; e um elevador próprio para aceder e sair da suite.
Depois de vermos tudo isto, percebemos que das duas, uma: ou somos pouco impressionáveis ou não há como negar que tanto pormenor cai no espectro do foleiro onde não sonhávamos ficar. O mesmo não se pode dizer dos restantes quartos do hotel com 27 andares, que inclui ainda um restaurante panorâmico, o Skyview bar, que recentemente abriu também aos almoços.
Outra boa opção para almoçar é no SAL, beach club gerido por uma portuguesa, Marta Fidalgo, que tivemos oportunidade de conhecer.
Camões, neste mar salgado, no SAL não há lágrimas por Portugal
O SAL foi um projeto pensado pelo CEO do Jumeirah Group, o português José Silva, e aberto em setembro de 2020 pelas mãos de Marta Fidalgo, portuguesa que foi para o Dubai em 2016. Já passou por Londres, para onde foi aos 23 anos após concluir os estudos na área de Marketing e Turismo em Portugal, mas cansada do tempo sempre deprimente do Reino Unido, decidiu tentar uma oportunidade onde o sol está sempre alto, o calor a libertar toxinas do corpo e as praias paradisíacas a convidar para um mergulho.
"Tinha uma amiga que dizia: 'Marta, tens de vir para cá. Isto é tipo férias todo o ano. Vais adorar, é sempre sol'. Porque eu já estava completamente saturada daquele tempo. Mete qualquer pessoa deprimida. Então disse 'ok, vamos tentar'. Mandei o meu currículo e foi aí que começou a viagem aqui. Trabalhei para várias companhias, como o Kempinski Hotel", contou durante o almoço, até chegar ao momento em que o SAL entrou na sua vida e tornou-se o 7.º pre-open na carreira.
O beach club é um misto entre mergulhar na piscina, poder ter um almoço leve e requintado com influências mediterrânicas e uma vista 360º de luxo ora para a praia, ora para o Burj Al Arab.
Não metemos o pé na piscina, por mais tentadora que estivesse, mas metemos a mão e o garfo em alguns pratos de assinatura do SAL — servidos em louça da marca portuguesa Vista Alegre. Caviar em cima de um tártaro de atum (51€) para começar, assim como gaspacho de tomate (10,40€) para refrescar dos quase 40ºC, seguido de uma incrível trenette pasta, com pesto, tomate e caranguejo (70,20€).
Depois, sim, do Dubai voltámos por instantes a Portugal numa dourada portuguesa com batata assada (65€), cujo molho no prato levou a nossa gula a pegar em mais um pedaço de pão para ensopar no caldo. E sendo um espaço fundado por uma portuguesa, tinha de ter um pouco do que é nosso. Até ao final.
Ao chegar às sobremesas, além uma tarte de framboesas, mango sago (feita com pérolas de tapioca vegan) e um tiramisù cremoso, havia mini pastéis de nata. Um pedaço de Portugal na mesa e no staff — do qual faz parte a simpática Sofia, 21 anos, que nos serviu, e o Tiago, responsável pela gestão das camas da piscina —, que permite aos portugueses que tanto visitam o Dubai (e o Turismo do Dubai espera que até ao final de 2022 a totalidade dos viajantes antes da pandemia seja retomada a 100%, segundo a "Volta ao Mundo") matem as saudades, mesmo de férias.
Ah, e num dia passado na piscina do SAL (cerca de 208€, com metade do valor em crédito) é obrigatório ir à casa de banho. Quem fica o dia todo, tem acesso a uma casa de banho com balança, cacifos, desodorizante e (o que nos deixou mais impressionados) a máquina de café — um atentado para quem só de ouvir o nome ou sentir o cheiro fica com o ritmo acelerado.
O spot feito para o Instagram
A manhã do segundo dia no Dubai começou no Dubai Frame. É melhor fazer a visita com a barriga não muito cheia, razão pela qual fomos antes da visita ao SAL, porque aqui convida-se a caminhar sobre uma ponte de vidro, a 150 metros de altura. Começa com o que seria uma explicação histórica, curta e não muito explicativa, mas com o essencial.
No entanto, os maiores detalhes sobre o Dubai Frame ficámos a saber já quase à saída. Talvez se antes tivéssemos percebido que esta infraestrutura (em grande escala, como tudo no Dubai) foi concebida por cerca de 3.600 especialistas, desde engenheiros a arquitetos, e que a ponte tem 116 metros quadrados de vidro inteligente que fica transparente quando uma pessoa caminha, teríamos valorizado mais a experiência no topo do edifício.
Experiência essa que não é para todos, dado que é preciso ser um tanto destemido para passar por cima da ponte. Apesar de nem um frio na barriga termos sentido — quem se atirou de um avião, talvez já esteja imune a algumas emoções em alturas (não todas, como contaremos nos próximos episódios) — à nossa volta havia quem estivesse mais cauteloso.
Com mais ou menos medos, o Dubai Frame é um ícone do Dubai a visitar que, alem de o interior ficar bem nas fotografias, o exterior é uma moldura do Instagram sem precisar de filtros adicionados.
A visita ao Dubai Frame custa desde cerca de 65€ por pessoa.
Viver como um beduíno por uma noite
Há uma imagem que não vamos esquecer desta viagem ao Dubai: James com uma mão no volante do Land Rover amarelo de 1951 e outra do lado de fora a sentir o calor, a poeira, o vento que corria à velocidade do carro (ainda que reduzida devido ao conceito sustentável do safari, de que já iremos falar). O olhar ia atento na estrada, enquanto o sorriso estava perdido em pensamentos, acreditamos, do quão bom é sentir o deserto.
Não entrámos a esse nível na privacidade de James, mas pelo menos era isso também que estávamos a sentir e graças a ele. Embarcámos num safari pelo deserto com a Platinum Heritage Safaris, única empresa de ecoturismo no deserto na qual James trabalha há um ano e meio. Saiu do Brasil com 20 anos, foi viver e trabalhar cinco anos para a Austrália, depois Nova Zelândia, seguiu para o Dubai mais tarde e não vai ficar por aqui porque quer "viajar o mais possível".
Felizmente ainda não saltou de país, porque a animação deste brasileiro, que sente falta das suas caipirinhas, compensa qualquer álcool que no Dubai é taxado a preços que nos deixam sem vontade de um cocktail ou sequer cerveja.
A Platinum Heritage Safaris distingue-se pelos carros Land Rover restaurados, que percorrem cautelosamente a Reserva de Conservação do Deserto do Dubai (o mais antigo e um dos maiores parques nacionais dos Emirados Árabes Unidos) sem destruir as dunas e a vegetação que alimenta os animais, como os órix-da-arábia, e levam os turistas até aos acampamentos premiados como os mais sustentáveis no Dubai Sustainable Tourism Awards 2019, onde continua a experiência noite dentro.
Antes desta, James levou-nos a ver as ondas do deserto, a ghuf, uma árvore nacional protegida, a passar ao lado do resort de deserto Al Maha ("lindos olhos", em português) e a assistir a um espetáculo de falcoaria (um dos animais nacionais). Este foi o último ponto antes de chegar ao acampamento para uma experiência beduína, isto é, que mostra como são as tradições das tribos nómadas do deserto da Arábia.
Logo à entrada, um copo de café curto (que, se esteve atento ao diário de bordo anterior, é bom sinal) e uma tâmara e depois um banquete com intervalos para tradições culturais. Apesar da noite quente, nada tira o conforto de uma sopa, ainda por cima de lentilhas a acompanhar com pão árabe aragaki, feito com apenas quatro ingredientes — "água, sal, farinha e amor", explicou-nos James — e que vai bem de todas as formas: simples, dentro da sopa ou a acompanhar o húmus que nas entradas ao lado de pastel de queijo.
Para criar espaço para os principais, assistimos à atuação de música e dança tradicional do Dubai, a Al-Razfa (e se não fosse o cansaço do dia, ter-nos-íamos juntado).
Para principais, algo controverso: carne de camelo, quando os camelos estavam também junto ao acampamento para quem quisesse andar. Mas partindo do principio que este é um ecoturismo, é apenas um ponto entre outros que protegem animais e natureza. Adiante.
Havia também cordeiro cozinhado como se fosse uma espécie de cozido das furnas, que tradicionalmente era feito da seguinte forma: cavava-se um buraco debaixo da terra, abria-se o carneiro e limpava-se e levava-se a carne a cozinhar no buraco. A diferença entre antigamente e agora é que antes demorava cerca de 24 horas a cozinhar pelo facto de o carneiro ser colocado dentro de uma folha de palmeira e atualmente demora entre 4 a 6 horas por estar coberto em papel alumínio.
Após uma sessão planetária para aprender a identificar as constelações e alguma shisha, seguiram-se as sobremesas, entre as quais as famosas bolas árabes luqaimat. Para rematar, um café árabe ou leite de camelo, que não nos convenceu. Quem bebe leite a todas as horas, quente ou frio, talvez conseguirá apreciar, mas para quem, como nós, já há algum anos rendeu-se apenas às bebidas vegetais, quase impossível de sentir o cheiro, quanto mais beber.
A experiência no deserto custa desde cerca de 155€ por adulto, nos quais estão incluídos um pacote aventura (kit boas vindas), safari de 60 minutos, falcoaria, jantar, passeios de camelo e entretenimento cultural.
Da ostentação ao luxo, uma palavra para resumir o segundo dia do diário de bordo: intenso.
*A MAGG viajou a convite do Turismo do Dubai.