A duas horas de voo de Lisboa, Montpellier tem tudo o que se pode pedir para uma escapadinha perfeita, seja de verão ou de inverno. Cultura, História, boa comida e melhores vinhos, gente acolhedora e simpática, natureza, quilómetros sem fim de ciclovias para ver tudo a pedalar, natureza, arquitetura, e, para satisfazer o gosto muito português de um mergulho no mar, praias lindíssimas (e pouco exploradas) a poucos quilómetros de distância do centro.

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Banhada pelo Mediterrâneo e abençoada por um clima temperado, Montpellier é a sétima cidade mais populosa de França. Com 285 mil habitantes, é grande o suficiente e com opções para todos os gostos, mas com a dimensão certa para ser visitada em dois, três dias, sem regressar a casa a sentir que fez uma maratona.

A MAGG viajou até Montpellier a convite da Transavia. A companhia low cost dos Países Baixos voa de Lisboa para Montpellier às quintas-feiras e aos domingos e, durante o mês de julho, de acordo com o site da Transavia, pode encontrar voos a partir dos 80€ (só ida).

Depois de três dias regados com os melhores vinhos que a região tem para oferecer, de achados subterrâneos e de molharmos os pés na água cálida e doce do Mediterrâneo, dizemos-lhe o que não pode perder em Montpellier.

1. Visitar o Domaine de Maguelone (e fazer uma prova de vinhos na associação)

Situada a apenas 20 quilómetros do centro de Montpellier, esta ilha aconchegada entre o Mediterrâneo e uma lagoa de água salgada é a casa da associação sem fins lucrativos Compagnons de Maguelone, que emprega pessoas com vários tipos de deficiências. Fundada em 1969, a associação cresceu dentro da propriedade onde existe uma catedral do século XI, entretanto dessacralizada. Emprega 115 pessoas, algumas das quais também vivem na propriedade, e trabalham na vinha, na horta, no jardim ou na propriedade do Domaine de Maguelone.

Com produção de vinhos orgânicos desde 2014, a Compagnons de Maguelone tem também um bar e um restaurante onde é possível realizar uma prova de vinhos (há para todos os gostos, dos tintos aos rosés, passando pelos imprescindíveis brancos) enquanto se saboreia uma refeição preparada com ingredientes locais, muitos dos quais cultivados na ilha.

De abril a setembro, os meses com mais procura turística, o acesso à ilha é pago, caso se desloque em viatura própria. Quer a catedral quer o Domaine podem ser visitados todos os dias do ano, das 9 horas às 18 horas. A visita à catedral é gratuita (e recomendamos vivamente por ser um edifício com uma História impressionante), mas a compra do audioguia por 4,50€ não só oferece melhor contexto, como também está a contribuir para a associação.

2. Dar um mergulho no Mediterrâneo

Quer se desloque de carro ou de bicicleta, e se o tempo estiver de feição, passe umas horas na praia. Tivemos a oportunidade apenas de molhar nos pés na Plage du Pilou, em Villeneuve-lès-Maguelone, mas recomendamos vivamente a experiência. A areia grossa, o areal a perder de vista (com pouca gente, mesmo durante o mês de junho e com as temperaturas a ultrapassarem os 30ºC) e o mar quente, sem ondas, proporcionam a pausa perfeita durante um passeio.

Plage du Pilou, em Villeneuve-lès-Maguelone
Plage du Pilou, em Villeneuve-lès-Maguelone

3. Fazer uma visita guiada nesta cidade milenar (e descer até ao mikvé)

Para ficar a conhecer bem Montpellier sem perder pitada da História, dos pontos turísticos, da arquitetura e de todas as curiosidades que fazem desta cidade milenar um ponto de passagem obrigatória, o melhor é mesmo marcar uma visita guiada no Posto de Turismo situado na Place de la Comédie (a praça central da cidade, não tem nada que enganar e deixamos o site aqui). Tivemos a sorte de ter um cicerone como o espanhol Bruno Martinez, que nos foi desvendando os principais recantos da cidade fundada no ano 985.

Passagem obrigatória de peregrinos em direção a Santiago de Compostela, Montpellier faz parte do Caminho de Arles, ou Via Tolosana. A cidade, cosmopolita desde tempos imemoriais, juntou nas suas ruas as culturas cristã, judaica e muçulmana em relativa harmonia, confluência essa que se viria a refletir nas tradições, vivências, hábitos e até na gastronomia.

Da Place de la Comédie mergulhamos pelas ruas estreitas da cidade, com edifícios altos e janelas elevadas do chão, uma marca dos tempos medievais, assim como grifos, sereias e outros monstros que encontramos esculpidos em pedra aqui e ali.

Pormenor arquitetónico medieval montpellier
Pormenor arquitetónico medieval créditos: MAGG e DR

No Hôtel de Varennes, uma edifício do século XVIII, marca de uma época em que Montpellier era capital administrativa da região, encontramos um poço do século XIV. Lisboa e Montpellier, explica-nos Bruno, estão unidas. Unidas por um santo, São Roque, o padroeiro da cidade que, na capital portuguesa, também tem uma igreja erguida em sua honra. São Roque, reza a lenda, era um estudante de Medicina na universidade de Montpellier (a mais antiga do mundo, fundada há 802 anos), que salvou várias vítimas da Peste Negra (tendo ele, ironicamente, sucumbido a esta pandemia que dilacerou a Europa no século XIV).

Embora seja necessário fazer uma marcação prévia no posto do turismo, recomendamos que, antes de partir para Montpellier, faça a reserva para visitar o mikvé medieval. Este espaço subterrâneo onde está, praticamente intocado, um espaço reservado a banhos judeus, foi descoberto na década de 80, tendo passado completamente despercebido (escondido nas catacumbas de um edifício) durante vários séculos.

O espaço, que se acede através de uma escadaria de pedra, tem uma área com bancos de pedra e outra com um tanque com água. Era ali que as mulheres judias de Montpellier iam para fazer os rituais de purificação exigidos pela religião judaica. Outros pontos de passagem obrigatória são a Catedral de S. Pierre, um imponente edifício gótico do século XV e o Arco do Triunfo (uma réplica, em tamanho ligeiramente menor, do de Paris).

4. Dormir no Domaine de Verchant (ou, pelo menos, fazer uma prova de vinhos e almoçar)

Situado a oito quilómetros do centro de Montpellier, este hotel de cinco estrelas faz parte da cadeia Relais & Chateaux. Ficar ali a dormir é uma verdadeira experiência de reis (ou de bispos, uma vez que a propriedade foi fundada no século XVI pelo bispo Pierre Verchant), embora não acessível a todas as bolsas. Uma noite, de acordo com o site do hotel, pode começar em época alta, nos 399€, mas não é preciso gastar tanto para conhecer esta incrível propriedade vitivinícola.

Basta que marque uma prova de vinhos, com preços a começarem nos 20€ (pode consultar a tabela aqui). Ou então um almoço (ou jantar) num dos restaurantes do hotel, o Marcelle, de fine dining, ou o La Plage, uma esplanada com vista para uma piscina infinita (que, por sua vez, tinha vista para as vinhas) e que nos fez suar do bigode só de olhar. Dica de quem fez a prova de vinhos no Domaine de Verchant: caso tenha espaço na mala de viagem, traga para Portugal uma garrafa do recém-lançado Mazette!. Não tem que agradecer.

5. Comprar produtos regionais (e gastar mais do que devia) no Le Painier d'Aimé

Marc Selle trabalhava em comunicação, em Paris, mas a pandemia fê-lo tomar uma decisão radical. Mudou de vida, mudou-se para Montpellier, trocou o mundo corporativo pelo comércio tradicional.

Marc Selle, dono da mercearia de produtos tradicionais Le Panier d'Aimé
Marc Selle, dono da mercearia de produtos tradicionais Le Panier d'Aimé créditos: MAGG

Comprou a loja Le Painier d'Aimé, que já existia na cidade há vários anos. Juntou-lhe mais produtos regionais, doces e salgados (a esmagadora maioria franceses, muitos deles locais) e tornou-a um ponto de passagem obrigatório para locais e visitantes. Além dos vinhos da região, das conservas, dos patés e das terrinas, recomendamos mesmo que compre os dois doces típicos de Montpellier: as Escalettes, bolachas ovais, muito fininhas, com vários sabores (adorámos as de chocolate) e as Grisettes, pequenos rebuçados de mel cuja origem remonta à Idade Média.

6. Ver o pôr do sol no topo da Árvore Branca

Se Montpellier fosse uma senhora, era uma anciã com roupas modernas e que fez os botoxes, os ácidos hialurónicos e as plásticas certas. E que está aí para as curvas. District Port Marianne é a zona mais moderna e cool da cidade, com edifícios coloridos, sustentáveis e com nomes tão incríveis como Le Nuage (a nuvem, onde no interior existe uma piscina pública com fundo transparente), Folie Divine (Loucura Divina), Koh-i-Noor (em alusão ao diamante mais famoso do mundo) ou L'Arbre Blanc (Árvore Branca), um moderno edifício alvo, no topo do qual existe o bar L'Arbre, ideal para ver o sol a pôr-se na cidade enquanto se desfruta de um copo de vinho ou de um cocktail.

cocktail fim de tarde montpellier

A sustentabilidade dos edifícios, os espaços verdes e a remoção progressiva dos carros da cidade são os grandes objetivos da autarquia de Montpellier, que tem vindo a desenvolver políticas de incentivo ao uso dos transportes públicos (em breve, abrirá mais uma linha de metro de superfície).

7. Dormir numa casa na árvore no Domaine Saint Jean de l’Arbousier

Pela simpatia de Nicolas Viguier, o apaixonado dono desta quinta cujas origens remontam ao século XIII, pelos incríveis vinhos que provámos (e cujas garrafas são verdadeiras obras de arte), pelas amorosas cabanas na árvores, ideais para uma escapadinhas em família, elegemos o Domaine Saint Jean de l’Arbousier como a nossa paragem predileta fora de Montpellier durante esta viagem. Situada a cerca de 30 quilómetros do centro da cidade, esta propriedade vinícola oferece, além das tradicionais provas de vinho, atividades para toda a família, além de festivais gastronómicos e de música.

As garrafas do Domaine Saint Jean de l’Arbousier são verdadeiras obras de arte
As garrafas do Domaine Saint Jean de l’Arbousier são verdadeiras obras de arte

Mas o que torna realmente única esta propriedade é o alojamento nas alturas. Nesta propriedade pode dormir confortavelmente numa árvore, só ou acompanhado, e desfrutar do que de melhor a natureza tem para oferecer. São quatro cabanas, que podem albergar até cinco adultos, situadas no topo de frondosas árvores, e todas com vista para a vinha, montanha ou mar. Para subir não é preciso grande ginástica, e dentro de cada cabana há casa de banho (sem duche, claro).

Não há água canalizada nem electricidade, mas quem é que precisa disso numa casa da árvore? O pequeno-almoço é içado num cesto para que possa, a dois ou em família, desfrutar da primeira refeição do dia enquanto ouve os passarinhos chilrear. Os preços começam nos 140€ por noite e podem ser consultados aqui.

8. Visitar o Lx Factory de Montpellier

Imagine que o Mercado da Ribeira e o Lx Factory tinham um filho. Chamar-se-ia Halles du Lez e viveria em Montpellier. Este espaço trendy e cool conta com 38 espaços gastronómicos diferentes, com sabores de regiões tão diferentes como a Ásia e a América Latina (sem esquecer, claro, os clássicos franceses como os queijos e os crepes). Desde 2020 conta também com um rooftop, onde é possível desfrutar de uma cerveja, um cocktail ou uma taça de champanhe. Há também muita street art instagramável, mercado ao ar livre com roupa e acessórios.

*a MAGG visitou Montpellier a convite da Transavia e do Turismo de Montpellier