O terraço está cheio. Numa das mesas mais compridas há quem se divida entre taças de açaí e jogos de cartas. A precisar de mais espaço, há quem se dedique a pintar pranchas de surf e, a um canto, vemos alguém a pintar flores em azulejos. Tudo isto com o sol a bater, uma música chill out sem ser irritante — às vezes é difícil — e uma vista para o mar.
Este é o cenário normal de uma sexta-feira de manhã no novo Selina da Ericeira. Pelo menos era isto que acontecia na manhã de visita da MAGG, que fez questão de espreitar o mais recente espaço desta cadeia que, ainda que tenha nascido na América Central, está a transformar a forma de alojamento em Portugal.
É que nos hostels desta cadeia, não se vai apenas para dormir. O conceito parte sempre da premissa de que o espaço é da comunidade onde se insere e, por isso, apostam no coworking, nas festas, aulas de ioga ou sessões de cinema, que podem ser aproveitadas tanto por hóspedes como locais.
Depois do Porto, Lisboa e Vila Nova de Milfontes, o hostel abre no centro da Ericeira e, tendo em conta a proximidade ao mar, toda a decoração remete à pesca, às ondas e ao surf. Nas paredes há pinturas — sempre de artistas portugueses — de peixes gigantes e logo na receção percebemos que, por ali, a roupa de praia é o uniforme para o próximos dias.
Ao pé do balcão onde são recebidos os hóspedes, funciona também uma pequena loja, com produtos de marcas portuguesas. É o caso dos biquínis da Conscious Swimwear, feitos com plástico dos oceanos, das tolhas de praia da Futah, das T-shirts da +351 e das pranchas feitas manualmente numa pequena fábrica de Mafra. Tudo isto está exposto ao lado de um pequeno canto onde cada cliente, ou habitante da Ericeira, pode passar, tirar um café a seu gosto e levar para beber pelo caminho. "Damos a opção a todos os que acordam cedo e não têm onde beber um café na vila. Mais uma vez, queremos ver aqui as pessoas da Ericeira.", explica Manuel Rito, country sales e marketing manager do grupo Selina.
E o melhor é que têm mesmo vindo até aqui. Katharina Grafl, gerente do espaço, garante que, ainda que queira que o número aumente, já são muitos os locais a aproveitar o espaço. É que, se subirmos ao primeiro andar, de facto, parece que entramos em casa — mas uma casa com piscina com vista mar.
Há sofás, pufs e cadeirões, mesas comunitárias e umas cadeira-baloiço mesmo a pedir um momento de relax. Mas também há quem venha para trabalhar. "Pedes um café, tens wi-fi e podes conviver com outras pessoas que também trabalham sem escritório", explica Manuel.
Subimos ainda mais um andar para chegar ao terraço, onde são dadas as aulas de ioga. Mais uma vez, ainda que pensadas para os hóspedes — a quem é cobrado 15€ — estão também abertas à comunidade. Nesse caso, são vendidos packs de aulas, com preços mais reduzidos.
Mas, e com isto tudo, onde é que se dorme? Em caixas de madeira. Ou melhor, são beliches, é certo, mas aqui, ainda que em camaratas, é quase como se dormisse num quarto individual. Cada cama tem paredes de madeira e a sua própria luz e tomada de eletricidade.
No total, são 58 camas divididas por 11 quartos. As camaratas podem ser de quatro, seis, dez e 20 camas, mas também há quartos de família e quartos duplos privados.
Seja qual for a opção de alojamento, a cozinha comunitária está aberta a todos, ainda que no restaurante sejam servidos pratos que até nos tiram a vontade de cozinhar. "É tudo comida saudável", refere Manuel, imediatamente interrompido por Katharina: "Bom, quase tudo", brinca. É que ainda haja batidos de melancia, morango e lima (3,90€), bowls de açai com fruta e granola caseira (6€) ou gaspacho (2€), também há batatas com maionese de alho (2€), kebab de borrego com molho tzaziki (4,50€) ou milho assado com molho de manteiga e ervas (3€).
O Selina dispõe ainda de aulas de surf, à semelhança do que acontece em todos os hostels do grupo instalados à beira mar. "Queremos que o cliente tenha a mesma experiência, seja na Costa Rica ou na Ericeira", garante Manuel Rito.
Até fevereiro de 2020, a cadeia vai abrir um novo espaço em Sintra, Peniche e Gerês. A ambição é chegar aos vinte hostels em todo o país.