Quando alguém se gaba de já ter ido a Bali, ao Egito ou ao Peru, mas me diz "Açores? Ainda não fui, mas toda a gente diz muito bem", sobem-se-me assim uns calores capazes de me fazer dar duas chapadas de portugalidade a quem dela precisa.
Toda a gente diz muito bem dos Açores, é um facto, e por alguma razão será. Os Açores são só um dos sítios mais inacreditáveis onde já estive. E sim, já temos o carimbo de Bali, do Egito e do Peru no passaporte. Mas esta pérola feita de azul e verde fica a uma viagem da Ryanair de distância. Duas horas e meia. Passa mais rápido do que a gala de "Big Brother" ao domingo à noite.
E precisamente em duas horas e meia, aterrámos nos Açores, com um teste negativo à COVID-19 e muita vontade de terminar este ano em bom.
Das 12 villas disponíveis no Sul Villas & Spa, apenas duas estavam ocupadas, cenário diferente do da passagem de ano, com casa cheia. Bom sinal, principalmente para um hotel que abre em plena pandemia e que se vê obrigado a fechar quando as máquinas ainda estavam a aquecer.
Agora, em pleno, o empreendimento de Rodrigo Herédia, o antigo campeão de surf que desde há uns anos para cá se tornou também o campeão dos empreendimentos de sucesso em São Miguel, está aberto a todos os que queiram uns dias de descanso, numa espécie de bolha anti pandemia.
O portão abre-se para o empreendimento e a porta abre-se para uma villa com decoração simples, feita de brancos e madeira, para que nada interfira com a vista que se tem assim que se as cortinas para o lado. As villas são todas envidraçadas e é fácil perceber porquê: o hotel fica na baía de Santa Cruz, no sul da ilha de São Miguel, mesmo em frente ao mar e ao lado de campos que de tão verdes parecem terem filtro de Instagram.
Os quartos estão equipados com uma casa de banho que podia ser um T0 em Lisboa, e ainda um chuveiro no exterior —isso sim a lembrar os alojamentos de Bali.
Além da zona de quarto, há um espaço com sofá e televisão e uma kitchenette equipada com o essencial. Lá fora, um terraço e, se tiver a sorte de ficar numa das villas com piscina, está lá um quadrado de água aquecida a 28 graus só para si. Mas caso não fique, não se preocupe, há uma piscina de água salgada e ainda um jacuzzi para uso comum.
O espaço conta ainda com um mini ginásio —apenas com passadeira, bicicleta e alguns pesos — e um spa, com serviço de massagens feitas por marcação.
O restaurante é pensado apenas para os hóspedes, com opções de carne, peixe e vegetarianas — ainda que a única opção vegetariana da carta não esteja disponível porque é esparguete de curgete e "devido à fraca procura", ainda não têm a máquina de espiralizar, explicam-nos. Hum, ok. Venha daí o lírio com legumes e batata assada que se é para comer peixe, que seja nos Açores.
É ao restaurante que voltamos no dia seguinte para o pequeno-almoço e querem saber a que horas? 11h30! Finalmente, um sítio que sabe respeitar os horários das férias e permitem que a primeira refeição do ano seja tomada em modo brunch, até ao meio dia. A mesa é posta com os produtos essenciais, aos quais se podem juntar os extras como sumos de fruta, iogurtes, cereais, ovos ou panquecas. Ponto positivo para o ananás bem docinho e para a manteiga da ilha, ponto negativo para um flagelo da maioria dos pequenos-almoços de hotel: o pão congelado. Ainda por cima em época baixa, não custava nada ir à mercearia da rua de cima buscar um pão do dia. Mas pronto, vem quente e estaladiço e é servido por uma das equipas mais simpáticas de que nos lembramos de ver num hotel.
Têm boas sugestões, estão preparados com a resposta certa, antecipam as necessidades, isto sem nunca serem chatos. Um equilíbrio difícil, mas não impossível para quem conseguiu construir um paraíso em cima de outro.
* A MAGG ficou alojada a convite do Sul Villas & Spa