Desde 12 de junho de 2023 que há uma zebra em pleno Algarve. O mais recente projeto do chef Diogo Martins é descrito pelo mesmo como "um italiano com uma visão diferente do que é normal". Este restaurante pet-friendly fica mesmo no centro de Faro e acaba de disponibilizar o novo menu, que é alterado sazonalmente.
"O italiano é uma cozinha mediterrânea muito importante e dá para fazer uma fusão gira com os produtos e as receitas do Algarve", crê o cozinheiro. E porquê este nome? "Cada risca da zebra tem um ADN diferente e nós somos dois sócios completamente diferentes, com visões distintas", justifica Diogo, mencionando o parceiro, Jaime.
Apesar do preto e branco do mamífero (estampado, por exemplo, nas almofadas), é o rosa que sobressai. Do forno a lenha às sanitas, tudo é desta cor. Enquanto comemos podemos fazer uma espécie de safari virtual, graças aos ecrãs que vão transmitindo vídeos de animais selvagens — por isso, não se espante quando houver um macaco a lambuzar-se com a sua pasta.
O Zebra segue um conceito de partilha. Esta cantina italiana que só serve jantares tem os pratos clássicos, mas sempre com um twist. O tiramisù, por exemplo, "leva a base clássica italiana, mas depois brincamos um bocado com amêndoa e alfarroba para lembrar o Algarve", refere o chef.
A nossa viagem gastronómica começou com o couvert, com a dupla estaladiça, composta por focaccia e gressinos caseiros, azeite de oliva do Alentejo, balsâmico reduzido e uma gulosa manteiga fumada com carvão de coco (3,25€). De seguida, o chef decidiu servir-nos as "entradas icónicas" do espaço.
Ao som de António Zambujo, saboreámos a straciatella com óleo de cabeça de gamba da costa, presunto trufado, gema de ovo curada, gamba da costa marinada com lima e laranja do Algarve, farofa de alho crocante e rebentos de coentros (16€), uma sugestão deliciosa e repleta de detalhes que fazem efetivamente a diferença.
O carpaccio de lombo foi diferente de todos os que já provámos. A explosão de sabores é criada através de uvas grelhadas com balsâmico, pickles de mostarda dijon, agrião, pickles e óleo de cebolinho, azeite, molho de rábano picante, rúcula e espinafres (17€).
Seguia-se a maravilhosa burrata com gaspacho de morango, gel de yuzu, amêndoa caramelizada, manjericão roxo e verde, tomate cherry com pesto, aneto, e ciobata com picante de togarashi (15€). "Este prato representa as viagens que eu fiz, a minha experiência asiática. Quis fundir as culturas", apresentou o chef.
Como pratos principais, provámos a lula algarvia, com risotto negro, choco grelhado, piso de ervas, tapioca crocante e rebentos de coentros (25€) e a caccio e pepe, com spaghettoni fumado, parmesão, ovas, pecorino, lima, tártaro de gamba e cinco tipos de pimenta (16€), um dos nossos favoritos de toda a refeição.
"O gnochi com ragu de porco preto teve uma adesão tão grande que acabámos por o colocar na carta", disse Diogo Martins, sobre o feedback positivo após o festival gastronómico Arrebita. "Cozinhado até 10 horas para a carne se desfazer", leva enchidos do Barrocal, batata doce de Aljezur, pickles de mostarda, parmesão e avelãs "para lhe dar alguma crocância".
No Zebra há cinco tipos de pinsa romana desde 13€, como a de pepperoni, com salame, mozarela, salada fresca e malagueta (15€), cuja massa fermenta entre 24 a 48 horas e que devia ser de consumo obrigatório. No departamento das sobremesas (desde 7,50€) há tarte de limão e tiramisù.
Mas também pode escolher o chocolate negro, "um bolo de chocolate e café inspirado na zona de Tenerina, sem farinha, com caramelo salgado de gengibre, calda de café, avelãs caramelizadas e gelado e ganache de maracujá", tal como Diogo Martins apresenta.
Porém, foi a rabanada a que nos roubou o coração. Com brioche corado, doce de leite caseiro, framboesa, groselha, ganache de frutos vermelhos, pistáchios e sorbet de limão (7,50€), é bastante doce, mas com a amargura certa para não se tornar enjoativa. É uma das mais pedidas.
Com 30 lugares no interior e outros 30 na esplanada, o Zebra tem sido visitado por um "público muito português e local", apesar de estar inserido numa região tão turística. "O estrangeiro tem estado a aparecer agora", disse-nos o chef, cujo projeto passa também pela sustentabilidade.
"Queremos ajudar os produtores locais", assegura, estando a preparar-se para começar a produzir alguns alimentos, como ervas, num terreno que possui no Alentejo, com o objetivo de "ser auto-sustentável" e de servir "produtos mais biológicos".
Atualmente, encontra-se a dar uma reviravolta na vertente de bar do Zebra, numa sala à parte, onde será feita magia com vermutes, lambruscos, limoncello e, claro, aperol. "Vamos fazer uma carta mais simples e fresca para o verão, com alguns twists italianos. O bar é o complemento para tudo o resto", refere Diogo Martins.
A nossa experiência no Zebra foi irrepreensível. Já conseguimos imaginar-nos, no final de um dia passado na praia, a passarmos o serão na esplanada deste spot algarvio, que vai apaixonar não só os amantes de gastronomia italiana como os vizinhos sortudos por o serem.