Já reparou que a palavra “lactose” está por todo o lado, das prateleiras dos supermercados ao menu de muitos restaurantes? A explicação é simples. Estima-se que cerca de um terço da população portuguesa seja afetada por esta condição que, apesar de não ser grave, causa algum desconforto na vida social e hábitos de vida, já que a prevenção ou o tratamento se traduzem na redução ou eliminação total da ingestão de lactose.

A lactose encontra-se presente no leite e seus derivados (manteiga, queijos e iogurtes). No entanto, pode ser encontrada como parte integrante de outros alimentos, tais como pão, bolos, bolachas, gelados, molhos, chocolates, refeições prontas, condimentos, patês e até mesmo medicamentos. Por este motivo, um dos cuidados essenciais para quem tem intolerância à lactose passa pela leitura dos rótulos dos alimentos, para que se verifique uma eventual presença desta. Hoje é cada vez mais fácil encontrar no mercado produtos sem lactose, inclusivamente lácteos,  o que permite o seu consumo sem consequências para as pessoas com intolerância.

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Vamos à origem da questão, com a ajuda da nutricionista Inês Soares. Mas antes, clarifiquemos: o que é, afinal, a lactose? É um hidrato de carbono simples, tratando-se mais concretamente do açúcar naturalmente presente no leite de todos os mamíferos. Quando a ingerimos, para ser absorvida pela nossa corrente sanguínea, é necessário que, no intestino, a enzima lactase – produzida na mucosa intestinal –  divida a lactose em dois compostos mais simples (a glicose e a galactose) para que nos seja fornecida energia.

A intolerância à lactose define-se como a incapacidade parcial ou total do nosso organismo de digerir a lactose. Esta condição ocorre precisamente devido à falta ou deficiência da lactase. Esta enzima encontra-se na zona superficial do intestino, que está mais sujeita às alterações que ocorrem na mucosa intestinal, sendo por isso possível que deixe de ser produzida por um determinado período de tempo, até que exista a total recuperação da mucosa intestinal. Mas também é possível que o organismo deixe de produzir a enzima permanentemente, caso a lesão na mucosa seja irreversível.

Segundo a nutricionista, podem então definir-se dois tipos de intolerância à lactose: a  primária e a secundária. “A intolerância à lactose primária define-se por uma situação permanente, que se determina geneticamente, e que evolui ao longo do tempo com a diminuição da produção da enzima lactase desde a infância até à idade adulta. Já a intolerância à lactose secundária trata-se de uma condição temporária, por redução da atividade da lactase, que se origina como consequência de doenças ou lesões que afetam a mucosa intestinal”, explica. O que acontece se a intolerância for uma situação temporária? “Assim que a doença ou a lesão na mucosa intestinal seja reparada, a atividade da lactase é normalizada.”, afirma Inês Soares. Contudo, se a lesão na mucosa intestinal for irreversível, a enzima deixa de ser produzida e esta condição faz com que a lactose não seja digerida. “Ou seja, se a lactose não for dividida pela enzima lactase vai permanecer inteira no nosso intestino, causando sintomas que variam de acordo com o grau de insuficiência, tais como o desconforto abdominal, náuseas, dor, flatulência, diarreia e/ou inchaço na zona abdominal”, acrescenta.

Um intolerante à lactose pode consumir alimentos com lactose, desde que não abuse? A resposta é sim. Dependendo do grau de intolerância, uma pessoa pode tolerar entre 1 a 12g de lactose diárias, ingeridas preferencialmente de forma espaçada ao longo do dia.

Para que a intolerância à lactose seja diagnosticada, usa-se frequentemente o teste respiratório de hidrogénio, sendo este o método de diagnóstico mais fácil e fiável. Basicamente, pela análise da concentração em hidrogénio no ar expirado após a ingestão do açúcar é possível saber se o indivíduo testado tem digestão normal ou anormal desse açúcar.

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Se suspeitar que é portador desta condição deve procurar um nutricionista, que poderá confirmar o diagnóstico e ajudá-lo a modificar os seus hábitos alimentares de forma a conseguir manter uma alimentação variada, equilibrada e completa, que garanta o seu bem-estar e a sua saúde, sem que venha a sofrer de qualquer tipo de carências alimentares.

Porque a intolerância à lactose significa fazer mudanças no estilo de vida, a nutricionista Inês Soares deixa alguns conselhos práticos:

  • Ler sempre o rótulo dos alimentos, para que possa verificar se têm na sua constituição lactose ou ingredientes com lactose;
  • Se quiser alternativas ao leite, existem variedades sem lactose ou outras  opções como as bebidas vegetais de arroz, aveia, amêndoa, coco, caju, avelã ou soja que não contêm lactose na sua composição;
  • Optar por alternativas ao tradicional iogurte, como os iogurtes sem lactose, no caso de ter uma intolerância severa. O iogurte tradicional tem menos lactose do que o leite e é, por isso, muitas vezes bem tolerado por pessoas com uma intolerância baixa ou moderada. No entanto, se tiver um elevado grau de intolerância, pode optar pelos iogurtes sem lactose, que asseguram todo o sabor e propriedades das variedades tradicionais mas com a remoção deste açúcar, ou iogurtes de origem vegetal, tais como os iogurtes de coco ou soja.
  • Procurar a ajuda de um nutricionista para que o possa ajudar a melhorar os hábitos alimentares e a fazer melhor escolhas alimentares;
  • No caso de comer muitas vezes fora de casa, pode levar refeições previamente preparadas ou perguntar, no local, se na confeção dos produtos alimentares foram usados lacticínios e/ou derivados;
  • Na lista dos ingredientes, deve estar atento a termos tais como, “soro de leite”, “coalho”, “derivados do leite”, “leite em pó”, já que que significam que o produto alimentar final contém lactose;
  • Adaptar receitas tradicionais para novas receitas sem lactose.

Neste caso, a melhor forma de resolver o problema é aprender a conviver com ele, de forma a levar uma vida normal.

*Artigo publicado originalmente em 2018 e atualizado a 8 de novembro de 2022.