No Casela Nature & Leisure Park, nas Maurícias, os visitantes têm a oportunidade "única" de entrar dentro da jaula dos leões e tirar uma fotografia ao lado deles. A cada dez minutos, um pequeno grupo de pessoas entra no gradeamento e posiciona-se estrategicamente ao lado do leão ou leoa. Uns preferem estar sozinhos, outros não se importam que o tratador apareça na foto. Todos eles estão tão nervosos como entusiasmados — e mal podem esperar para colocar aquela fotografia online.
Esta foi uma história que ninguém me contou. Vi isto acontecer na frente dos meus olhos em março de 2016. Cá fora, três guardas posavam para os turistas rodeados por leões. As pessoas mal queriam acreditar naquilo que viam: a maior fera da selva estava ali, sem uma única grade a separá-los. O homem tinha finalmente domado o leão.
Fiquei mais de dez minutos a olhar para aqueles leões. Durante um terço desse tempo, tentei simplesmente perceber se estavam vivos. Os animais respiravam com tanta dificuldade e de forma tão espaçada que, por uns momentos, achei que seria impossível não estarem mortos. Ou serem feitos de cera.
Lenta e vagarosamente, uma das leoas inclinou a cabeça para cima. Não vou dizer que os nossos olhares se cruzaram — não é verdade, ela estava de tal forma drogada que duvido que tivesse sequer consciência de que estava ali alguém. Os olhos mal abriam, mas o vazio que emanava deles era perturbador. Quase três anos depois, ainda me lembro daquela tristeza profunda como se fosse hoje. Foi, sem sombra de dúvida, uma das coisas mais aterradoras que vi em toda a minha vida.
Parece inacreditável. Numa sociedade cada vez mais obcecada por animais, onde se perdem horas a ver vídeos de pandas a espirrar e se grita a plenos pulmões que se gosta mais de cães ou gatos do que pessoas, a crueldade animal ainda existe. E é perpetuada por experiências turísticas mórbidas que têm como único objetivo impressionar os amigos com uma foto no Instagram.
Há uns meses, tive a oportunidade de fazer um safari e ver leões no seu habitat natural. O olhar perdido da leoa das Maurícias atormentou-me a viagem inteira — a diferença era assustadora. E porquê? Por uma foto? Por meia dúzia de likes?
A desumanidade provocada pelos homens não se cinge ao leões. Em abril de 2016, a morte de um elefante em Angkor, no Camboja, correu o mundo. A fêmea chamava-se Sambo, tinha entre 40 e 45 anos e morreu de ataque cardíaco depois de fazer duas viagens entre Bayon Temple e Bakheng (cerca de dois quilómetros por trajeto).
Nenhum animal merece ser explorado para diversão dos humanos. Mas porque às vezes é difícil compreender a realidade num contexto turístico, a MAGG reuniu 8 experiências com animais que deve mesmo recusar. Por mais pessoas que adiram, por mais que garantam que os animais são felizes, esta é a realidade por detrás da farsa turística.
1. Passeios de elefante
Segundo um relatório da World Animal Protection, divulgado em 2017, três quartos dos elefantes usados por empresas turísticas na Ásia vivem em condições inaceitáveis. Isto inclui estarem acorrentados de dia e de noite, muitas vezes com correntes com menos de três metros. Várias associações já denunciaram também que muitos destes elefantes são raptados quando são bebés, de modo a poderem ser educados desde pequenos a obedecer aos humanos.
E eles fazem tudo: ficam de pé, apoiados apenas nas patas traseiras, ou levam turistas a passear de um ponto ao outro. Estas atividades são antinaturais para os elefantes, e colocam-nos perante elevados níveis de stresse.
2. Interagir com predadores
Tal como nas Maurícias, esta é uma experiência que também existe na Tailândia e África do Sul. Fotos com tigres ou leões fazem as delícias dos turistas, no entanto as associações que lutam pelos direitos dos animais já explicaram como é que isto é possível. As crias são retiradas das mães semanas depois de nascerem, e passam a estar confinadas a gaiolas ou jaulas. A sedação também é frequente, uma vez que é uma forma rápida e prática de manter os animais calmos.
3. Nadar com golfinhos
Espalhado um pouco por todo o mundo, incluindo em Portugal, nadar com golfinhos parece uma experiência única. Infelizmente, é altamente perturbadora para estes mamíferos. Os abraços, beijinhos e toques constantes são stressantes para estes animais, e o resultado de treinos intensos que recorrem muitas vezes à negação de comida. Quando não estão a atuar, os golfinhos passam grande parte do seu tempo em tanques sobrelotados e cheios de químicos.
4. Segurar em animais selvagens
Tirar uma fotografia com um macaco ou uma iguana no ombro parece a oportunidade perfeita de mudar a imagem de perfil. E há até quem pense que está apenas a contribuir para a economia local, uma vez que treinar aqueles animais é o emprego daquelas pessoas. Infelizmente, não é a melhor forma de sustento. Mais uma vez estes animais são retirados das suas famílias quando são apenas bebés, e treinados muitas vezes com recurso à violência.
5. Lembranças de animais selvagens
Os turistas até podem evitar o marfim, uma vez que toda a gente sabe que o seu comércio ilegal significa que os elefantes são mortos apenas pelas suas presas. No entanto, há muitas outras lembranças feitas a partir de animais selvagens, como peles, dentes, chifres e penas. Até a carapaça de tartaruga é uma recordação. Nunca é demais recordar que muitos destes animais são espécies ameaçadas e a sua venda não tem nada de sustentável. A grande maioria é colhida em escala industrial e depois vendida aos artesãos locais. Isto significa que uma concha, por exemplo, pode não ter sido apanhada na praia mas sim escavada das profundezas do oceano — ainda com o molusco vivo lá dentro.
6. Comer animais selvagens
Cangurus, crocodilos, sapos. Há várias partes do mundo onde é habitual comer animais selvagens, em particular na Ásia e em África. Embora seja interessante experimentar alimentos locais, é importante perceber os processos desumanos que estão por detrás destes "costumes". Em África, há muito tempo que comer espécies como os gorilas excedeu a subsistência sustentável. Na Ásia, os tubarões são atirados novamente ao mar depois de lhes removerem as barbatanas. Na China, está a verificar-se uma corrida à caça de predadores como o tigre para fazer o chamado "vinho de tigre", um suposto afrodisíaco feito a partir dos ossos deste animal.
7. Espetáculos com animais selvagens
Cada vez mais raros, infelizmente ainda é possível assistir a espetáculos de entretenimento com macacos a dançar, leões a fazerem truques, orangotangos a praticarem kickboxing e jacarés a lutar. Tudo isto é resultado de coação, além de que estes animais estão muitas vezes confinados a espaços pequenos e sem condições.
8. Passeios de burro
São bastante frequentes em várias partes do mundo. Recentemente, Santorini viu-se obrigada a proibir turistas obesos de andarem de burro, uma vez que o excesso de peso destes estava a provocar sérias lesões nos animais — e um sofrimento inimaginável. Ainda assim, não é por ser-se magro que o passeio deixa de ser um abuso. Segundo as associações de direitos dos animais, os burros passam os dias subir e descer as escadas de pedra que compõem as ruas de Santorini — muitas vezes sem abrigo, descanso ou sequer água.